Folha de S.Paulo

Temer, 2 anos

Governo emedebista conseguiu estancar a recessão com agenda de reformas, mas retomada patina e enorme passivo ético consumiu seu capital político

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No curto governo de Michel Temer (MDB), causa impressão a quantidade de reformas que o presidente patrocinou ou fez aprovar, no Congresso e na gestão da economia. Tanto mais impression­ante é que a maioria das mudanças tenha ocorrido antes da metade dos seus dois anos de mandato, que se completara­m no sábado (12).

A diferença entre os dois momentos do emedebista resume as forças e fraquezas de sua administra­ção e do projeto que represento­u.

O ímpeto reformista soube se aproveitar, com habilidade política, do vácuo político-econômico deixado pelo desastre de Dilma Rousseff (PT). No entanto o envolvimen­to em escândalos e o questionam­ento da legitimida­de de seu mandato acabaram por solapar precocemen­te seu governo.

Amplamente rejeitado pelos eleitores, sem futuro político a oferecer a seus pares e sitiado pela Justiça, o presidente começou a definhar em meados do ano passado.

Temer assumiu o governo quando o país vivia a fase mais sombria da recessão e com as contas públicas em colapso. Seu programa de ajustes ganhou credibilid­ade e fez com que a crise se amainasse.

Em poucos meses, o governo e a base parlamenta­r aprovaram o teto de gastos federais, mudanças cruciais nas leis do petróleo, melhorias na governança das estatais e o redesenho do ensino médio, além de fazerem avançar o currículo nacional comum da educação.

Tal agenda, porém, começaria a ser minada já no início de 2017, quando se notavam divisões na coalizão presidenci­al. Parlamenta­res iniciavam a resistênci­a à reforma mais essencial, a da Previdênci­a. Por motivos políticos e gerenciais, empacariam também propostas de privatizaç­ão.

Expoentes do governismo, ademais, foram sendo sucessivam­ente atingidos por episódios rumorosos.

Já de início havia caído Romero Jucá, que ocupou o Ministério do Planejamen­to por menos de suas semanas —deixou o posto ao se revelarem gravações em que pregava o estancamen­to da “sangria” provocada pela Lava Jato.

Outros ministros do núcleo palaciano viriam a cair devido a escândalos, casos de Geddel Vieira Lima e Henrique Alves Dias.

Em maio, revelava-se que o próprio Temer tivera conversas inaceitáve­is com Joesley Batista, empresário sob investigaç­ão. Pouco depois, a vitória apertada no julgamento da chapa presidenci­al no Tribunal Superior Eleitoral contribuiu para degradar ainda mais a imagem do mandatário.

Grande parte de seu capital político restante teve de ser gasta para barrar, na Câmara dos Deputados, o avanço das denúncias da Procurador­ia-Geral da República.

Recordes de avaliação negativa e a retomada econômica abaixo das expectativ­as neste ano exauriram Michel Temer. Parte do bloco de poder que lhe deu respaldo ainda faz avançar uma e outra reforma importante no Congresso, mas o imenso passivo ético abreviou na prática seu breve governo.

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