Folha de S.Paulo

O circo voador

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48 INT. LEITERIA NO CENTRO DA METRÓPOLE 1942 - DIA

Numa LEITERIA, Charlotte lancha com Celavi, Oto e Clara. Celavi está vestido com gravata-borboleta e terno de linho branco sujo, velho e amassado. Os irmãos estão vestidos para sair. Charlotte olha em volta tensa, preocupada em não ser vista com Celavi. Clara se encanta com a história que Celavi conta. Oto está incrédulo.

CELAVI

A Mocinha ia sempre ao circo, para ouvir a música que o Pistonista costumava tocar, só pra ela. Eles nunca se falavam, mas sabiam do amor que um tinha pelo outro. O Pistonista era o melhor pistonista que já existiu dentre todos os pistonista­s. Vinha gente do mundo inteiro para ver ele tocar. E ele ali, tocando só para a Mocinha. Um dia, ninguém nunca soube porque, ela parou de ir ao circo e ele não conseguiu mais tocar o seu piston...

OTO Acabou?

CELAVI (a Charlotte) Quer ir embora?

Com uma negativa de cabeça, Charlotte sorri gentil para Celavi, que toma fôlego para continuar a narração.

CLARA

Celavi, essa história vai terminar mal?

CELAVI

Sem o Pistonista tocar, as pessoas começaram a faltar nas arquibanca­das. O dono do lugar implorava para que ele tocasse, mas aí já não havia mais ninguém na plateia… Bom, quase ninguém. E então trazendo o piston aos lábios, ele tocou uma nota de um só fôlego… de um só fôlego na mesma nota. Aí a plateia voltou a lotar. Mas então um vento estranho começou a soprar e se transformo­u num furacão. Enquanto ele soprava o piston, os instrument­os da bandinha começaram a voar pelo circo afora e as pessoas pareciam passarinho­s carregadas pelo vento. Aí a lona do circo se transformo­u nas asas de uma imensa ave noturna e levou tudo para o céu. Palhaços, elefantes, acrobatas, leões, mágicos chineses, bailarinas, tudo... Foi tudo embora com a ventania da imensa ave que se chamava Albergália.

CLARA Alb... o quê?

CELAVI Albergália.

OTO

E o circo acabou?

Ao ver que Charlotte pede a conta, Celavi tira do bolso, sem que ninguém perceba, um envelope e de dentro do envelope algo que deixa em seu prato.

CLARA

Agora conta aquela do elefante que perdeu a tromba, conta, conta, vai.

OTO

Clara, essa história não é para menina.

O GARÇON DA LEITERIA se aproxima com a conta, quando Celavi grita escandaliz­ado com o que vê e exibe em seu prato, uma BARATA MORTA de pernas para cima. O garçon não sabe o que fazer, mas logo chega o GERENTE DA LEITERIA que, ao ver a barata morta no prato, rasga a conta da mesa com gestos de desculpa e desconfian­ça.

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