Governador enaltece mãe PM que matou bandido e contraria estratégia da polícia
Pesquisa Datafolha em abril mostrou que 13% dos brasileiros consideram a violência o principal problema do país, na terceira posição, empatada com desemprego.
“Existe uma tendência, até pelo quadro de competição eleitoral, à disputa pela retórica da política de segurança. É o que se vê, por exemplo, também no caso do [Jair] Bolsonaro [candidato à Presidência]”, afirma André Zanetic, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
“Ele [França] incentiva a ação policial como algo válido ou legítimo e tem como razão a disputa eleitoral, não a segurança pública”, afirma.
Rafael Alcadipani, professor da FGV, considerou a homenagem feita pelo governador como “populista e irresponsável”. “Sabemos que a liderança afeta a tropa. Ao incentivar a ação, ele coloca os policiais em risco”, diz.
“Com a homenagem, incentiva que policiais reajam mais. Não se deve dar flores e medalhas em ação com mortes. A PM salva vidas todos os dias e não ganha medalha por isso. É um incentivo completamente errado.”
Alcadipani e outros especialistas ressalvam que a crítica não é para a reação da cabo. Apesar da presença de crianças e outras mães, ele avalia que a policial “não tinha muita opção, porque podia ter sido executada caso o rapaz descobrisse que ela é policial”.
A cabo explicou sua atitude após ser homenageada. “A minha preocupação, no momento, foi que a minha intervenção fosse de maneira mais próxima a ele [ladrão] para que não houvesse risco de machucar outras pessoas, porque havia crianças correndo.”
Em março, um casal da PM de Santa Catarina foi baleado em uma pizzaria de Natal, durante tentativa de assalto. Houve luta corporal com o bandido, e a policial morreu.
“Você não parabeniza alguém pela morte de outra pessoa, ainda mais no caso de uma tropa com muitos problemas de letalidade policial e que vem afirmando que tentará reduzi-la. Há um confronto de mensagens entre o governador e a PM”, afirma Samira Bueno, que é diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“A recomendação da polícia é sempre para não reagir. Cerca de 70% dos policiais morrem fora de serviço em situações exatamente como essa. A policial deu sorte, já que em geral o que acontece é que o policial saia ferido ou morra.”
Para Zanetic, a homenagem feita pelo governador “remete à premiação por bravura que existiu no Rio, a chamada gratificação faroeste, criada no governo Marcello Alencar (PSDB) em 1995, dada ao policial que tivesse ações letais em maior volume”.
O assaltante já havia sido preso por roubo, roubo de veículo, receptação, organização criminosa e ocultação de cadáver, segundo o Fantástico, da TV Globo. A Secretaria da Segurança Pública não respondeu se a PM terá proteção.
—para começar, ela quis proteger a própria filha. Mas a corporação teme a naturalização desse tipo de violência.
O governador não pensou nisso, ainda que tenha lamentado a morte do bandido. Mais, ao amplificar a ação de Katia ele busca identificarse com um sentimento difuso de insegurança na sociedade.
Pesquisa do Datafolha em 2017 indicou que 60% dos brasileiros têm medo de sair à noite, e a promessa de restauração da ordem por meio da força é um dos pilares da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL), que ponteia a corrida eleitoral no cenário sem Lula.
Naturalmente, Katia é uma policial com treinamento que foi de eficácia ímpar, mas para o cidadão que assume o discurso sobre a necessidade de armar a sociedade a fim de reagir e matar bandidos, as fotografias se confundem.
França viu nisso uma janela para buscar vitaminar suas intenções de voto, na casa de 8% segundo o mesmo Datafolha. Fora de seu cálculo, contudo, estão os 35% de entrevistados em 2017 que temem também a polícia. 2.202 2.332
No primeiro trimestre de 2018, o número de mortos pelas polícias em SP (197) caiu 17% em relação a 2017 (238). Já o número de policiais mortos cresceu 88% (de 9 para 17) 107 89 655 540 Quarenta e sete policiais militares já morreram no Rio de Janeiro em 2018. O cenário é agravado por atrasos de salários (que levam os policiais a fazerem bicos e se colocarem em situações de risco) 106 108 100 98 135 134 419 416 3.146 3.330 91 66 584 645 4.222 80 5.012 60