A queda no valor da Sabesp
Acionistas reagiram mal após troca de comando
Ex-presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP - 2015 a 2018, governo Alckmin) e ex-diretor da ANA (Agência Nacional de Águas - 2001 a 2004, governos FHC e Lula)
Na semana subsequente ao anúncio de minha saída da presidência da Sabesp, o valor da companhia na Bolsa caiu R$3,4 bilhões (15%).
Ocorreram três eventos nesses cinco dias que serão brevemente explicados para que se possa avaliar quanto cada um deles contribuiu para a queda.
Primeiro, divulgou-se a decisão do governo do estado de trocar o comando da Sabesp. Os acionistas reagiram com desconfiança. Afinal, ao longo de minha gestão de exatos 40 meses, a Sabesp logrou vencer a crise hídrica, melhorou a abrangência e a qualidade dos serviços. O valor da ação mais que dobrou.
Por que mexer no time que estava vencendo? Seria devido ao meu desgaste com alguns prefeitos que acham que a Sabesp deve perdoar dívidas e pagar externalidades sem viabilidade econômica?
Se a pessoa indicada para me substituir fosse alguém com perfil inadequado, poder-se-ia temer por uma inflexão no rumo da Sabesp. Porém, é o contrário. A minha sucessora, Karla Bertocco, é profissional competente, com excelente currículo, que certamente manterá a Sabesp no caminho para melhor servir à população e aos acionistas.
Ela continuará os esforços que fizemos juntos para capitalizar a Sabesp e melhorar ainda mais a governança da companhia. Ou seja, a troca de comando não explica a queda.
Segundo, divulgaram-se os resultados do primeiro trimestre de 2018 contendo a informação de que o lucro líquido diminuiu em relação a igual período do ano passado. Porém, como o declínio teve origem na variação cambial e não na geração de caixa —a qual, aliás, melhorou—, certamente esse pequeno revés tampouco explica a queda.
Terceiro, a Arsesp (agência reguladora) liberou o relatório referente à segunda revisão tarifária, que resultou no reposicionamento tarifário de 3,5%.
Esse, sim, foi um banho de água fria tanto para os acionistas quanto para nós da Sabesp. Não pelo percentual em si, mas sim pelas inconsistências metodológicas do relatório.
Em apertada síntese, a Arsesp, ao se preocupar excessivamente com a “modicidade tarifária”, mudou a regra do jogo retroativamente, o que tornou o passado incerto.
Para mim, foi uma desagradável surpresa. Afinal, a Arsesp tem evoluído muito e é hoje uma das melhores agências de regulação de saneamento do país. Tivemos ao longo desses 40 meses uma saudável interação, que forçou a Sabesp a melhorar seus processos para se qualificar como entidade regulada.
Naturalmente, tanto Arsesp quanto Sabesp têm ainda muito a fazer para atingir o padrão de relacionamento entre regulador e regulado que se observa em ambientes regulatórios maduros, estruturados em torno de serviços já universalizados.
No Brasil, o setor de saneamento ainda não atingiu tal maturidade. No caso da Sabesp, embora os serviços estejam entre os melhores do país, muito investimento ainda precisa ser feito para que se atinja a universalização num prazo razoável, digamos, em dez anos.
Como a Sabesp não recebe repasses fiscais (dinheiro de impostos), o investimento necessário para atender as camadas desassistidas depende do lucro. Coerentemente, a política de dividendos estabelece que, enquanto não se atingir a universalização, a parcela do lucro distribuída aos acionistas é só a mínima exigida por lei. Todo o resto é reinvestido.
No contexto da relação Arsesp-Sabesp, há uma óbvia contradição entre “modicidade tarifária” e “universalização”. O primeiro objetivo privilegia os com-serviço, e o segundo os sem-serviço. A Arsesp optou pela ortodoxia metodológica, a qual, na prática, protege os com-serviço.
É claro que o capital necessário para investimentos em saneamento deveria ser suprido pelos acionistas —principalmente pelo governo estadual, no caso de estatal— e não pelos consumidores. Na teoria, tudo certo. Na prática, tendo em vista a situação fiscal do país, tudo errado.
Governo Temer
Fim melancólico de um governo que só trouxe mais melancolia para os trabalhadores do país (“No pretérito”, de Bruno Boghossian, Opinião, 16/5). Que estes meses finais passem logo e venha alguém que melhore, ao menos um pouco, a situação —mas sei que o contexto internacional não dá possibilidade de se animar muito com as perspectivas para o futuro da classe trabalhadora. O momento é de perdas mesmo.
Simone Rodrigues Martino
(Cascavel, PR)
A verdade é que Michel Temer faz um excelente governo e salvou o país. Temos de ser conscientes e não deixar que o destruam de novo (“Dois anos de avanços”, Tendências / Debates, 15/5).
Flávio Rezende de Carvalho
(Rio de Janeiro, RJ)
O slogan do governo estava “superfaturado”. Tinha uma vírgula a mais, já que o correto seria: “O Brasil voltou 20 anos em 2”.
