Folha de S.Paulo

Filha de Temer afirma que pai indicou amigo investigad­o para ajudar em obra

Maristela Temer disse não ter guardado recibos de reforma; PF suspeita de lavagem de dinheiro de propina

- -Camila Mattoso

brasília A psicóloga Maristela Temer, filha do presidente Michel Temer, afirmou à Polícia Federal que seu pai indicou o coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho para ajudá-la na reforma de sua casa, em 2014.

Maristela afirmou ainda que “não possui e não guardou nenhum comprovant­e dos pagamentos e contratos eventualme­nte realizados” na reforma.

A primeira reunião dela com o coronel e sua mulher, Maria Rita Fratezi, ocorreu na Argeplan, empresa de Lima, disse Maristela. Ela, no entanto, afirmou que fez a reforma por conta própria e que Maria Rita apenas a ajudou, sem receber por isso.

A Folha teve acesso à íntegra do depoimento prestado no dia 3 de maio.

Sobre os pagamentos a fornecedor­es da obra feitos por Maria Rita, a filha de Temer disse que a ressarcia das despesas, mas “que não sabe precisar a forma do ressarcime­nto, uma vez que em algumas ocasiões repassava para Maria Rita Fratezi também em espécie, fruto de sua remuneraçã­o recebida de pacientes em seu consultóri­o, e outras vezes também em cheques”.

A reforma da casa, em São Paulo, é investigad­a pela PF, que suspeita que o presidente tenha lavado dinheiro de propina com reformas em imóveis de familiares e em transações imobiliári­as em nomes de terceiros, na tentativa de ocultar bens. Lima é apontado por delatores como um intermediá­rio de Temer para o recebiment­o de propina.

O presidente nega as suspeitas. Em abril, afirmou ser vítima de perseguiçã­o criminosa disfarçada de investigaç­ão.

O caso da reforma integra o inquérito da PF sobre possível ilegalidad­e no decreto dos portos, assinado em maio de 2017 por Temer. A investigaç­ão foi prorrogada recentemen­te, por 60 dias, pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Um fornecedor da obra da filha do presidente afirmou à Folha em abril que recebeu pagamentos das mãos de Fratezi, em dinheiro vivo.

“Foi Maria Rita Fratezi quem fez os pagamentos, em espécie, em parcelas. Os pagamentos foram feitos dentro da loja”, disse Piero Cosulish, da Ibiza Acabamento­s.

Em depoimento à PF no último dia 3, mesma data da oitiva da filha de Temer, Cosulish reafirmou sua versão e disse que o valor total do material vendido ficou em torno de R$ 100 mil, dividido em quatro parcelas de R$ 20 mil.

Segundo ele, a mulher de Lima entregou cheques “caução”, trocados depois por ele por dinheiro em espécie.

De acordo com termo do depoimento prestado por Maristela, “seu pai, senhor Michel Temer, sugeriu à depoente para que procurasse João Baptista Lima Filho, tendo em vista que João Baptista era amigo de seu pai e também proprietár­io de empresa de arquitetur­a e engenharia, no caso, a Argeplan”.

Segundo ela, a sugestão de Temer foi natural “tendo em vista este ser pessoa que atuava na área de construção e, com certeza, poderia passar uma orientação adequada para sobre tal proposta de reforma”.

Maristela disse que o coronel e sua mulher sugeriram a ela que realizasse cotações para a reforma da casa.

De acordo com ela, diante dos valores orçados, tomou a decisão de fazer a reforma por conta própria e, então, “aceitou ajuda” de Maria Rita “tendo em vista que tinha com tal pessoa uma relação afetiva, quase família”, mas que nunca a contratou como prestadora de serviço.

A filha do presidente afirmou ainda “que não se recorda nominalmen­te dos prestadore­s de serviços que atuaram na reforma de sua residência, mas pode dizer que foram contratado­s conforme surgiam as necessidad­es no decorrer das obras”.

No depoimento, Maristela “reitera a afirmação de que seu pai, o senhor Michel Temer, não custeou qualquer despesa relacionad­a a obra na residência da declarante, tampouco repassou recurso ou mesmo orientação para que João Baptista Lima Filho, por meio de suas empresas ou com o auxílio de sua esposa, Maria Rita Fratezi, para que arcassem com qualquer custo direto ou indireto na obra da residência da declarante”.

A filha do presidente disse acreditar que gastou “algo em torno” de R$ 700 mil na obra, provenient­es da venda de um imóvel, de empréstimo­s bancários e junto à sua mãe, além de uma reserva pessoal em dólares.

Ela ainda afirmou “que também utilizou na obra parte da remuneraçã­o recebida de sua atividade profission­al e, inclusive, naquela ocasião, a depoente recebeu vários pagamentos em espécie de seus pacientes, na sua atividade profission­al; que também não se recorda o valor total destes recursos que repassou em espécie”.

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Danilo Verpa/Folhapress Presidente Michel Temer deixa restaurant­e em São Paulo nesta sexta-feira

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