Filme parece dirigido por Hitchcock sob opioides
Em ‘Under the Silver Lake’, diretor americano David Robert Mitchell mistura clima noir com referências pop e erotismo FESTIVAL DE CANNES MONDO CANNES
cannes (frança) Na disputa pela Palma de Ouro, “Under the Silver Lake” é o que seria se um filho bastardo de Hitchcock fizesse um longa-metragem sob efeito de opioides. É um suspense com clima de “Janela Indiscreta” salpicado com referências pop, teorias da conspiração, erotismo e assassinos de cachorros.
Some-se a isso o fato de que o diretor americano David Robert Mitchell encena toda essa balbúrdia na região leste de Los Angeles, mote para incluir personagens que vão de milionários new age a prostitutas que se passam por vencedoras do Oscar.
Andrew Garfield interpreta Sam, vagabundo de 33 anos que passa o tempo entre as HQs e os binóculos com os quais espiona o topless da vizinha. Numa dessas, topa com Sarah (Riley Keough), recémchegada ao prédio.
Os dois chegam a trocar beijos, mas ela some na manhã seguinte, deixando o apartamento completamente vago.
Na busca por Sarah, Sam se enreda em um mistério noir que pode (ou não) ter a ver com um maníaco matador de cachorros e um magnata desaparecido.
Novato na competição de Cannes, Mitchell é um diretor de 44 anos que caiu na moda depois do terror “Corrente do Mal” (2015), sobre uma entidade maligna que infecta as pessoas por meio do sexo. Embora aplaudido, seu “Under the Silver Lake” é tão embebido em citações ao universo de Hollywood que dificilmente comoverá um júri multicultural como o do festival.
É também uma obra escapista, que perde pontos para o outro filme americano na disputa, o politizado “BlacKkKlansman”, de Spike Lee.
Na contramão do verniz pop de “Under The Silver Lake” está “En Guerre”, de Stéphane Brizé, longa de estilo quase documental que fala sobre os efeitos de uma greve numa fábrica no sul da França.
Esse “drama sindical” não poderia ser mais oportuno. Enquanto ele era exibido no suntuoso Palais, o noticiário tratava de uma greve real, encampada por funcionários da Air France. A paralisação de Brizé não é muito diferente.
Vincent Lindon (“O Valor de um Homem”) vive Laurent, líder operário que comanda a sublevação proletária contra uma indústria de autopeças que pretende se mudar para a Romênia, onde as leis traba- lhistas são mais frouxas e os salários, bem menores.
Os patrões, sediados na Alemanha, não estão dispostos a ceder, e Laurent enfrenta a debandada de parte dos trabalhadores, seduzidos pela grana que pode surgir caso interrompam a greve.
Brizé filma os debates acalorados como se fosse um documentarista invisível, preocupado apenas em abordar o levante, e não a vida de seus agitadores. Ecoa a mesma estética seca dos irmãos Dardenne.
Com poucas chances, “En Guerre” é um longa que tem ressonância numa Europa que debate os os custos do bem-estar social. Na França, onde a agitação trabalhista é particularmente aguda, falase numa paralisação dos serviços ferroviários. Na bolha de Cannes, contudo, a greve só ressoa quando um voo da Air France é atrasado.
Embalos de terça à noite
Homenageado nesta edição do festival, o ator John Travolta subiu ao palco para dançar ao som de 50 Cent. Mas mostrou trejeitos bem diferentes do seu Tony Manero, de “Embalos de Sábado à Noite”. No vídeo que circula na internet, chamam sua performance de “dança de tiozinho”
Embalos de terça à noite 2
Ainda em Cannes, Travolta disse que não botava fé em “Pulp Fiction”(1994). “Achávamos que seria um filme de arte e que teria pouquíssimo público.”
Mãe dos dragões
A atriz Emilia Clarke deu uma pausa nas gravações de “Game of Thrones” para ir a Cannes com o elenco de “Han Solo”. A intérprete de Daeneyrs afirmou que seu salário na série é o mesmo dos colegas homens.
Sem descer do salto
Na sessão de “Han Solo”, a atriz Manal Issa empunhou o cartaz “Pare de atacar Gaza!!” Foi um protesto contra o confronto com Israel e palestinos que acabou com quase 60 mortes.