Folha de S.Paulo

Quem ofender a PM de SP corre risco de vida, afirma governador

Declaração de Márcio França segue a reboque da policial mãe que matou bandido

- -Kaio Esteves

araçatuba O governador paulista, Márcio França (PSB), disse nesta segunda-feira (14) que aquele que ofender a farda da Polícia Militar, ofender a integridad­e policial, está correndo risco de vida.

“As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralid­ade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser”, afirmou o governador, em Araçatuba (SP).

A declaração foi mais um capítulo em referência à reação da policial militar Katia da Silva Sastre, 42, que no último sábado matou um ladrão durante tentativa de assalto em frente a uma escola em Suzano, na Grande São Paulo.

Como mostrou reportagem da Folha nesta segunda, o governador contrariou estratégia da Polícia Militar ao organizar uma cerimônia em homenagem à cabo.

Isso porque o ato oficial para enaltecer a policial pode passar mensagem equivocada à tropa e à população de incentivo às pessoas reagirem a assaltos —na contramão da orientação da polícia. Outra é que a morte de ladrões seja vista pela corporação como algo incentivad­o pelo governo, após a escalada nos últimos anos do número de mortos pela polícia —alta de 10% em 2017, com 943 casos, recorde desde 2001.

Todas essas ponderaçõe­s mesmo que a atitude da cabo tenha sido correta diante do risco no caso específico.

“É claro que a gente gostaria que não acontecess­em casos assim, mas, quando acontecem casos como este, eu fiz questão de elogiar. Acima de tudo, como mãe, ela deu um exemplo para a sociedade”, disse o governo, que será candidato à reeleição em outubro.

“Quando um médico, a polícia, um político fazem coisas erradas, a gente não tem que criticar? Do mesmo jeito, quando fazem uma coisa certa, que é acima da obrigação, a gente tem que elogiar. Não custa nada elogiar. A PM é o único setor público em que, quando falham, são identifica­dos. Em qualquer lugar que eles andam, sabem que são policiais. Então são vulnerávei­s”, acrescento­u.

As afirmações de França remetem a declaração do então governador Geraldo Alckmin (PSDB), em 2012, sobre uma ação da PM que terminou com nove mortos no interior de SP. “Quem não reagiu está vivo”, declarou o tucano na ocasião.

Também nesta segunda-feira, o governador criticou a reportagem da Folha segundo a qual, ao fazer uma cerimônia para enaltecer a mãe PM que matou um ladrão, ele adotou estratégia em ano eleitoral oposta à definida pela própria cúpula da polícia para reduzir os índices de letalidade da corporação.

“A Folha está totalmente equivocada porque ela ouviu especialis­tas em segurança. A meu ver, os especialis­tas em segurança são os policiais militares”, afirmou França.

A reportagem, no entanto, aponta críticas de especialis­tas em segurança pública não à policial militar, mas ao ato do governador, pelo temor de que a homenagem possa passar mensagens equivocada­s à tropa e à população.

O coronel Marcelo Vieira Salles, novo comandante-geral da PM, havia manifestad­o preocupaçã­o nos últimos dias com a letalidade policial — apesar da queda no primeiro trimestre— e dado orientação a subcomanda­ntes de que reduzi-la era prioridade.

Salles disse aos subordinad­os que a estratégia era a de evitar qualquer exaltação de mortes cometidas por PMs. Pré-candidatos ao governo reagiram de forma diferente à iniciativa de França, porém tanto o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), como Luiz Marinho (PT) viram como natural a atitude da policial.

Em nota, Skaf concordou com França. Segundo ele, a cabo cumpriu seu dever em defesa da sociedade e mereceu o reconhecim­ento que recebeu.” Já Luiz Marinho, embora tenha visto com naturalida­de a reação da policial, afirmou que o governador cometeu um conjunto de falhas. “Você enaltecer a morte, a letalidade, acho muito perigoso. A valorizaçã­o da polícia é necessária, mas não é isso que estão pedindo. Querem ser valorizado­s para não ter que fazer bico para sobreviver.”

O ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), não quis comentar sobre o caso.

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Bruno Santos/Folhapress Embora o dia amanheça com névoa na Grande SP e no leste paulista, o sol deve aparecer e a temperatur­a sobe. Chance de chuva à tarde

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