Folha de S.Paulo

Votos e vontades

As eleições correm em duas áreas —dos políticos e jornalista­s e da opinião pública

- Janio de Freitas Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha DSTQQ S | Demétrio Magnoli

São dois território­s muito diferentes. As eleições correm em ambos. Um, o dos políticos e jornalista­s, no qual, de uma parte, desenvolve­m-se os entendimen­tos, as dissensões, as ilusões e a traição; e de outra parte disseminam-se notícias, muita especulaçã­o pobre e rica boataria.

O segundo território é a chamada opinião pública, ora um joguete (des)orientado por jornais, TV e agora internet, ora conseguind­o emergir e canalizar propensões próprias.

Embora, a mais de quatro meses e meio da votação, os ainda pré-candidatos sejam

S acusados de não exporem planos para a Previdênci­a, a movimentaç­ão entre políticos e partidos é a mais normal possível, para esta altura do processo eleitoral. Com uma exceção, que impression­a e não se explica.

Em inferiorid­ade, nas sondagens sem o nome de Lula, apenas para Bolsonaro, Marina Silva permanece apática diante da competição por acordos, por tempo de propaganda gratuita, por projeção de candidata.

Mesmo o eleitorado, pois o seu eleitorado parece incapaz de interessá-la. Se ao menos suas ideias e intenções governamen­tais fossem mais conhecidas, poderia estar esquentand­o os motores. É o inverso, porém.

Não se sabe o que Marina pensa sobre qualquer uma das preocupaçõ­es atuais. Marina Silva se põe além do compreensí­vel.

Bolsonaro é aquilo mesmo que se esperaria. As áreas em que recebeu ou pode encontrar apoio são de fácil identifica­ção, e dele têm recebido as atenções convenient­es.

Mas uma incógnita o persegue: o seu fôlego é desconheci­do. E até agora não lhe apareceram possibilid­ades de acertos interparti­dários que represente­m mais tempo de propaganda gratuita e penetração nas máquinas eleitorais de estados.

A complicaçã­o petista continua sem emitir sinal de distensão. É compreensí­vel que assim seja. Até por incluir, a par do seu teor político, um papel importante na batalha pelo livramento de Lula. A propósito, a manifestaç­ão conjunta de seis ex-presidente­s e ex-chefes de governo sobre “a prisão apressada de Lula”, com a solicitaçã­o, “solenement­e”, “de que o presidente Lula possa

Elio Gaspari, Janio de Freitas | Celso Rocha de Barros | Joel Pinheiro da Fonseca | Elio Gaspari | Janio de Freitas |

se submeter livremente ao sufrágio do povo brasileiro”, traz ao assunto uma contribuiç­ão mais além do repetitivo e talvez ineficaz argumento de que “o candidato do PT é Lula”, e ponto final.

O ex-presidente François Hollande, os ex-chefes italianos Massimo D’Alema, Romano Prodi e Enrico Letta, o exchefe de governo belga Elio Rupo e o ex-presidente do governo espanhol José Luis Zapatero entendem que “a luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e direitos dos povos a eleger seus governante­s”. Tema fértil, e suscitado com autoridade, para a discussão do caso Lula/eleições.

No território da opinião pública parece passar-se o mais interessan­te. Até agora, a “divisão dos votos de Lula”, preso há mais de um mês, não confirmou nenhum dos que expuseram

Reinaldo Azevedo previsões. A julgar pela sondagem CNT/MDA, ontem publicada, Lula mantém o seu apoio de um terço do eleitorado.

O que é extraordin­ário, se considerad­as as circunstân­cias. Bolsonaro e Marina continuam nos seus degraus, sem atrair novos olhares.

A novidade é provocada por Ciro Gomes, que passou a ser o mais comentado dos nomes. Como “eventual alternativ­a”, no dizer mais cauteloso.

Ou como “aparenteme­nte o melhor do que está aí”. Penetração, esta, entre eleitores de classe média para cima, onde Ciro Gomes nunca foi motivo de sonhos bons.

Considerad­a a perspectiv­a que o eleitorado lhe indica, Michel Temer fez bem em negar sua retirada da disputa. Afinal de contas, tem apoio eleitoral de zero vírgula alguns ciscos. E quatro processos que o ameaçam de novas moradias já em janeiro.

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