Diretor diz que não inclui personagem por obrigação
porto seguro (bahia) Era março, faltavam dois meses para a estreia de “Segundo Sol” (que ocorre nesta segunda, 14, na Globo) e ninguém havia reclamado sobre o elenco majoritariamente branco para uma trama que se passa na Bahia, o Estado brasileiro onde há mais pessoas que se declaram pretas (17,1%), segundo o IBGE. Há, ainda, 59,2% de baianos que se dizem pardos.
A novela tem como protagonista um cantor de axé (Emilio Dantas) que sofre um acidente e é dado como morto. Ele não desmente a própria morte depois que vê a audiência de suas músicas crescer. Dantas faz par romântico com Giovanna Antonelli, que interpreta Luzia, marisqueira que se torna DJ. As vilãs da novela são Deborah Secco e Adriana Esteves, que farão de tudo para separar o casal.
Questionado à época sobre a representação racial na novela, o diretor artístico Dennis Carvalho disse: “Não quero a obrigação. ‘Tem que’: é feminista, tem que ter negro, tem que ter não sei o quê. Não. As cobranças são maiores hoje, ótimo. Mas não vou colocar um personagem por obrigação”.
Os protagonistas são todos brancos. Há no elenco Fabrício Boliveira, Dan Ferreira e Roberta Rodrigues, ao menos três negros em um grupo de trinta, desconsiderando-se figurantes. Com a divulgação do elenco, a questão ganhou campo na internet e movimentos negros que acusaram a Globo de racismo.
O Ministério Público do Trabalho, pela Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho, enviou à emissora notificação para que se assegurasse “a participação de atores e atrizes negros e negras em novelas e programas, a fim de propiciar a representação da diversidade étnicoracial, especialmente em cenários de população predominantemente negra”.
A Folha perguntou à Globo se Carvalho manteria a declaração feita em março, mas a emissora negou uma nova entrevista e informou que o posicionamento da empresa seria divulgado por nota. “As manifestações críticas até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais.”
“Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente. De fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão”, prossegue.
Adriana Esteves afirma que sua nova vilã é diferente de Carminha
Para além da discussão racial, a novela movimentou a internet com memes como “Gente como a gente não se apaixona. Fecha negócio”, da vilã Laureta Botini (Adriana Esteves). A atriz atribui a repercussão ao autor da trama, João Emanuel Carneiro. “Ele sabe o texto que ele vai botar na boca de cada personagem.”
Desde que trechos da novela começaram a ser veiculados na TV, o público passou a celebrar o novo papel de Esteves. Parte dele espera que a vilã de “Segundo Sol” seja uma nova Carminha, vilã antológica de “Avenida Brasil”. A trama, veiculada em 2012 na TV Globo, também foi escrita por Carneiro.
Esteves, no entanto, diz que as personagens são completamente diferentes “É apenas o mesmo intérprete e o mesmo autor. Acho que não existe no mundo uma pessoa mais má que a outra, nem melhor, e o grande barato dos personagens que a gente faz é lembrar que ser humano é único. É um lugar em que não existe competição.”
Na trama, Laureta é uma promoter de eventos de fachada. Seu verdadeiro negócio é agenciar michês.