Antonio Carlos Orselli (Araraquara, SP)
Eleições
Sensacional o alerta mostrado pelo colunista Reinaldo Figueiredo na Folha (“Serviço de defesa do eleitor”, Ilustrada, 16/5). Entretanto, restou-me um dúvida: o que o eleitor infectado por um candidato fará se no centro de desintoxicação for atendido por um médico candidato?
Simão Pedro Marinho
(Belo Horizonte, MG)
Fernando Haddad
Parabéns, Fernando Haddad, pelo texto “Questão de honra” ( Tendências / Debates, 16/5). Entendo que o senhor não deva deixar essas ofensas sem respostas legais. Promova uma representação criminal, é o mínimo que o empresário [que o acusa] merece. Considero o senhor o homem certo no partido errado. Seria um grande presidente da República, teria o meu voto. Antenor Baptista (São Paulo, SP)
Policial homenageada
Em São Paulo, onde quem mata recebe prêmio em forma de flores e honra, recorro à fé e oro pela alma de quem morreu e de quem matou. Lamento o oportunismo político e a esperteza de quem premia. Jorge Luis Aparecido
Matheus (São Paulo, SP)
Em nenhum país civilizado matar uma pessoa deve ser motivo de condecoração. Isso posto, penso que a cabo Kátia Sastre atirou contra o assaltante com a intenção de proteger a outros e a si. Isso sim me parece louvável. Afinal, policiais são servidores que prestam um serviço valioso. Ao chamar a atenção para o suposto uso político que o governador quis fazer, a Folha deveria ter resguardado esse aspecto. Fica parecendo que o jornal preza pouco a profissão de policial, o que logicamente não é verdade.
(São Paulo, SP)
Filas da saúde
Enquanto a saúde for tratada com desleixo em todo o território nacional, a realidade será esta: uma catástrofe que pune os mais humildes (“Doria deixa herança de filas de exame e de consulta fora de prazo prometido”, Cotidiano, 16/5). Os médicos são mal renumerados, portanto, mesmo com concursos, é difícil atrair profissionais. Além disso —falo por vivência—, quanto menos qualidade profissional um médico tiver, mais exames ele pedirá e mais a fila aumentará. Quanto mais sobrecarregarem um médico, menos tempo de atendimento haverá e mais exames serão solicitados. Reinaldo Cunha (Passo Fundo, RS)
Para chegar à sua manchete, a Folha mistura dados e, com isso, pode induzir o leitor a erro. A Secretaria Municipal da Saúde esclarece que realiza em média 164,9 mil exames por mês e, destes, 76%, ou 125,4 mil, são de imagem, contemplados pela primeira fase do Corujão da Saúde. Nessa categoria, nenhum supera hoje o tempo de espera de 60 dias para ser realizado. Os exames contemplados pelo Corujão I são: densitometria, ecocardiografia, mamografia, ressonância, tomografia e ultrassonografia. Marcelo Mora, assessor de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
Mulheres na política
Um dos motivos da falta de participação feminina na política é o fato de o empoderamento feminino e o movimento para incentivá-las a entrar nesse mundo serem iniciativas recentes (“Marielle e o futuro dos feminismos”, Cotidiano, 14/5). Na minha infância, não muito distante, meninas não eram incentivadas a seguir a carreira política. Logo, muitas cresceram com a ideia de que se trata de uma área para homens. Para aumentar o número de figuras femininas no segmento, temos que ensinar às jovens que elas podem, sim, fazer parte dele. Ana Carolina Nuzzi Fernandez (Cotia, SP)
Defesa de Lula
Não é que a Justiça receba “com a maior paciência” todos os recursos da defesa do ex-presidente Lula. Essas medidas estão previstas em lei ou dela decorrem, então não há o que fazer senão recebê-las. Os que fazem as leis podem mudar isso, mas é evidente que eles não querem estancar essa sangria “enrolatória” (“A Turma do Funil”, de Ruy Castro, Opinião, 16/5).
Ney Fernando Malhadas (Curitiba, PR)
Taxa de juros
Antonio Delfim Netto cita vários problemas de nossa economia, entre os quais o spread bancário, que constitui o maior roubo ao cidadão (“Temer”, Opinião, 16/5). Se os tomadores tivessem acesso a juros baratos, os investimentos aumentariam e o dinheiro passaria a circular. Rui Versiani (São Paulo, SP)
Parasitas
Mirian Goldenberg, você se esqueceu da pior espécie de parasita: os da classe política, que consomem parte do nosso PIB (Produto Interno Bruto) sem fazer nada (“Todos os parasitas que nos rondam”, Corrida, 15/5).
Francisco Lima Ribeiro (São Paulo, SP)
Poucas vezes eu me deparei com um discurso tão reducionista quanto o de Mirian Goldenberg, justamente uma antropóloga, cujo ofício supõe a compreensão expandida da espécie humana.