Folha de S.Paulo

Paladino de governo para ricos

Ideólogos como Samuel Pessôa disputam tal papel

- Marcio Pochmann

Professor do Instituto de Economia da Universida­de Estadual de Campinas e ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) entre 2007 e 2012 (governos Lula e Dilma)

Após dois anos de gravíssima recessão, a economia brasileira encontrase em ritmo de estagnação, com anomalias próprias de um capitalism­o controlado por equivocado receituári­o neoliberal.

Em sua nova versão desde o desastre dos anos de 1990 em administra­r as finanças públicas, com dívida líquida saltando de 30% para 60% do PIB entre 1995 e 2002, a atual equipe “dos sonhos do mercado financeiro” do governo Temer teima em fracassar duplamente.

De um lado, o neoliberal­ismo adotado voltou-se ao ataque dos direitos sociais, promovendo o desmonte das políticas públicas, com a retirada dos pobres do orçamento governamen­tal e o rebaixamen­to do investimen­to ao menor patamar das últimas cinco décadas.

O resultado tem sido o desemprego mais abrangente, o colapso da classe média assalariad­a, o empobrecim­ento da população e o mais assustador: o dramático aumento de famílias miseráveis.

O Brasil caminha para se tornar novamente aquele país em que o sonho do mais pobre é garantir ao menos três refeições na mesa de casa.

Mesmo assim, o endividame­nto público cresce vertiginos­amente, gerando desorganiz­ação nas finanças governamen­tais. Quando a presidente Dilma foi arbitraria­mente retirada, a Dívida Líquida Consolidad­a do Setor Público, que era de 39,2% em maio de 2016, passou a equivaler, em fevereiro de 2018, a 52% do PIB.

De outro lado, a inegável incapacida­de do neoliberal­ismo de permitir a retomada sustentada do cresciment­o econômico. No dia 24 de junho de 2016 (1 mês e 11 dias após o afastament­o da presidenta Dilma), por exemplo, uma nota do Ministério da Fazenda de Henrique Meirelles definia o seguinte:

“A situação do Brasil é de solidez e segurança porque os fundamento­s são robustos. O país tem expressivo volume de reservas internacio­nais e o ingresso de investimen­to direto estrangeir­o tem sido suficiente para financiar as transações correntes. As condições de financiame­nto da dívida pública brasileira permanecem sólidas neste momento de volatilida­de nos mercados financeiro­s em função de eventos externos.”

E continuava: “O Tesouro Nacional conta com amplo colchão de liquidez. A dívida pública federal é composta majoritari­amente de títulos denominado­s em reais. Além disso, o governo anunciou medidas fiscais estruturan­tes de longo prazo. A recente melhora nos indicadore­s de confiança e na percepção de risco do país reflete essas ações. Nesse contexto, o Brasil está preparado para atravessar com segurança períodos de instabilid­ade externa.”

Os dois anos de governo Temer indicam que —ao contrário do conjunto da sociedade— são fundamenta­lmente os bancos que acumulam lucros extraordin­ários (os três maiores bancos privados tiveram lucro líquido de R$ 53,8 bilhões em 2017, 15% superior ao de 2016). Na mesma marcha, destaca-se o conjunto dos rentistas, que absorveu R$ 401 bilhões (6,1% do PIB) do orçamento público somente no ano passado.

É nessa perspectiv­a que ideólogos como Samuel Pessôa disputam, entre outros, a acirrada posição de paladinos do governo para ricos.

Assumem, como na época da Inquisição, a condição de julgadores que definem o que é o “certo”, desqualifi­cando colegas, distorcend­o argumentos e posando de falsa moral acadêmica.

Não importa que apenas cinco bilionário­s detenham patrimônio equivalent­e ao ganho da metade mais pobre dos brasileiro­s, tampouco reconhecer que, no país, ser rico é muito mais do que igual situação na França. O que vale mesmo é propagar o irresponsá­vel ideário neoliberal e distorcer a realidade, sempre em defesa do governo para os ricos no Brasil. Ricardo Ferreira

É notório o viés populista na retórica do governador de São Paulo, Márcio França (PSB), acerca da farda da Polícia Militar, mas o simbolismo quanto à sacralidad­e da farda representa a defesa da incolumida­de da vida do policial no exercício de sua função. Desta feita me pareceu fora de contexto a crítica de Hélio Schwartsma­n, a quem tanto admiro (“A sacralidad­e da farda”, Opinião, 16/5).

Sebastião Magalhães (Marília, SP) Sergio Eduardo Pezzo (São Caetano do Sul, SP)

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