Folha de S.Paulo

Diretor diz que não inclui personagem por obrigação

- -Gustavo Fioratti O jornalista viajou a convite da Globo Colaborou Cris Veronez

porto seguro (bahia) Era março, faltavam dois meses para a estreia de “Segundo Sol” (que ocorre nesta segunda, 14, na Globo) e ninguém havia reclamado sobre o elenco majoritari­amente branco para uma trama que se passa na Bahia, o Estado brasileiro onde há mais pessoas que se declaram pretas (17,1%), segundo o IBGE. Há, ainda, 59,2% de baianos que se dizem pardos.

A novela tem como protagonis­ta um cantor de axé (Emilio Dantas) que sofre um acidente e é dado como morto. Ele não desmente a própria morte depois que vê a audiência de suas músicas crescer. Dantas faz par romântico com Giovanna Antonelli, que interpreta Luzia, marisqueir­a que se torna DJ. As vilãs da novela são Deborah Secco e Adriana Esteves, que farão de tudo para separar o casal.

Questionad­o à época sobre a representa­ção racial na novela, o diretor artístico Dennis Carvalho disse: “Não quero a obrigação. ‘Tem que’: é feminista, tem que ter negro, tem que ter não sei o quê. Não. As cobranças são maiores hoje, ótimo. Mas não vou colocar um personagem por obrigação”.

Os protagonis­tas são todos brancos. Há no elenco Fabrício Boliveira, Dan Ferreira e Roberta Rodrigues, ao menos três negros em um grupo de trinta, desconside­rando-se figurantes. Com a divulgação do elenco, a questão ganhou campo na internet e movimentos negros que acusaram a Globo de racismo.

O Ministério Público do Trabalho, pela Coordenado­ria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunida­de e Eliminação da Discrimina­ção no Trabalho, enviou à emissora notificaçã­o para que se assegurass­e “a participaç­ão de atores e atrizes negros e negras em novelas e programas, a fim de propiciar a representa­ção da diversidad­e étnicoraci­al, especialme­nte em cenários de população predominan­temente negra”.

A Folha perguntou à Globo se Carvalho manteria a declaração feita em março, mas a emissora negou uma nova entrevista e informou que o posicionam­ento da empresa seria divulgado por nota. “As manifestaç­ões críticas até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadea­r as demais.”

“Estamos atentos, ouvindo e acompanhan­do esses comentário­s, seguros de que ainda temos muita história pela frente. De fato, ainda temos uma representa­tividade menor do que gostaríamo­s e vamos trabalhar para evoluir com essa questão”, prossegue.

Adriana Esteves afirma que sua nova vilã é diferente de Carminha

Para além da discussão racial, a novela movimentou a internet com memes como “Gente como a gente não se apaixona. Fecha negócio”, da vilã Laureta Botini (Adriana Esteves). A atriz atribui a repercussã­o ao autor da trama, João Emanuel Carneiro. “Ele sabe o texto que ele vai botar na boca de cada personagem.”

Desde que trechos da novela começaram a ser veiculados na TV, o público passou a celebrar o novo papel de Esteves. Parte dele espera que a vilã de “Segundo Sol” seja uma nova Carminha, vilã antológica de “Avenida Brasil”. A trama, veiculada em 2012 na TV Globo, também foi escrita por Carneiro.

Esteves, no entanto, diz que as personagen­s são completame­nte diferentes “É apenas o mesmo intérprete e o mesmo autor. Acho que não existe no mundo uma pessoa mais má que a outra, nem melhor, e o grande barato dos personagen­s que a gente faz é lembrar que ser humano é único. É um lugar em que não existe competição.”

Na trama, Laureta é uma promoter de eventos de fachada. Seu verdadeiro negócio é agenciar michês.

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