Folha de S.Paulo

Massacre em escola no Texas deixa 10 mortos

Suposto atirador é o aluno Dimitrios Pagourtzis, 17, detido pela polícia após 4º ataque mais letal a colégio nos EUA em duas décadas

- -Silas Martí *Em escolas de ensino infantil, fundamenta­l e médio Reuters

nova york O dia em que dez pessoas (nove alunos e um professor) foram mortas a tiros numa escola de Santa Fe (Texas), no 4º mais letal ataque a um colégio americano desde 1999, começou com o som de um alarme de incêndio seguido de disparos e gritos desesperad­os das vítimas.

Muitos dos estudantes não viram o suposto atirador, um aluno de 17 anos chamado Dimitrios Pagourtzis, já detido pelos policiais, mas se lembram horrorizad­os dos ruídos da chacina que acontecia ali.

“Ouvi bum, bum, bum, e então saí correndo para me esconder no bosque e ligar para a minha mãe”, disse uma aluna às câmeras de TV. “Ninguém deveria passar por isso, ninguém deveria sentir essa dor.”

Outra aluna, Angelica Martinez, conta que saiu correndo da sala de aula quando ouviu o alarme de incêndio, pensando ser só uma simulação, e então ouviu os primeiros tiros.

“Eu só corria. Parecia que os tiros estavam vindo de dentro da escola”, ela lembra. “Logo que ouvi os disparos, liguei para minha mãe e disse que havia um atirador e que estavam tentando tirar todo mundo do prédio.”

Na hora do ataque, por volta das 7h45 no horário local (9h45 em Brasília), dois policiais estavam no colégio e tentaram conter o atirador. Um deles ficou ferido e foi internado em estado grave.

Uma aluna que se escondeu no auditório da escola conta que não demorou para entender o que aconteceu. “Ouvi uns barulhos muito altos, não sabia o que eram na hora, mas aí, quando ouvi os gritos, entendi. Isso está acontecend­o em todos os lugares, então pensei que também poderia acabar ocorrendo aqui.”

O estudante Tyler Turner, que disse ter visto um menino suspeito no corredor, conseguiu sair do colégio e lembra ver também algumas vítimas que fugiram, entre elas uma menina baleada no joelho — outros dez feridos no ataque foram encaminhad­os a hospitais nos arredores.

Ele conta ainda que alguém acionou o alarme de incêndio quando notou que um garoto estava armado, na tentativa de esvaziar o colégio o mais rapidament­e possível. Outras testemunha­s, no entanto, dizem que o próprio atirador ou um cúmplice teria disparado o alarme para alvejar estudantes enquanto saíam das salas. Dois suspeitos de colaborar com o autor do massacre foram interrogad­os.

Bombas caseiras e panelas de pressão, usadas para montar explosivos, foram encontrada­s na cena do crime e no trailer onde o suspeito vivia. Semanas antes do ataque, Pagourtzis publicou em redes sociais imagens de um revólver, de uma faca e de um lançachama­s, além da foto de uma camiseta com a frase “nascido para matar”.

Segundo o governador do Texas, Greg Abbott, o jovem planejava se matar após fazer suas vítimas, mas se entregou aos policiais.

O suposto atirador, que usou uma espingarda e um revólver de seu pai no ataque, não tinha nenhum antecedent­e criminal e era conhecido por sua atuação na defesa do time de futebol americano da escola.

Isso explica o choque de muitos dos 1.400 alunos da Santa Fe High School ao descobrir que ele era o suspeito.

Mas, segundo o aluno Dustin Severin, o adolescent­e era alvo de bullying por parte de outros colegas e de técnicos da equipe de futebol americano.

“Ele não conversava com ninguém”, afirmou Severin a uma rede de TV. “Os meus amigos da equipe de futebol me contavam que os técnicos falavam que ele fedia, bem na cara dele. E outros meninos olhavam para ele e ficavam rindo. Não era nada físico, mas um bullying emocional.”

A estudante Grace Johnson, que se escondeu com colegas e um professor no sótão, disse que “muitas crianças estavam tendo ataques de pânico, então ficamos num círculo e rezamos por todos”.

“Já tínhamos ensaiado o que fazer em casos de atiradores, por causa de Parkland”, disse ela, lembrando o massacre de 17 pessoas na escola da Flórida, em fevereiro, que reacendeu no país o debate sobre porte de armas.

O ataque em Santa Fe engrossa uma lista que só aumenta —16 casos como esse já foram registrado­s em 2018, o que equivale ao total de episódios de 2014. As mortes ali só ficam atrás dos massacres em Sandy Hook, em Newtown, (26 assassinad­os em 2012), Marjory Stoneman Douglas, em Parkland (17 em fevereiro deste ano), e Columbine, em Littleton (13 em 1999).

Vários alunos de Parkland usaram as redes sociais para pedir mais controle na venda de armas e expressar apoio às vítimas em Santa Fe.

“Escola de Santa Fe, vocês não merecem isso. Vocês merecem paz em toda a vida, não apenas após uma lápide ser colocada sobre a sua cabeça”, disse Emma Gonzales, sobreviven­te do ataque na Flórida. “Vocês merecem mais do que pensamento­s e preces, e após vocês nos apoiarem em protestos, nós estamos aqui para dar apoio e eco às suas vozes.”

O presidente americano Donald Trump disse estar “triste e de coração partido” com o ocorrido no Texas. “Isso já vem acontecend­o há muito tempo no nosso país, anos demais, décadas demais”, disse. “Minha administra­ção está determinad­a a fazer tudo que puder para proteger alunos e escolas e manter armas fora das mãos de quem representa uma ameaça. É um dia triste.”

A primeira-dama Melania Trump, que está hospitaliz­ada após se submeter a uma cirurgia no rim, também falou sobre o ataque. “Meu coração está em Santa Fe e com todos do Texas hoje.”

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Michael Ciaglo/The Houston Chronicle/AP Pessoas se abraçam diante de academia onde pais e alunos se reuniram após massacre em escola em Santa Fé, no Texas O ex-aluno Jeffrey Weise, 16, mata seu avô e a namorada dele antes de entrar na escola, onde mata sete alunos usando uma pistola e uma...

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