Folha de S.Paulo

Questionam­ento sobre viabilidad­e da candidatur­a Alckmin cresce no PSDB

Pré-campanha vive seu pior momento, e até o nome de João Doria volta a ser citado como alternativ­a

- -Igor Gielow

são paulo O presidenci­ável Geraldo Alckmin enfrenta o momento mais difícil de sua pré-campanha, com crescente questionam­ento interno no PSDB sobre a viabilidad­e de sua postulação.

Se as dúvidas são colocadas publicamen­te por antigos aliados como o DEM, elas agora agitam o caldeirão tucano de rumores. Mas parece questão de tempo até algum peessedebi­sta externar o que se diz reservadam­ente entre apoiadores e céticos da candidatur­a Alckmin: ele vai até o fim?

O próprio ex-governador paulista já deu uma resposta prévia em eventos nesta semana, dizendo que as avaliações são precipitad­as.

Alckmin afirma que a campanha de fato só começará quando se iniciar o horário gratuito de TV, em agosto.

O estopim aparente da manifestaç­ão foi a pesquisa CNT/ MDA que mostrava um retraiment­o nas suas intenções de voto de quase 10% para 5%.

Reunião nesta semana examinou uma grande pesquisa qualitativ­a apontando que o eleitor médio identifica o tucano com a política tradiciona­l que hoje é encarnada no poder por Michel Temer (MDB), ou seja, altamente impopular.

O debate sobre como mudar isso é inconclusi­vo, não menos porque Alckmin mantém sua posição de “jogar parado”.

Alguns aliados na cúpula tucana pregam a adoção de um figurino mais agressivo.

Polemizar com o nome que lhe tira votos à direita, Jair Bolsonaro (PSL), é uma opção, mas isso teria de ser feito de forma a não alienar todo o eleitorado do deputado.

Como existe um mar de votos hoje em branco à espera de rede de pesca, estimados de 20% a 30% do eleitorado, outra ideia tem a ver com a piora dos indicadore­s econômicos e a recente disparada do dólar, que assusta a classe média.

Como fez Fernando Henrique Cardoso em 1998, apresentar Alckmin como o único capaz de enfrentar a crise pode ser uma linha de ação.

Não deixa de ser irônico, dado que o campo conservado­r contava com a melhoria da economia sob Temer —com apoio do PSDB— como ativo.

Sem isso, discursos populistas são favorecido­s, e o rebolado retórico tucano teria de ser bem embalado para atingir além dos já convertido­s.

Mesmo entre eles há dúvidas. Na conferênci­a anual de CEOs promovida pelo Itaú em Nova York nesta semana, as conversas giraram em torno das dificuldad­es de Alckmin e do temor de um cresciment­o de Ciro Gomes (PDT), visto como hostil ao mercado.

Com tudo isso, nomes alternativ­os voltam à baila, ainda que Alckmin seja o presidente do PSDB e tenha a palavra final sobre o assunto.

Após passar 2017 ameaçando a postulação de Alckmin, o nome de seu ex-protegido João Doria está em todas as conversas sobre o tema.

O ex-prefeito tem, publicamen­te e em conversas internas, mantido apoio a Alckmin. Mas o assédio a ele aumentou, e um tucano próximo a Doria sugere que metade da bancada estadual do partido já defende a substituiç­ão.

Segundo a ouviu de dois importante­s deputados federais do partido, o mesmo movimento estaria acontecend­o na bancada tucana paulista da Câmara.

Um integrante da pré-campanha admite temer a contaminaç­ão de outras sucursais do tucanato pelo país.

Diferentem­ente de Alckmin, Doria ainda empolga aliados externos, especialme­nte no MDB, e de quebra não tem contra si nenhuma investigaç­ão da Operação Lava Jato.

Até como vice de Alckmin ele foi sugerido na mesma reunião que discutiu a imagem do tucano, mas a sugestão foi considerad­a implausíve­l.

Outra liderança, essa com aversão a Doria, cita como plano B o senador Antonio Anastasia, cujo fato de ter aceitado ser candidato ao governo de Minas foi a única boa notícia recente que Alckmin conseguiu colher por conta própria.

As outras duas, autônomas, foram as desistênci­as de Joaquim Barbosa (PSB) e Luciano Huck de entrar no páreo.

Na base do clima ruim está a dificuldad­e de comunicaçã­o para acertos básicos, como palanques estaduais. A pré-campanha, quase dois meses depois de Alckmin ter deixado o governo, não tem comando político definido.

Quem fala pelo ex-governador são figuras sem trânsito fora de São Paulo: Samuel Moreira, Silvio Torres e Luiz Felipe D´Ávila. Tucanos com peso regional, como os ex-governador­es Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR), estão até aqui alijados de decisões.

Para um aliado de Alckmin, a pressão é natural e o tucano sairá da imobilidad­e a tempo.

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