Folha de S.Paulo

Temer tremeu

- Bruno Boghossian

brasília O gabinete ministeria­l de Michel Temer por pouco não se esfarelou. Nas primeiras 24 horas após a divulgação da delação da JBS, aliados que davam sustentaçã­o ao presidente ameaçaram pedir demissão em bloco para se distanciar da crise.

Foi “uma conspiraçã­o”, nas palavras de um auxiliar direto de Temer que relembrou a quarta-feira que incendiou a política do país, há um ano.

Em conjunto, cinco partidos começaram a articular um desembarqu­e. Horas depois da publicação pelo jornal O Globo de informaçõe­s sobre a conversa gravada entre Joesley Batista e Temer, alguns ministros se reuniram para discutir o assunto na casa de Rodrigo Maia (DEM).

Logo na manhã seguinte, três deles telefonara­m ao Palácio do Planalto para dar um aviso prévio: prometeram entregar suas cartas de demissão e alertaram que outras viriam.

Naquele 17 de maio, o governo quase explodiu. O movimento daria início a um desmanche da base congressua­l. Não haveria outra saída senão renunciar, admitem aliados.

A bomba foi desarmada com duas ferramenta­s. Primeiro, Temer jogou uma nuvem sobre a gravação e pediu aos ministros que esperassem até que detalhes viessem a público.

Na conversa, Joesley indica que fazia pagamentos a Eduardo Cunha para evitar uma delação do ex-deputado. Temer responde com a célebre frase: “Tem que manter isso, viu?”.

Para demover auxiliares da fuga em massa, o presidente cometeu um deslize que jamais repetiu. Admitiu que, sim, entendera que Joesley pagava Cunha. Ponderou que se tratava de um auxílio à família do ex-deputado e disse não ter feito objeções.

O segundo artifício foi mais simples: Temer ofereceu poder real aos aliados. Se ele caísse, quem o substituir­ia numa eleição indireta? Os partidos manteriam seus quinhões?

Na negociata, o presidente queimou capital político para comprar a fidelidade dos aliados. Estava enterrada a reforma da Previdênci­a e, praticamen­te, o restante de seu mandato. Temer sobreviveu, mas o governo acabou em 17 de maio de 2017.

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