Com direção segura e bom elenco, ‘La Traviata’ terá récita gratuita
MÚSICA
La Traviata
Sáb (19), às 18h, no Theatro Municipal, pça Ramos de Azevedo s/nº. Grátis (retirar ingressos 2 h antes na bilheteria). Seg. (21) e qua. (23), às 20h. R$ 20 a R$ 150. 10 anos. são paulo Escrita por Verdi (1813-1901) para estrear em Veneza em 1853, a ópera “La Traviata” está em cartaz no Theatro Municipal e terá récita gratuita neste sábado (19), durante a Virada Cultural. Dirigida por Jorge Takla, a montagem é uma parceria com o Palácio das Artes, de Belo Horizonte.
No “Prelúdio” instrumental, interpretado com belos contrastes pela Sinfônica Municipal regida por Roberto Minczuk, o compositor aponta para os temas dos momentos que pretende enfatizar: a renúncia forçada ao amor e a inexorabilidade da morte.
No sábado (12), com o teatro lotado, a concepção visual foi aplaudida assim que as cortinas abriram. A monumental cenografia de Nicolás Boni — com luz de Fabio Retti e figurinos de Cássio Brasil— parte da festa na casa de Violetta (a “transviada” do título) e se adapta com presteza às necessidades de cada ato.
A ação corre em ritmo alucinado no início, com Verdi preenchendo as elipses do texto com conexões musicais. Assim, justapõe o brinde com que Alfredo (o tenor Fernando Portari) chama a atenção de Violetta (a soprano bielorrusa Nadine Koutcher) ao nascimento da paixão avassaladora entre eles e aos sinais da doença da protagonista.
A partir do encontro de Violetta com Germont (pai de Alfredo, feito pelo barítono Paulo Szot), no segundo ato, no entanto, a cena ralenta.
Verdi usa o tempo poupado na descrição das frivolidades parisienses para esmiuçar o dilema que opõe o sentimento à persona social.
O terceiro ato é um espelho negativo do primeiro, que deságua na longa e minuciosa cena final da morte de Violetta. Sua representação da agonia parece antecipar as antológicas passagens de Tolstói (18281910) sobre o tema.
Koutcher tem técnica apurada, e é atenta às transformações da personagem ao longo do drama; Portari tem a voz e o coração de Alfredo; e Szot é um Germont introspectivo e complexo, que foi muito aplaudido após a ária “Di provenza il mar”.
Como perfeccionista do som, Minczuk equalizou vozes e instrumentos com categoria. Houve, entretanto, alguns desencaixes com o Coro Lírico na complexa parte inicial do terceiro ato. Fez falta, também, o habitual libreto impresso para venda (só havia um folheto muito básico, em quantidade insuficiente).
A direção de Takla é segura, coerente e musicalmente sensível: é o que o Municipal precisava para se fortalecer após um ano de incertezas.