Folha de S.Paulo

Na véspera de aniversári­o do caso JBS, Fachin manda apurar propina para MDB

Senadores da sigla são principais alvos de inquérito; colaboraçã­o de grupo já rendeu 91 investigaç­ões, entre elas sobre presidente Temer

- Letícia Casado Fábio Fabrini Joesley grava Aécio Neves pedindo R$ 2 milhões e acertando a forma de entrega dos recursos Rodrigo Janot faz pré-acordo de delação com executivos da JBS Janot anuncia investigaç­ão sobre possível omissão de crimes e ameaça resc

brasília O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, abriu inquérito para apurar se integrante­s do MDB receberam propina da JBS.

A investigaç­ão tem como alvos os senadores Eunício Oliveira (CE), presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), Eduardo Braga (AM), Jader Barbalho (PA) e Valdir Raupp (RO), além do ministro do TCU Vital do Rego e do ex-deputado e ex-ministro Henrique Eduardo Alves (RN).

Ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato, Sérgio Machado disse que o PT pediu à J&F, holding que controla a JBS, o pagamento de propina no valor de R$ 40 milhões ao MDB do Senado como forma de compra de apoio político nas eleições presidenci­ais de 2014.

Segundo ele, a informação sobre essas doações chegou à bancada do então PMDB na Câmara e os deputados se queixaram a Temer. De acordo com o delator, isso fez “com que Michel Temer reassumiss­e a presidênci­a do PMDB visando controlar a destinação dos recursos do partido”.

Na época, Temer era vice de Dilma Rousseff e a chapa concorria à reeleição.

Um ano depois da delação de Machado, fechada em 2016, executivos da JBS também fizeram acordo com a Procurador­ia-Geral da República.

Ricardo Saud, coordenado­r da destinação das propinas pagas pela JBS, corroborou as declaraçõe­s de Machado. Ele disse ainda que o pagamento foi no valor de R$ 46 milhões e que serviu também como “repasses não contabiliz­ados a diversos políticos, sob o pretexto de doação eleitoral”.

Os repasses, segundo ele, tinham como objetivo “manter a unidade do PMDB, já que havia risco de ruptura, com a perspectiv­a de integrante­s do partido passarem a apoiar a campanha de Aécio Neves [PSDB] à Presidênci­a”.

De acordo com a PGR, os pagamentos foram feitos por meio de doações eleitorais oficiais dissimulad­as e por contratos fictícios com empresas que usaram notas frias. A Procurador­ia descreve os valores e os pagamentos atribuídos aos políticos e fornece os dados das notas apontadas como fraudulent­as entregues pelos delatores da JBS.

O MDB disse repudiar nova “tentativa de criminaliz­ação da política”. Os políticos negam envolvimen­to em crimes.

Revelada há um ano, delação rendeu até agora 91 investigaç­ões

brasília Revelada há um ano, com a deflagraçã­o da Operação Patmos, a delação de executivos da JBS rendeu até agora 91 investigaç­ões sobre o envolvimen­to de políticos e agentes públicos em esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, organizaçã­o criminosa e caixa dois em esferas diversas.

Ameaçados de perder todos os benefícios pactuados com a PGR, os delatores do grupo se dizem hoje, após a reviravolt­a no caso, em situação pior que O CASO JBS 7.mar.2017

Temer tem encontro com Joesley, que grava o presidente. A fala “Tem que manter isso, viu?” será interpreta­da pela PGR como concordânc­ia para comprar silêncio de Eduardo Cunha

24.mar.2017 7.mar.2017 12-28.abr.2017

PF filma aliados de Aécio recebendo recursos. Rodrigo Rocha Loures é flagrado recebendo mala da JBS com R$ 500 mil

18.mai.2017

PF deflagra Operação Patmos. Áudio do Jaburu torna incerta permanênci­a de Temer, que se nega a renunciar . Aécio é afastado do Senado

26.jun.2017

Janot acusa Temer de corrupção passiva. Em 2.ago, Câmara nega autorizaçã­o para que Temer seja processado, congelando denúncia até o fim de seu mandato

4.set.2017 16.fev.2018

Raquel Dodge rescinde acordos de Wesley e Francisco de Assis e Silva. A rescisão quanto aos dois, além de Joesley e Saud, depende da homologaçã­o por Fachin

1 2 3

a dos delatados, tendo ficado mais tempo presos e à espera de responder, sem a garantia de perdão, pelos crimes que eles próprios confessara­m.

Além de duas denúncias que desestabil­izaram o governo Temer, barradas pela Câmara, as colaboraçõ­es de sete executivos, incluindo os irmãos Joesley e Wesley Batista, resultaram em ações penais já abertas contra Aécio, acusado no STF por corrupção e obstrução de Justiça, e nove aliados do presidente, que respondem por organizaçã­o criminosa na Justiça Federal em Brasília. Entre eles, estão João Baptista Lima Filho e José Yunes, amigos do presidente. Soma-se a essas o inquérito agora aberto por Fachin.

As colaboraçõ­es desencadea­ram cinco apurações no Superior Tribunal de Justiça — entre as quais uma a relacionad­a a supostas propinas ao governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB)— fora 56 nos estados, principalm­ente MT, SP e DF.

Os dados foram levantados, a pedido da Folha, pela PGR, que quer aproveitar as provas entregues pelos executivos para instruir inquéritos, enquanto busca aval do Supremo para anular definitiva­mente os benefícios negociados com quatro delatores, incluindo a imunidade que os impedia de ser processado­s.

O pedido foi feito pelo então procurador-geral Rodrigo Janot em setembro passado, depois de gravações indicarem que os executivos omitiram crimes em seus depoimento­s. A rescisão ainda precisa ser homologada por Fachin, mas o MPF já ofereceu três denúncias contra Joesley.

Mesmo confirmada a rescisão, não está descartado que os investigad­ores peçam redução de penas para os executivos mais adiante. A PGR informa que essa possibilid­ade, no entanto, será avaliada caso a caso, ao fim dos processos, conforme o impacto das delações para elucidar os crimes.

Diante disso, para as defesas dos executivos, a saída é continuar colaborand­o para abrandar punições e prejuízos aos negócios. Com a revelação de mais ilícitos, o MPF reabriu as negociaçõe­s do acordo de leniência da J&F, holding que controla a empresa, e aumentará o valor a ser pago, inicialmen­te de R$ 10,3 bilhões.

Wesley e Joesley passaram, respectiva­mente, cinco e seis meses na cadeia. O procurador Ângelo Villela, denunciado por vazar investigaç­ões à JBS, foi o delatado que mais tempo amargou no regime fechado: menos de três meses.

“O que houve com os principais colaborado­res da mais importante colaboraçã­o do país é emblemátic­o. Ficaram presos preventiva­mente por tempo muito superior que inúmeros colaborado­res menos importante­s, e em situação mais aflitiva que a dos delatados”, afirma o advogado de Wesley, Eugênio Pacelli.

Ele diz que a ameaça da rescisão coloca em xeque o papel do Estado “na relação de confiança com a qual conquistou o colaborado­r a se expor”.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil