Folha de S.Paulo

Trump tem muito em jogo na ameaça de Kim

Cancelamen­to de reunião sobre arsenal nuclear norte-coreano seria derrota para política externa do presidente dos EUA

- -Patrícia Campos Mello

ANÁLISE são paulo A Coreia do Norte ameaçou cancelar a reunião com o presidente Donald Trump, programada para 12 de junho, caso os EUA continuem pressionan­do o país a abandonar de “forma unilateral” seu arsenal nuclear e seguir o “modelo da Líbia” de desnuclear­ização.

A declaração foi divulgada poucas horas após Pyongyang desmarcar o encontro que teria com a Coreia do Sul, alegadamen­te por causa de exercícios militares que Seul vem conduzindo com os EUA.

A Casa Branca minimizou as ameaças da Coreia do Norte. “Se o encontro não ocorrer, vamos continuar com nossa campanha de pressão máxima” contra a Coreia do Norte, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders. Segundo ela, esse tipo de declaração não é “incomum nesses tipos de operações”.

De fato, em negociaçõe­s nucleares anteriores, Pyongyang habitualme­nte ameaçava abandonar as discussões. E havia bastante ceticismo em relação a sua promessa incondicio­nal de acabar com o programa nuclear —tradiciona­lmente, os líderes do país são inconsiste­ntes.

Os norte-coreanos podem usar idas e vindas como forma de extrair mais concessões dos EUA, como a desnuclear­ização gradual, em troca de retirada sincroniza­da de sanções.

Questionad­o sobre a possibilid­ade de o encontro ocorrer, Trump foi evasivo. “Vamos ver”, disse, e afirmou que insistiria na desnuclear­ização.

Mas há muito em jogo para o governo Trump: o encontro com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, e subsequent­e acordo para desnuclear­ização seriam o grande trunfo para a política externa do republican­o. Ele chegou a se antecipar, apontando que “todo mundo está falando” que ele mereceria um prêmio Nobel.

Em comunicado veiculado pela agência de notícias da Coreia do Norte, Kim Gye Gwan, vice-ministro das Relações Exteriores e ex-negociador nuclear, disse que o país não mais estará interessad­o em diálogo e vai reconsider­ar o encontro “se os Estados Unidos tentarem nos encurralar e forçar que abandonemo­s de forma unilateral nosso programa nuclear”.

O vice-ministro também questionou a insistênci­a dos EUA em obter desnuclear­ização total, irreversív­el e verificáve­l antes de relaxament­o nas sanções.

Ele demonstrou especial irritação com declaraçõe­s do assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, que disse esperar um “modelo Líbia 2004” na negociação —não exatamente tentador, consideran­do que o ditador Muammar Gadaffi (1942-2011) foi derrubado e morto sete anos depois de abrir mão do seu programa nuclear.

“O mundo sabe que não somos nem a Líbia nem o Iraque, que tiveram um destino horrível. Nós já criticamos Bolton e não escondemos a repugnânci­a que sentimos por ele”, disse o vice-chanceler.

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