Folha de S.Paulo

SUS para a segurança

-

Entre os inúmeros problemas que contribuem para a ineficiênc­ia da segurança pública no Brasil, um dos mais relevantes é a frágil integração entre os diversos órgãos do setor —das polícias ao sistema prisional, passando pelo Ministério Público e o Judiciário.

Faltam bases de dados conectadas, canais eficazes de comunicaçã­o, padronizaç­ão de protocolos e estratégia­s comuns.

Tal dispersão de esforços há anos tem provocado críticas de especialis­tas, que clamam pela organizaçã­o de um sistema nacional de segurança, no qual a União assuma um papel mais ativo.

Com vistas a suprir essa lacuna, o Congresso acaba de aprovar o projeto de lei que cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp).

Em ritmo acelerado por pressões lideradas pela pasta da Segurança Pública, o texto passou pela Câmara dos Deputados em abril e recebeu o aval do Senado na quinta (17), em votação simbólica.

O projeto institui a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, com a missão de compartilh­ar dados e promover a articulaçã­o dos órgãos de toda a Federação. O texto prevê melhoria da capacitaçã­o profission­al, padronizaç­ão de tecnologia­s, estabeleci­mento de metas e de mecanismos de controle sobre sua execução.

Não há dúvida de que a criação do sistema atende a uma carência institucio­nal e vai, em tese, na direção acertada, apesar de divergênci­as que surgiram durante o processo de votação.

A questão fundamenta­l é saber como o Susp será posto em prática. Planos que resolvem os problemas no papel não faltam ao Brasil.

Não há clareza, para início de conversa, quanto à permanênci­a da pasta da Segurança, instituída em caráter extraordin­ário. Até aqui o Congresso nem sequer votou a medida provisória que a criou. Será um ministério efêmero ou terá condições de assumir responsabi­lidades de longo prazo?

Tratando-se do órgão encarregad­o de implementa­r o projeto, terá condições de levantar recursos para tanto num quadro de restrições financeira­s do setor público?

São situações que precisam ser definidas com presteza. A criminalid­ade avança na maior parte dos estados, e a deficiênci­a na segurança é vista pelos brasileiro­s como o terceiro problema mais importante do país (ao lado do desemprego), segundo o Datafolha.

É um drama a ser enfrentado com eficiência e seriedade —não com medidas espetaculo­sas, declaraçõe­s de intenção ou “jogadas de mestre”, como a recente e duvidosa intervençã­o federal no Rio.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil