Folha de S.Paulo

Atriz e dançarina, foi a 1ª travesti a fazer uma novela

- -Flávia Faria coluna.obituario@grupofolha.com.br

CLAUDIA CELESTE (1952-2018) são paulo Claudia Celeste nunca escondeu sua identidade. Não havia motivo para isso: se orgulhava, e muito, de ser travesti.

Pois qual não foi a surpresa quando, em 1977, sua participaç­ão na novela “Espelho Mágico”, exibida pela TV Globo, foi cancelada.

O convite para participar do programa surgiu quando o diretor, Daniel Filho, viu um espetáculo seu e quis trazer parte do show para a novela.

Uma das cenas que gravou chegou a ir ao ar, mas, quando um jornal carioca noticiou que ela era travesti, cancelaram sua participaç­ão. Era época da ditadura, e exibi-la na TV era impensável para o regime. Com medo da censura, a produção decidiu suspendê-la.

Claudia descobriu o seu caminho quando, aos 18, foi, muito nervosa, assistir a um espetáculo da transformi­sta Divina Valéria. “É isso que eu quero para mim”, pensou.

Mais tarde, em 1987, foi a primeira travesti a ter um papel em uma novela, do início ao fim da trama. Interpreto­u a prostituta Dinorah em “Olho por Olho”, da TV Manchete.

Claudia começou a carreira artística em 1973, como dançarina em uma boate no lendário Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro.

Ao longo da vida, dançou e cantou em diversas casas de espetáculo­s, no Brasil e na Europa. Também fez peças, uma delas dirigida por Bibi Ferreira, e atuou em filmes.

Nos últimos anos, fazia parte do grupo de travestis Golden Divas, que se apresenta em uma casa em Copacabana.

Cantava Elis Regina e Shirley Bassey e apresentav­a números de dança ao lado do marido, o também bailarino Paulo Wagner.

Morreu no dia 13, aos 65, no Rio de Janeiro, onde nasceu e viveu a maior parte da vida. Foi vítima de uma infecção pulmonar. Deixa, além do marido, irmãos e tios.

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