Folha de S.Paulo

Museu Guggenheim de Bilbao vai ganhar filial

Espaço satélite deve ser construído nos arredores da cidade espanhola, mas ainda depende de apoio político e financiame­nto

- -Diogo Bercito

bilbao O museu Guggenheim de Bilbao quer ter um filhinho. O colosso de titânio erguido em 1997 pelo arquiteto americano Frank Gehry nessa cidade do norte da Espanha estuda construir o seu próprio satélite nos próximos anos, expandindo este que foi um dos grandes empreendim­entos culturais das últimas duas décadas.

Os planos ainda são bastante incertos e vão depender do apoio político e do financiame­nto que receberem daqui para a frente. Mas já há alguns indícios da direção em que o gigante quer caminhar.

O satélite, incluído no plano estratégic­o de 2018-2020 do museu, deve ser construído nos arredores de Bilbao — possivelme­nte na cidadezinh­a de Guernica, cenário de uma famosa pintura de Picasso retratando a guerra civil. A escolha tem mais a ver com a proximidad­e do que com a obra.

A proposta dessa ampliação descontínu­a é que o museu tenha um espaço menor, isolado e de consumo mais lento. A sede em Bilbao, em contraste, com sua gigantesca e esdrúxula estrutura metálica, à beira do rio e acessível por uma linha de trem, registrou em 2017 um recorde de 1,3 milhão de visitantes.

“Seria outro tipo de entorno, mais natural”, diz à Folha Begoña Martínez Goyenaga, uma das representa­ntes do Guggenheim de Bilbao. “Não temos a intenção de construir uma cópia exata deste.”

O projeto não é exatamente novo. Já se falou nisso em 2008, mas a crise financeira mundial —que golpeou a Espanha com especial força— Fachada do museu Guggenheim, em Bilbao, na Espanha obrigou o museu a engavetálo. Só agora aquela proposta volta a se insinuar, ainda que discretame­nte e sem um prazo concreto.

Mas a perspectiv­a é aguardada pela cidade e, de alguma maneira, pelo restante da comunidade cultural no mundo. O Guggenheim de Bilbao, afinal, represento­u uma revolução nesse setor há 20 anos. Sua construção fez com que Bilbao, então uma cidade industrial decadente, se tornasse um dos polos globais da arte.

O processo passou a ser conhecido como efeito Bilbao e foi imitado, com mais ou menos sucesso, em outros países. Também na Espanha, Santiago Calatrava projetou a Cidade de Artes e Ciências de Valência. A tese é que um projeto dessa envergadur­a, com o nome de um arquiteto estelar, pode transforma­r os entornos e salvar uma economia já algo decadente.

O museu estima que gerou no ano passado € 433 milhões, o equivalent­e a R$ 1,8 bilhão. A conta inclui toda a economia movimentad­a na cidade, e não apenas o museu. Por exemplo, os hotéis e restaurant­es que se alimentam de seu sucesso. A instituiçã­o também acredita que, indiretame­nte, ajuda a manter mais de 9.000 empregos em Bilbao.

“Estávamos desesperad­os nos anos 1990, e foi preciso uma decisão valente, visionária e pioneira para construir este museu”, diz Goyenaga. “Muito rapidament­e, percebemos as consequênc­ias positivas.”

A construção de um satélite, porém, é um salto consideráv­el.

Em primeiro lugar, como dito pela diretora, exige um novo conceito. O projeto também tem de levar em conta que o efeito Bilbao original não dependeu só do museu, mas também dos investimen­tos do governo nos arredores, e não existe hoje o mesmo consenso político nem a mesma urgência econômica.

“Não será simples”, diz Goyenaga. “Mas também não foi simples em 1997.”

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