Folha de S.Paulo

Embaixada dos EUA muda para Jerusalém sob protestos

Abertura ocorre nesta 2ª com reforço de policiamen­to, mas será mais cosmética

- -Loveday Morris e Ruth Eglash The Washington Post, com tradução de Clara Allain

jerusalém Diante do imóvel da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, David Friedman observou, na semana passada, um operário que posicionav­a na parede uma placa de pedra recém-gravada. Friedman, embaixador americano em Israel, fez uma foto com seu telefone.

Apesar de toda a fanfarra que cerca a abertura da nova em representa­ção nesta segunda-feira (14), a colocação da placa no local, que hoje é um prédio de serviços consulares, é uma das poucas modificaçõ­es imediatas no local.

Segundo um representa­nte dos EUA, a primeira fase envolve a transferên­cia apenas do embaixador e seu corpo de funcionári­os principal —menos de meia dúzia de pessoas— de Tel Aviv a Jerusalém.

Essa primeira transferên­cia, que incluiu modificaçõ­es ao prédio e segurança adicional como a construção de um muro, custou US$ 400 mil, segundo outro funcionári­o dos EUA.

Mas a mudança é um gesto profundame­nte simbólico que subverte a política seguida pelos EUA durante décadas de não reconhecer Jerusalém como capital de Israel enquanto o status final da cidade disputada não for decidido em um acordo de paz negociado entre israelense­s e palestinos.

Estão previstos para comparecer à abertura cerca de 700 convidados, em sua maioria americanos. Apenas Paraguai e Guatemala seguiram a decisão de Donald Trump.

O genro do presidente, Jared Kushner, e sua mulher Ivanka chefiam a delegação americana, ao lado do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e do enviado americano de paz no Oriente Médio, Jason Greenblatt.

Neste domingo (13), o premiê Binyamin Netanyahu recebeu o casal e agradeceu Trump pelo reconhecim­ento.

Israel reforça policiamen­to e se prepara para encarar protestos contra a inauguraçã­o da embaixada, que acontecerá um dia antes de os palestinos marcarem o aniversári­o da Nakba, ou “catástrofe”, como chama a criação do Estado israelense em 1948.

Autoridade­s palestinas exortaram diplomatas, representa­ntes religiosos e organizaçõ­es da sociedade civil a boicotar a cerimônia de abertura, descrevend­o a mudança como ilegal e um golpe desferido contra a paz.

O edifício de pedra amarela no número 14 da rua David Flusser foi inaugurado em 2010. Trata-se de um prédio moderno e ecológico onde são prestados serviços como renovações de passaporte­s de cidadãos americanos e recebidos pedidos de visto.

O bairro de Arnona, onde a nova embaixada se situa, esteve na linha de frente da guerra israelo-árabe de 1948.

O presidente Trump tinha dito que reduziu o custo da nova embaixada do valor estimado de US$ 1 bilhão para US$ 250 mil. Mas, no final de abril, afirmou que havia orçado a obra de US$ 300 mil a US$ 400 mil.

Esse custo, contudo, não cobre a transferên­cia de uma dúzia de outros funcionári­os previstos para começarem a trabalhar no local ao longo dos próximos 12 meses, nem da ampliação do prédio para criar espaço para eles.

A embaixada em Tel Aviv tem 850 funcionári­os. Ainda não foi decidido se a representa­ção final dos EUA ficará em Arnona.

Enquanto isso, o exército israelense se prepara para novos protestos na cerca que separa Israel da Faixa de Gaza.

Tropas israelense­s já mataram dezenas de manifestan­tes a tiros na fronteira durante uma “marcha de retorno” de seis semanas para protestar contra a perda de território palestino. A marcha está prevista para chegar ao auge no dia da Nakba, a terça (15).

Segundo um representa­nte da polícia, Mickey Rosenfeld, a polícia se prepara para enfrentar possível turbulênci­a.

A chegada da embaixada dos EUA é recebida com ambiguidad­e pelos vizinhos. Um grupo de 20 moradores, apoiados por uma entidade de esquerda, tentou sem sucesso barrar a mudança na Justiça. “Meu marido acha que há um problema potencial de segurança, que isso vai deixar a área mais vulnerável”, falou Shira Hasson, 38.

Bracha Meyer, 65, ouviu o que ela dizia e a interrompe­u. “Você deveria parar de reclamar. Devia agradecer a Deus que Jerusalém está sendo reconhecid­a como capital de Israel”, opinou.

“Vai bloquear que vista? Vai nos impedir de olhar os árabes? Há tantos árabes e vagabundos deitados na grama”, disse ela, que acredita que a transferên­cia da embaixada dos Estados Unidos estava prevista numa profecia — opinião expressa por alguns judeus e cristãos evangélico­s. “O messias está diante da nossa porta”, disse.

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Acima, enfermeiro usa celular durante blecaute em Rubio; abaixo, tuberculos­o é atendido em Caracas
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Meridith Kohut - 20.fev.2018/The New York Times
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Menahen Kahana e Mahmoud Hams/AFP No domingo, judeus comemoram o Dia de Jerusalém (alto) e palestinos protestara­m em Gaza
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