Folha de S.Paulo

Sobrevoand­o o Rio

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro “Voando para o Rio” (1933), de Thornton Freeland, foi o primeiro filme a ter o Rio como protagonis­ta. É também o primeiro em que aparece a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers, bailando ao som de “The Carioca” (uma rumba envergonha­da, não um samba rasgado). Na cena mais alucinante, aviões fazem acrobacias com mulheres dançando nas asas, enquanto surgem as paisagens aéreas de Botafogo, Urca, Copacabana. Se não bastasse, ainda tem a beleza luminosa de Dolores del Rio. É muito Rio num filme só, mas ninguém enjoou.

A cidade volta em “Interlúdio” (1946), o filmaço de Hitchcock. Cary Grant e Ingrid Bergman conversam num café da Cinelândia —o Amarelinho?—, e veem-se, mostrados em “back projection”, o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Palácio Monroe. (Um dos transeunte­s, garantia o escritor Carlos Heitor Cony, era seu irmão.) O casal beijase num terraço da avenida Atlântica —e acreditamo­s que o amor existe.

Até aqueles que fizeram de “Orfeu do Carnaval” (1959), de Marcel Camus, um cult, reconhecem que a adaptação da peça de Vinicius de Moraes, com música de Tom Jobim, é um abacaxi francês. O que lhe salva são os planos feitos do morro da Babilônia, no Leme, ao alvorecer, varrendo em movimentos panorâmico­s a praia de Copacabana e indo até o Pão de Açúcar.

Fechando a lista, mas não por último, está a incrível sequência de seis minutos em “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1968), de Roberto Farias, diretor que morreu na segunda (14). Um sobrevoo de helicópter­o, a baixa altura, rente aos edifícios e no qual a câmera entra túnel do Pasmado adentro. Nas imagens, lá estão (de novo) o Palácio Monroe antes da demolição, o Solar da Fossa antes da construção da horrenda torre Rio-Sul e o desapareci­do Tabuleiro da Baiana, no largo da Carioca.

Por cenas assim, 9 entre 10 obituários definiram Farias como um exímio artesão.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil