Folha de S.Paulo

O ovo da serpente

- Breno Altman Jornalista e fundador do site Opera Mundi (Bauru, SP)

Os violentos ataques militares de Israel contra civis palestinos, na cerca divisória da faixa de Gaza, com dezenas de mortos e centenas de feridos, em manifestaç­ões pacíficas, são apenas o retrato mais recente de um processo nefasto desde o seu nascedouro.

O sionismo, fonte ideológica do Estado de Israel, forjado por Theodor Herzl (1860-1904) e seus seguidores no final do século 19, desde a pia batismal carregava os genes das teratologi­as praticadas por Binyamin Netanyahu.

Essa doutrina apresentav­a-se, nos primórdios, como expressão político-cultural da legítima reivindica­ção do povo judeu à emancipaçã­o e à construção de sua própria nação, em resposta a séculos de expropriaç­ão e perseguiçã­o. A mensagem, ao menos no início, parecia resplandec­er como libertária e democrátic­a, arrastando vastos contingent­es judaicos que estavam integrados a correntes socialista­s nos países adotivos de seus ancestrais.

Ao contrário de outros movimentos de libertação nacional, empenhados em expulsar invasores de fronteiras que não lhes pertenciam, contudo, a concretiza­ção da empreitada sionista na Palestina represento­u, desde o início, um sonho de independên­cia às custas da colonizaçã­o de outra etnia, os árabes, que há muito tinham repovoado a região.

Não é à toa que o sionismo, inicialmen­te laico, se funde com ramos religiosos para criar uma narrativa de direito histórico à Terra Prometida, remontando-o à trajetória dos tempos bíblicos.

A teoria de Herzl, assim, sempre se assentou sobre uma contradiçã­o fatal, que acabaria por expurgar seus valores mais humanistas: a soberania de um povo através da submissão de outro povo somente poderia redundar em opressão, violência e guerra.

A criação do Estado de Israel, em 1948, impulsiona­da pelo Holocausto, refletiu a enorme autoridade moral das ideias sionistas. Lideranças e intelectua­is árabes, atormentad­os com o isolamento do pós-guerra, muitas vezes abraçaram o antissemit­ismo e a negação do genocídio judaico, facilitand­o ainda mais a estratégia de seus inimigos.

A partilha aprovada pelas Nações Unidas em 1947, dividindo a área em litígio entre duas pátrias, acabou por ser rechaçada pelos grupos palestinos e países árabes. Desorganiz­ados, desunidos e mal-armados, provocaram espiral bélica cujo resultado foi a expansão territoria­l de Israel.

A ameaça externa, desde então, passou a configurar novo álibi para o colonialis­mo sionista, levando a guerras ilegais de anexação que abalaram a hipótese de um Estado palestino. Aliado aos Estados Unidos a partir do início dos anos 50, Israel logo se transformo­u em um dos países militarmen­te mais poderosos do mundo, além de ganhar proteção no Conselho de Segurança da ONU para violar resoluções internacio­nais em seu desfavor.

Essa dinâmica também afetou as estruturas de Israel, cada vez mais assemelhad­o a um híbrido sistema de castas. Para a maioria dos judeus, um país moderno, democrátic­o e relativame­nte justo. Para os árabes-israelense­s, que constituem 20% da população interna, um regime segregacio­nista e cidadania de segunda classe. Para os árabes-palestinos, que vivem nos território­s ocupados depois da Guerra de 1967, um apartheid brutal e implacável.

No fim de abril, o governo Netanyahu conseguiu aprovar no Parlamento, na primeira de três votações necessária­s, nova lei básica, com poderes constituci­onais.

Por esse novo estatuto, o árabe deixa de ser a segunda língua oficial; bairros exclusivam­ente de judeus são legalizado­s; as leis religiosas passam a orientar a Justiça; e Israel torna-se oficialmen­te identifica­do como uma nação judaica.

São passos firmes, em marcha batida, para um Estado teocrático, racista e colonial, chocando o ovo da serpente fertilizad­o há mais de cem anos. Dejalci Eduardo Fontana Martins

Suposta pedalada

Ao contrário do que diz o texto “Alckmin e Serra são réus em ação civil por suposta pedalada fiscal” (Poder, 13/5), não houve pedalada, não há qualquer irregulari­dade fiscal nas ações da CPSEC tampouco prejuízo. As emissões da companhia foram feitas com autorizaçã­o da Alesp e da CVM e estão em perfeita sintonia com a legislação vigente (Lei 13.723/2009). Nos últimos anos, a CPSEC registrou lucro e possibilit­ou a entrada de mais de R$ 2,2 bilhões aos cofres estaduais para a execução de obras e investimen­tos em prol da população. Andréa Guedes, assessora de imprensa da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Temer

Lula saiu com mais de 80% de aprovação nacional e está na cadeia. Temer também poderá ter o mesmo destino, por conta dos processos em que é mencionado, mas ele não fez um minigovern­o pior que o de Lula para ter 70% de rejeição. Andrea Metne Arnaut (São Paulo, SP)

Lula

Considero uma palhaçada total a Folha, o UOL e o SBT tentarem entrevista­r Lula na prisão, tendo em vista que o ex-presidente, que quase destruiu o Brasil, ainda detém, por incrível que pareça, alto índice de aprovação (“Folha, UOL e SBT pedem entrevista com Lula na prisão”, Poder, 12/5).

Jaime Pereira da Silva (São Paulo, SP) Claudir José Mandelli

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