Folha de S.Paulo

Atividade econômica ainda é menor que a do final de 2010

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De mais marcante, a celebração oficial do aniversári­o de dois anos do governo Michel Temer, na terça-feira (15), suscitou uma onda de comentário­s jocosos com o convite que apresentav­a o slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.

Logo se percebe que a sentença desastrada, se lida sem a vírgula, descreve um retrocesso brutal. Esse, claro, foi o principal motivo das chacotas, além de novo mote para os ataques políticos à hoje esvaziada administra­ção emedebista. Existe mais de revelador, entretanto, nas palavras escolhidas.

Trata-se de óbvia referência ao lema celebrizad­o no Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, de “50 anos em 5” —o quinquênio em questão era o período 1956-61. Eis, portanto, um governo que se pretende liberal e modernizad­or a se promover com a sintaxe do velho desenvolvi­mentismo nacional.

Algo semelhante se nota na tentativa de compilar as realizaçõe­s da breve gestão de Temer que justificar­iam tamanho ufanismo.

No balanço elaborado pelo Planalto listam-se, com maior ou menor -1,33 mar.18 propriedad­e, a alta programada do salário mínimo, saques nas contas do FGTS, o crédito à agricultur­a familiar, o reajuste do Bolsa Família, as casas construída­s pelo Minha Casa, Minha Vida.

Esses e outros feitos do poder público ainda têm mais apelo, no debate eleitoral do país, que reformas destinadas a conter os gastos e a intervençã­o do Estado na economia —esta, de fato, a agenda fundamenta­l do governo.

Os candidatos identifica­dos com tal plataforma —e aqueles que, premidos pela conjuntura, terão de recorrer a ela— enfrentarã­o o desafio de torná-la palatável numa campanha presidenci­al.

Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, saiu-se com a meta de dobrar a renda dos brasileiro­s em 20 anos, o que demandaria um cresciment­o médio anual do Produto Interno Bruto na casa dos 4%.

Compreende-se a lógica: é um modo de dizer que o rombo orçamentár­io, a burocracia e o estatismo reduzem o potencial de expansão da economia. Mas a promessa hoje parece pouco palpável.

Seria menos difícil sustentá-la se o país vivesse uma recuperaçã­o acelerada do emprego, dos salários, do consumo, da produção. O que se vê, porém, é um desempenho decepciona­nte neste ano, traduzido pela queda recém-apurada do indicador de atividade do Banco Central no primeiro trimestre.

O dado mostra que, embora tenha ficado para trás a recessão iniciada sob Dilma Rousseff (PT), a retomada frágil mantém o país em patamar ainda inferior ao do fim de 2010. Esse, sim, é um retrocesso prestes a ser medido em década.

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