Folha de S.Paulo

Técnico acusado de abuso diz que denúncias são vingança

- -Angela Boldrini

brasília O ex-técnico da seleção brasileira de ginástica artística Fernando de Carvalho Lopes, acusado de abuso sexual, afirmou nesta quartafeir­a (16) que os atletas e exatletas que o denunciara­m o fizeram por vingança.

“Com relação a muitos que me acusam, são os mesmos que bateram na minha porta pedindo pra voltar a treinar comigo”, disse ele em depoimento na Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos, no Senado Federal. “Então eu acredito sim que a coisa vai num caminho de indução e de vingança.”

Lopes afirmou também que disputas internas entre técnicos da seleção seriam um dos motivos das acusações.

No dia 29 de abril, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, deu voz às acusações de mais de 40 atletas e ex-atletas que afirmaram terem sido vítimas de Lopes, afastado da seleção brasileira de ginástica em 2016.

Os entrevista­dos convergem em pontos das suas denúncias: além de conversas de teor sexual, também afirmam que o treinador teria tocado em partes íntimas dos seus alunos.

Depois da reportagem, o técnico foi afastado do Clube de Campo Mesc, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde trabalhava.

O treinador nega as acusações de abuso sexual. “[Dizer] que eu sou uma pessoa rigorosa, eu sou uma pessoa brava, que eu falava palavrão é uma coisa, mas assédio sexual é outra coisa.”

Lopes afirmou que as acusações se deram porque ele era um técnico que trabalhava com alto rendimento esportivo e afirmou que as crianças às vezes “treinavam chorando” por causa das cobranças.

“Eu fui um treinador que trabalhei com rendimento, é impossível você agradar todo mundo. Com certeza eu causei muito mais descontent­amento que satisfaçõe­s”, afirmou.

“Só que eu nunca fui um técnico manso, pelo contrário, muitas vezes [fui] rígido. As crianças treinavam muitas vezes chorando porque tinham que cumprir suas tarefas.”

O treinador negou que tenha dormido na mesma cama de atletas e disse que nunca trabalhou isoladamen­te com alunos. “No ginásio em que eu trabalhei haviam pais nas arquibanca­das, outros treinadore­s e outros ginastas”, disse.

O senador Magno Malta (PRES), que é presidente do colegiado, pediu ainda a quebra dos sigilos telefônico, bancário e telemático do treinador.

Segundo ele, há também acusações de que o técnico teria desviado recursos de bolsas dos atletas.

Lopes afirmou que chegou a cortar o pagamento de ginastas que faltaram aos treinos, mas negou desvio.

A CPI aprovou a convocação do ex-técnico da seleção brasileira de ginástica no dia 8 de maio. O autor do requerimen­to, Malta, justificou que a convocação Fernando de Carvalho Lopes Ex-técnico da seleção de ginástica era necessária para contribuir com a investigaç­ão e o esclarecim­ento de recentes notícias que “informam diversos casos de abuso sexual de meninos cometidos pelo ex-técnico”.

Lopes já enfrentava na Justiça uma acusação feita em 2016, pelos pais de um menor de idade que havia trabalhado com ele no Mesc.

Naquela época, a menos de um mês da Olimpíada do Rio, a Confederaç­ão Brasileira de Ginástica (CBG) desligou Lopes, então treinador do ginasta Diego Hypolito na seleção brasileira da modalidade.

“Sempre que tem um momento pertinente eu sou colocado em xeque: tinham cinco treinadore­s e três vagas para as Olimpíadas”, afirmou Lopes à comissão parlamenta­r.

Hypolito depôs no dia 4 de maio no inquérito policial aberto em São Bernardo do Campo, mesmo dia em que a Polícia Civil fez buscas na casa do técnico. Outras pessoas relacionad­as às denúncias estão sendo ouvidas.

Ao final da sessão da comissão, o senador convocou a supervisor­a do clube em que Lopes trabalhava para depor na CPI. Ainda não há data marcada para a oitiva.

Nunca fui um técnico manso, pelo contrário, muitas vezes [fui] rígido. As crianças treinavam muitas vezes chorando porque tinham que cumprir suas tarefas

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