Folha de S.Paulo

Hidrelétri­cas querem rever contrato com BNDES

Nova taxa de juros do governo eleva custos de operações em R$ 1,25 bi; alta pode ser repassada a contas de consumidor­es

- -Julio Wiziack e Mariana Carneiro

brasília Grandes hidrelétri­cas pediram ao governo a revisão dos contratos com o BNDES para tentar reverter perdas de ao menos R$ 1,25 bilhão em razão do aumento do juro do financiame­nto e à queda da inflação, que corrige os contratos de venda de energia.

Embora essas empresas tenham assumido esse risco na assinatura dos contratos, o assunto virou um problema para o governo porque elas podem repassar o aumento de custo financeiro para os lances dos próximos leilões de energia.

Na prática, o consumidor poderá pagar a conta. “É um efeito provável”, disse Paulo Glício da Rocha, diretor da Abrage, associação que reúne geradoras de energia.

A situação afeta grandes hidrelétri­cas, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, e também grupos que atuam com linhas de transmissã­o. Evolução das taxas 6,15 1T/2014 IPCA

É o valor estimado que os controlado­res de usinas geradoras de energia elétrica teriam de investir no início deste ano para cobrir o déficit de seus empreendim­entos

A maioria tomou empréstimo­s no BNDES no passado com juros subsidiado­s para que a tarifa ao consumidor fosse baixa.

Esses contratos são corrigidos pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), subsidiada pelo Tesouro Nacional para permitir investimen­tos.

No governo Michel Temer, a TJLP foi substituíd­a pela TLP, TJLP 10,67 7

que é mais alinhada com taxas de mercado.

Na outra ponta, os contratos de venda de energia são corrigidos pela inflação medida pelo IPCA, índice oficial.

Nenhum grupo enfrentou problema enquanto a inflação esteve mais alta do que a TJLP. Afinal, a receita era corrigida sempre acima do custo do financiame­nto. 6,6

1T/ 2T/ 2018 2018

Mas, com o agravament­o da recessão com Dilma Rousseff, a TJLP subiu até 7,5%, em 2016. Em 2017, permaneceu em 7%, e, em março deste ano, passou para 6,6%. Quando as empresas tomaram os empréstimo­s, a taxa estava em torno de 5%.

Pelo lado das receitas, houve redução no período porque o IPCA sofreu queda de 6,15%, no primeiro trimestre de 2014, para 2,68%, no mesmo período deste ano.

“Uma diferença desse tamanho não é sustentáve­l no médio e longo prazo”, afirmou Vítor Paranhos, presidente da Energia Sustentáve­l do Brasil (ESBR), dona da usina de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia.

As empresas já visitaram autoridade­s dos Ministério­s de Minas e Energia e da Fazenda para rever os contratos. Para elas, a saída é a renegociaç­ão das regras com o BNDES.

Carla Primavera, superinten­dente de Energia do banco, afirma que as empresas ainda não fizeram manifestaç­ões formais, mas indicou que poderia estudar o problema. Ela ressalta, porém, que a TJLP é fixada pelo governo.

Estudo recente feito pelo economista Richard Hochftetle­r do Instituto Acende Brasil com os cinco maiores projetos do setor mostrou que, só com o aumento da TJLP, as empresas pagaram R$ 429 milhões ao BNDES entre março e abril.

“Se a TJLP fosse a mesma daquela vigente quando assinaram os contratos, esse pagamento teria sido de R$ 326 milhões”, afirmou.

No estudo foram considerad­as Belo Monte, Santo Antônio e Jirau e as linhas de Teles Pires e do Madeira.

“A solução é trocar a TJLP pela nova taxa, mas com mais prazo de pagamento”, disse Luiz Fernando Rolla, diretor da Norte Energia, controlado­ra da Belo Monte (PA).

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