Folha de S.Paulo

Onde está a verdade?

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Prefiro o autêntico quando ele é bom. Tem vinhos feitos pelos métodos mais complicado­s, totalmente pré-tecnológic­os, como se supõe eram produzidos num passado imaginado mais do que real, tudo de acordo com vagas pesquisas e intuições, quanto mais tosco melhor, que devia ser o grande barato dos antepassad­os. Claro, imbebíveis.

Na mesma linha da “cozinha como era antes”, tive um livro de receitas editado pelo Museu Britânico, um volume divertido, gostaria de reencontrá-lo, perdido numa mudança. Era feito a sério, por especialis­tas do museu, mas para o cozinheiro atual, adaptado com os ingredient­es disponívei­s na nossa época, mas o mais fiel possível ao que foi a cozinha do Egito dos faraós, do império romano, da idade média inglesa e assim até a era vitoriana.

Tentei algumas coisas, tudo era ruim, sem graça, apenas para o sentimento de entrarmos numa máquina do tempo.

Basta lembrar que o tomate só chegou à Itália depois de Colombo à América. E uma lista de produtos imensa também é posterior, para nós, ao século 15, milho, chocolate, batata... só naquela altura alcançaram a mesa europeia. Não haveria pizza sem as culturas americanas pré-hispânicas, chique dizer isso não? E pura verdade.

O europeu, antes destas delícias, comia tubérculos, pães pesados, e tinha algumas alucinaçõe­s com o esporão-do-centeio, fungo que embolorava os grãos, efeito lisérgico frequentem­ente fatal, uma espécie de doideira do pão. Comiam umas raízes meio tristes, uns matinhos estilo pancs, e, os mais poderosos, alguma carne de caça ou criação.

Além desta comida desanimado­ra, ainda se intoxicava­m com os seus utensílios de cozinha e mesa feitos de estanho com chumbo. Quer dizer, comer como os ancestrais

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