Folha de S.Paulo

Fora do governo, Temer enfrentará 4 processos

Há contra o presidente dois inquéritos no Supremo e duas denúncias que foram barradas, mas podem ser reativadas

- Letícia Casado e Gustavo Uribe

brasília No primeiro dia do próximo ano, quando descer a rampa do Palácio do Planalto, Michel Temer enfrentará uma nova realidade jurídica. Sem foro especial, ele responderá a, ao menos, quatro processos em diferentes tribunais pelo país.

Contra o presidente, há hoje dois inquéritos que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal) e duas denúncias que foram barradas pela Câmara dos Deputados, no ano passado, mas que podem ser reativadas a pedido do MPF (Ministério Público Federal).

Ele foi denunciado em casos envolvendo a delação premiada da JBS. Em um dos processos, a acusação é de corrupção passiva; em outro, de obstrução à Justiça e participaç­ão em organizaçã­o criminosa.

Esses casos devem seguir para a Justiça Federal do Distrito Federal, onde já tramita uma denúncia contra integrante­s do seu partido por formação de quadrilha. Há outra por fatos ligados à JBS e ao ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures.

Além das denúncias, pesam contra o presidente dois inquéritos que estão em fase de coleta de provas e atualmente tramitam no STF.

Um deles apura se Temer e aliados negociaram com executivos da Odebrecht, em reunião no Palácio do Jaburu, R$ 10 milhões em doações ilícitas de campanha para integrante­s do MDB em 2014.

O outro inquérito investiga se houve ilegalidad­e em decreto assinado em maio de 2017 pelo presidente e que beneficiou empresas do setor portuário. Os rumos da investigaç­ão podem levar o caso a ser remetido à Justiça Federal do Distrito Federal ou de São Paulo. O que há contra Temer e para onde vão as investigaç­ões quando ele perder foro no STF Inquérito dos portos Apura se houve ilegalidad­e em decreto que beneficiou empresas do setor, assinado em maio de 2017 por Temer Jantar no Jaburu

Apura se Temer e aliados negociaram com executivos da Odebrecht em reunião no Palácio do Jaburu, R$ 10 milhões em doações ilícitas de campanha do MDB em 2014

Quadrilhão PMDB Temer é apontado como líder de organizaçã­o criminosa que teria recebido R$ 587 milhões de propina em troca de favorecime­nto a empresas em contratos com Petrobras, Furnas e Caixa

Mala da JBS

Temer é acusado de ser o destinatár­io final de uma mala com propina de R$ 500 mil e de promessa de R$ 38 milhões em vantagem indevida pela JBS Fase processual

Inquérito

No começo de maio, o STF alterou o entendimen­to sobre o foro especial para deputados federais e senadores: o tribunal vai processar e julgar os casos cometidos em função Onde está

STF

• ministro Luís Roberto Barroso do cargo e durante o mandato. Antes, qualquer crime cometido por um parlamenta­r ficava no Supremo.

A mudança não atinge o cargo de presidente, de acordo O que acontece em 2019

Deve seguir para a Justiça Federal do DF ou para a de SP, a depender do desenrolar da investigaç­ão com o entendimen­to da corte até agora. Assim, se Temer assumir um cargo de embaixador ou de ministro em eventual governo de aliado, seus processos continuarã­o tramitando O vaivém do foro especial

Como o tópico tramitou no Supremo nos últimos dias

3.mai

STF restringe a aplicação do foro para deputados federais e senadores; com isso, esses parlamenta­res terão direito a serem julgados pelo Supremo apenas por crimes cometidos durante o mandato e que têm relação com o cargo (por exemplo, um crime de trânsito iria para a primeira instância)

9.mai

O ministro do STF Dias Toffoli envia ofício à presidente da corte, Cármen Lúcia, propondo ampliar a restrição do foro para todas as autoridade­s do Executivo, Legislativ­o e Judiciário, nas esferas federal, estadual e municipal

10.mai

Supremo rejeita ampliar foro especial por improbidad­e administra­tiva, que pode levar à perda do cargo e à suspensão dos direitos políticos

pessoas tem foro privilegia­do, entre juízes, procurador­es, parlamenta­res, prefeitos, governador­es, membros de defensoria­s e Ministério­s Públicos, oficiais das Forças Armadas e o presidente, segundo levantamen­to da Folha no STF, foro de ministros e chefes de missões diplomátic­as.

O emedebista vinha se colocando como possível candidato na corrida presidenci­al, mas, nas últimas semanas, declarou a integrante­s do partido que não deverá se candidatar à reeleição.

Em conversas reservadas, segundo relatos feitos à Folha, o presidente já manifestou preocupaçã­o em ser preso após passar a faixa presidenci­al. O maior receio dele, no entanto, é de que os investigad­ores avancem sobre sua família.

O primeiro golpe sofrido por ele ocorreu no mês passado, quando a Folha revelou que a mulher do coronel João Baptista Filho, amigo do emedebista, pagou em dinheiro vivo obra na casa da filha do presidente Maristela Temer.

Na sequência, a Polícia Federal a convocou a prestar depoimento. Na época, a filha telefonou assustada ao presidente, que fez questão de viajar a São Paulo para dar apoio.

No mesmo mês, a Folha revelou que a Polícia Federal suspeita que o presidente lavou propina em imóveis da família, alguns dos quais em nome de sua mulher, Marcela, e do filho do casal.

De acordo com assessores presidenci­ais, a primeira-dama já reclamou com o presidente sobre a exposição do filho, de apenas 9 anos.

Além do receio jurídico, o presidente já disse a um auxiliar e amigo que não quer deixar o Palácio do Planalto com o risco de ser hostilizad­o em locais públicos. Ele, contudo, na média, é o presidente mais impopular da história desde a redemocrat­ização.

Compilação das mais de 200 pesquisas de avaliação de governo feitas pelo Datafolha nas últimas três décadas mostrou que a média do atual presidente nesses 24 meses é pior até mesmo do que a dos antecessor­es que sofreram impeachmen­t, Dilma Rousseff e Fernando Collor.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil