Na véspera de aniversário do caso JBS, Fachin manda apurar propina para MDB
Senadores da sigla são principais alvos de inquérito; colaboração de grupo já rendeu 91 investigações, entre elas sobre presidente Temer
brasília O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, abriu inquérito para apurar se integrantes do MDB receberam propina da JBS.
A investigação tem como alvos os senadores Eunício Oliveira (CE), presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), Eduardo Braga (AM), Jader Barbalho (PA) e Valdir Raupp (RO), além do ministro do TCU Vital do Rego e do ex-deputado e ex-ministro Henrique Eduardo Alves (RN).
Ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato, Sérgio Machado disse que o PT pediu à J&F, holding que controla a JBS, o pagamento de propina no valor de R$ 40 milhões ao MDB do Senado como forma de compra de apoio político nas eleições presidenciais de 2014.
Segundo ele, a informação sobre essas doações chegou à bancada do então PMDB na Câmara e os deputados se queixaram a Temer. De acordo com o delator, isso fez “com que Michel Temer reassumisse a presidência do PMDB visando controlar a destinação dos recursos do partido”.
Na época, Temer era vice de Dilma Rousseff e a chapa concorria à reeleição.
Um ano depois da delação de Machado, fechada em 2016, executivos da JBS também fizeram acordo com a Procuradoria-Geral da República.
Ricardo Saud, coordenador da destinação das propinas pagas pela JBS, corroborou as declarações de Machado. Ele disse ainda que o pagamento foi no valor de R$ 46 milhões e que serviu também como “repasses não contabilizados a diversos políticos, sob o pretexto de doação eleitoral”.
Os repasses, segundo ele, tinham como objetivo “manter a unidade do PMDB, já que havia risco de ruptura, com a perspectiva de integrantes do partido passarem a apoiar a campanha de Aécio Neves [PSDB] à Presidência”.
De acordo com a PGR, os pagamentos foram feitos por meio de doações eleitorais oficiais dissimuladas e por contratos fictícios com empresas que usaram notas frias. A Procuradoria descreve os valores e os pagamentos atribuídos aos políticos e fornece os dados das notas apontadas como fraudulentas entregues pelos delatores da JBS.
O MDB disse repudiar nova “tentativa de criminalização da política”. Os políticos negam envolvimento em crimes.
Revelada há um ano, delação rendeu até agora 91 investigações
brasília Revelada há um ano, com a deflagração da Operação Patmos, a delação de executivos da JBS rendeu até agora 91 investigações sobre o envolvimento de políticos e agentes públicos em esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e caixa dois em esferas diversas.
Ameaçados de perder todos os benefícios pactuados com a PGR, os delatores do grupo se dizem hoje, após a reviravolta no caso, em situação pior que O CASO JBS 7.mar.2017
Temer tem encontro com Joesley, que grava o presidente. A fala “Tem que manter isso, viu?” será interpretada pela PGR como concordância para comprar silêncio de Eduardo Cunha
24.mar.2017 7.mar.2017 12-28.abr.2017
PF filma aliados de Aécio recebendo recursos. Rodrigo Rocha Loures é flagrado recebendo mala da JBS com R$ 500 mil
18.mai.2017
PF deflagra Operação Patmos. Áudio do Jaburu torna incerta permanência de Temer, que se nega a renunciar . Aécio é afastado do Senado
26.jun.2017
Janot acusa Temer de corrupção passiva. Em 2.ago, Câmara nega autorização para que Temer seja processado, congelando denúncia até o fim de seu mandato
4.set.2017 16.fev.2018
Raquel Dodge rescinde acordos de Wesley e Francisco de Assis e Silva. A rescisão quanto aos dois, além de Joesley e Saud, depende da homologação por Fachin
1 2 3
a dos delatados, tendo ficado mais tempo presos e à espera de responder, sem a garantia de perdão, pelos crimes que eles próprios confessaram.
Além de duas denúncias que desestabilizaram o governo Temer, barradas pela Câmara, as colaborações de sete executivos, incluindo os irmãos Joesley e Wesley Batista, resultaram em ações penais já abertas contra Aécio, acusado no STF por corrupção e obstrução de Justiça, e nove aliados do presidente, que respondem por organização criminosa na Justiça Federal em Brasília. Entre eles, estão João Baptista Lima Filho e José Yunes, amigos do presidente. Soma-se a essas o inquérito agora aberto por Fachin.
As colaborações desencadearam cinco apurações no Superior Tribunal de Justiça — entre as quais uma a relacionada a supostas propinas ao governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB)— fora 56 nos estados, principalmente MT, SP e DF.
Os dados foram levantados, a pedido da Folha, pela PGR, que quer aproveitar as provas entregues pelos executivos para instruir inquéritos, enquanto busca aval do Supremo para anular definitivamente os benefícios negociados com quatro delatores, incluindo a imunidade que os impedia de ser processados.
O pedido foi feito pelo então procurador-geral Rodrigo Janot em setembro passado, depois de gravações indicarem que os executivos omitiram crimes em seus depoimentos. A rescisão ainda precisa ser homologada por Fachin, mas o MPF já ofereceu três denúncias contra Joesley.
Mesmo confirmada a rescisão, não está descartado que os investigadores peçam redução de penas para os executivos mais adiante. A PGR informa que essa possibilidade, no entanto, será avaliada caso a caso, ao fim dos processos, conforme o impacto das delações para elucidar os crimes.
Diante disso, para as defesas dos executivos, a saída é continuar colaborando para abrandar punições e prejuízos aos negócios. Com a revelação de mais ilícitos, o MPF reabriu as negociações do acordo de leniência da J&F, holding que controla a empresa, e aumentará o valor a ser pago, inicialmente de R$ 10,3 bilhões.
Wesley e Joesley passaram, respectivamente, cinco e seis meses na cadeia. O procurador Ângelo Villela, denunciado por vazar investigações à JBS, foi o delatado que mais tempo amargou no regime fechado: menos de três meses.
“O que houve com os principais colaboradores da mais importante colaboração do país é emblemático. Ficaram presos preventivamente por tempo muito superior que inúmeros colaboradores menos importantes, e em situação mais aflitiva que a dos delatados”, afirma o advogado de Wesley, Eugênio Pacelli.
Ele diz que a ameaça da rescisão coloca em xeque o papel do Estado “na relação de confiança com a qual conquistou o colaborador a se expor”.