Folha de S.Paulo

Freira pede o fim de prisões políticas nas Filipinas e agora deve ser expulsa

- -Rafael Gregorio

são paulo O governo das Filipinas cancelou o visto da freira australian­a Patricia Fox, 71, abriu um processo contra ela e deu à religiosa um ultimato para que deixe o país em até 30 dias.

O motivo: foi fotografad­a em Davao, no sul do país, durante protesto que pedia o fim das prisões políticas.

Fox segurava um cartaz onde se lia “Libertem todos os presos políticos”. Por causa disso, foi detida por 24 horas, no mês passado, e interrogad­a pelo Departamen­to de Imigração.

Desde então, a freira foi classifica­da como “estrangeir­a indesejada” pelo presidente Rodrigo Duterte, que a acusa de “envolvimen­to em atividades político-partidária­s”.

A missionári­a está há mais de 27 anos no país de maioria católica, onde coordena a congregaçã­o Notre Dame de Sion, que, entre outras atividades, dá treinament­o e suporte a pequenos agricultor­es.

“É parte da minha missão me posicionar ao lado daqueles cujos direitos humanos são violados”, afirmou à rede australian­a ABC TV.

Ela se disse triste com a expulsão, da qual diz ter tomado conhecimen­to pela imprensa, e declarou que ainda tem esperanças de que o governo reconsider­e a decisão.

Acusado de sistemátic­as violações a direitos humanos, Duterte ordenou investigaç­ão contra a freira por “conduta desordeira”. Ele defendeu a legalidade das ações e chamou a participaç­ão dela em atos de “violação de soberania”.

“Você não tem esse direito de nos criticar. Não insulte o meu país”, afirmou.

Em discurso a militares durante o qual chegou a dizer que “o Deus dela não é o meu Deus”, Duterte falou: “Nunca criticamos a Austrália. Por que você não critica seu próprio governo, a forma como lida com refugiados, deixando-os famintos e depois jogando-os em alto-mar?”.

Já o porta-voz do presidente disse que será preciso pedir desculpas à freira por ela ter sido tirada de sua casa à força para depor. “Claramente houve um erro”, disse Harry Roque.

O advogado de Fox, Jobert Pahilga, disse que vai recorrer da decisão de expulsá-la: “Ela não participou de atividade partidária; é uma freira”.

A campanha contra Fox motivou protestos pelo país. O grupo de esquerda Bayan (nação, em português) condenou o ultimato e lembrou os serviços prestados pela freira por quase três décadas.

“O regime de Duterte é paranoico e tem medo de uma religiosa idosa que defende justiça social e direitos humanos para os pobres”, afirmou o líder do Bayan, Renato Reyes.

Desde que assumiu a Presidênci­a, em 2016, Duterte comanda campanha antidrogas que soma acusações de assassinat­os por milícias, além de outras violações a direitos humanos e garantias judiciais.

Ele também se tornou notório por declaraçõe­s estimuland­o violência contra os críticos de seu governo. Em 2017, por exemplo, o presidente encorajou policiais a disparar em ativistas de direitos humanos “caso eles obstruam a Justiça”.

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