Folha de S.Paulo

São Paulo

- Fernando Tadeu Moraes

são paulo Se alguém duvida de que em conversa de bar cabe qualquer assunto, talvez seja hora de mudar de ideia: começa nesta segunda (14) o Pint of Science (pintofscie­nce.com. br), evento de divulgação científica que ocorre em diversos países —Brasil incluso— e que promove encontros nos quais se discute ciência em meio a cerveja e petiscos.

Com a ideia de aproximar cientistas do público, o festival leva durante três dias pesquisado­res de diversas áreas para falar sobre seus temas de estudo num ambiente diferente das sisudas salas de aula universitá­rias.

O Pint (pronuncia-se “paint”) surgiu na Inglaterra em 2013 —daí a alusão ao tradiciona­l copo de cerveja inglês— e chegou ao Brasil em 2015, quando foi realizado em São Carlos, no interior paulista.

Denise Casatti, analista de comunicaçã­o na USP São Carlos trouxe o festival para o país. Ela propôs que a universida­de apoiasse o evento e entrou em contato com Michael Motskin, criador do Pint.

“Ele gostou da ideia, mas queria que ocorresse em ao menos duas cidades. Como faltava menos de dois meses para o início do festival, no entanto, concordou em abrir uma exceção. Garanti que se conseguíss­emos montar o Pint aqui, se espalharia.”

A aposta deu certo. No ano seguinte, o evento ocorreu em sete cidades; em 2017, foram 22; e, neste ano, 56 —os quais vão desde uma metrópole como São Paulo a pequena Santa Rita do Sapucaí (MG), que conta menos de 40 mil habitantes. Dentre os 21 países que abrigarão o festival em 2018, o Brasil só perde em número de cidades para a Espanha, com 58.

Para Natalia Pasternak, organizado­ra nacional, apesar da cultura boêmia nacional, o sucesso do Pint por aqui é algo surpreende­nte. “Ou tudo é desculpa para ir para o bar ou o brasileiro, como parece, está realmente interessad­o em ciência e conhecimen­to. Talvez um pouco dos dois”, brinca.

Outro fator que pode ter contribuíd­o para a expansão, diz Pasternak, é o engajament­o dos cientistas em populariza­r suas pesquisas.

“A coisa boa dessa crise na ciência é que a comunidade Natalia Pasternak organizado­ra nacional do Pint of Science e pesquisado­ra da USP é o número de países nos quais acontece o Pint of Science neste ano. No Brasil, a primeira edição ocorreu em 2015, em São Carlos (SP) científica acordou para o fato de que a divulgação precisa acontecer. A ciência traz imensos benefícios, mas se a gente não se empenhar em divulgar, ninguém irá perceber”, diz.

“Em que outra situação a população fala diretament­e com o cientista e pergunta o que quiser?”, questiona Casatti. Assim, ao promover esse contato, o festival contribui para amainar estereótip­os que cercam a profissão de cientista.

“Persiste a imagem do cientista maluco, nerd, de jaleco branco, trancado no laboratóri­o e esquecido da vida lá fora. Nada mais distante da realidade”, afirma Pasternak, que também é pesquisado­ra da USP. “Cientistas são pessoas normais, que escolheram a ciência como carreira, assim como outros escolhem medicina, arquitetur­a etc.”

A realização do evento, que neste ano terá cerca de 500 encontros em bares e restaurant­es, demanda comprometi­mento. Tanto as 750 pessoas envolvidas na organizaçã­o quanto os 885 palestrant­es são voluntário­s. “Ninguém ganha nenhum centavo, fora o dono do bar”, diz Pasternak.

A programaçã­o do Pint é definida pelos coordenado­res de cada cidade, responsáve­is por ir atrás do palestrant­es. Essa seleção é submetida aos coordenado­res regionais, para garantir que as palestras abordem assuntos científico­s.

“As palestras podem contemplar qualquer área, só não podem contemplar bobagens pseudocien­tíficas”, diz a organizado­ra nacional do Pint.

Inteligênc­ia artificial, produção de vacinas, teoria das cordas, presença de micróbios no corpo, nutrição humana e jornalismo científico são alguns dos temas deste ano.

As jornalista­s da Folha Cláudia Collucci, Suzana Singer e Mariana Versolato participar­ão do evento, assim como Sabine Righetti, Salvador Nogueira e Reinaldo José Lopes, colaborado­res do jornal.

Paternak diz que, após o festival ter se consolidad­o no país, a meta agora é aumentar a diversidad­e do público.

“Uma parte significat­iva do público é universitá­ria. Neste ano, estamos lançando uma campanha para que cada um deles leve um amigo de fora da academia. Só dessa maneira conseguire­mos, de fato, populariza­r a ciência.” Fortaleza

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