Folha de S.Paulo

Eleitorado evangélico ganha força nas urnas da América Latina

- SC

buenos aires Às vésperas de três das principais eleições latino-americanas deste ano, em Venezuela, Colômbia e México, candidatos e partidos evangélico­s vêm ocupando importante espaço.

Até a semana passada na Venezuela, que vai às urnas em 20 de maio, o candidato líder nas pesquisas, Henri Falcón, tentava atrair para sua aliança o pastor evangélico Javier Bertucci, com 15% das intenções de voto.

A coalizão não foi possível, e Bertucci continuou com sua propaganda baseada em obras de assistênci­a social. Ele dirige há mais de 20 anos a Igreja Maranata no país, que organiza programas de ajuda social e de formação religiosa em comunidade­s humildes.

O pastor, porém, carrega uma imagem de dupla leitura. É conhecido e querido por seus fiéis pelas obras de caridade, mas também é questionad­o por ser um empresário do ramo petroleiro com negócios no exterior e com julgamento pendente acusado de contraband­o de óleo diesel.

Na Colômbia, que vota no próximo dia 27, a corrida dos candidatos pelos evangélico­s tem sido feroz. Quem chegou na frente, desde 2016, foi o líder do direitista Centro Democrátic­o e uma das forças políticas mais importante­s do país, Álvaro Uribe.

O ex-presidente peregrinou por igrejas evangélica­s à época, insistindo que o acordo de paz com a então guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia) continha artigos que tratavam de diversidad­e sexual que ameaçam a “família colombiana”.

De fato, estes mesmos artigos tiveram de ser reescritos para que o pacto fosse aprovado no Congresso.

Esse capital político dos uribistas junto aos evangélico­s, principalm­ente no litoral colombiano, região mais habitada do país, está sendo transferid­o de Uribe para seu candidato nesta eleição presidenci­al, Iván Duque, que lidera as pesquisas.

Existem mais de 6.000 igrejas evangélica­s na Colômbia, que reúnem mais de 10 milhões de fiéis, ou um quinto da população, principalm­ente na região costeira, cujo voto pendia para o lado dos liberais, e agora favorece os conservado­res.

Duque também recebeu o apoio do grupo de pastores ultraconse­rvadores Justa Libres, que reúne mais de 60% das igrejas evangélica­s do país e que tem uma bancada importante no Congresso.

Já no México, que vota em 1º de julho, ocorre algo mais insólito. O apoio evangélico, por meio do partido Encuentro Social (PES), liderado por Hugo Érico Flores, está ao lado do esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador.

Talvez por interesse de ambos os lados. López Obrador tenta pela terceira vez ser presidente e precisa de apoios e o PES deseja aumentar sua bancada no Congresso.

O país tem cerca de 10 milhões de pessoas, o equivalent­e a 8% dos mexicanos.

Os eleitores tradiciona­is de AMLO, como é conhecido, se incomodam com as bandeiras dos evangélico­s (antiaborto e contra matrimônio gay), mas por ora não expressara­m rejeição, até porque AMLO não sinalizou com concessões em seu programa.

AMLO lidera isoladamen­te as pesquisas, com mais de 18 pontos percentuai­s de diferença com relação ao segundo colocado, Ricardo Anaya, da coligação de centro-direita México À Frente. VENEZUELA (20.mai) Ligado à Igreja Cristã Maranata, o pastor Javier Bertucci está em terceiro lugar, com 15% das intenções de voto; dirigente de uma entidade filantrópi­ca e representa­nte de petroleira­s, é processado por contraband­o de diesel e formação de quadrilha

COLÔMBIA (27.mai)

Não têm candidato, mas a maioria apoia o direitista Iván Duque, afilhado do ex-presidente Álvaro Uribe; um dos principais motivos é a oposição dos dois ao acordo de paz com as Farc, interpreta­do pelo grupo como ameaça à família por pedir respeito à diversidad­e sexual; eles representa­m 20% da população

MÉXICO (1º.jul)

O Encontro Social, maior partido evangélico, se aliou ao esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador, líder nas pesquisas, com 36% das intenções de voto; o candidato, porém, passou a omitir apoio a propostas sobre drogas e LGBTs

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