BC amplia munição para tentar conter dólar após a moeda fechar a R$ 3,74
Instabilidade no mercado suspende negociações de títulos públicos e causa queda da Bolsa
são paulo e brasília O BC (Banco Central) foi forçado a ampliar a atuação no mercado cambial pela segunda vez em uma semana após ver o dólar atingir a máxima de R$ 3,77 nesta sexta-feira (18), dia de forte instabilidade no mercado brasileiro.
Os principais termômetros financeiros reagiram. A Bolsa caiu. Negociações com títulos públicos ficaram suspensas por cerca de seis horas. Houve alta do CDS (credit default swap, indicador do risco de tomar calotes dos países).
A partir de segunda (21), o BC vai oferecer 15 mil novos contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), em leilão a ser realizado entre as 9h30 e as 9h40. A intervenção extra somará US$ 750 milhões.
Essa atuação se soma à rolagem regular dos contratos com vencimento em junho, o que evita um aumento maior da demanda por dólar. O BC informou ainda que poderá rever os montantes a serem vendidos e realizar outras atuações, se necessário.
Em nota, a autoridade monetária disse que sua atuação no mercado cambial é separada da política monetária.
“O Banco Central reitera que eventuais impactos de choques externos sobre a política monetária são delimitados por seus efeitos secundários sobre a inflação [ou seja, pela propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque]. Esses efeitos tendem a ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas e projeções de inflação ancoradas nas metas.”
No sexto dia de alta, o dólar comercial subiu 1,05%, para R$ 3,739, maior nível desde 15 de março de 2016 (R$ 3,764).
Foi a quarta semana de apreciação do dólar. A alta de 3,86% foi a maior desde a semana encerrada em 19 de maio de 2017, quando vazou a notícia do vazamento da delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS —a moeda americana subira 4,22%.
No mundo, o dólar subiu ante 25 das 30 principais divisas globais.
As turbulências afetaram a Bolsa brasileira, que recuou 0,65%, para 83.081 pontos. A desvalorização semanal foi de 2,51%. Outros mercados também sentiram a instabilidade. As negociações no Tesouro Direto ficaram suspensas entre as 9h50 e as 15h30, por causa da volatilidade elevada dos juros dos títulos públicos.
O CDS avançou 4,36%, para 202,7 pontos, maior nível desde setembro do ano passado.
Na semana, o Brasil foi o quarto país que mais viu seu risco subir em uma relação com 46 emergentes. Ficou atrás de Líbano, Turquia e África do Sul. Ao todo, 35 emergentes viram seu CDS aumentar no período.
A velocidade do avanço do dólar em relação ao real levantou, durante a sessão, questionamento sobre a necessidade de uma atuação maior do Banco Central para conter a alta da moeda americana.
A instabilidade no mercado financeiro brasileiro se intensificou a partir de quinta (17), um dia após o BC manter a taxa Selic em 6,5% ao ano.
“Começou esse efeito [de alta] na quinta, depois do Copom. O mercado se baseou, por uma entrevista do Ilan [Goldfajn, presidente do BC] à TV, em um corte de juros, que não aconteceu”, disse Ivan Kaiser, analista da Garín Investimentos.
“O efeito disso na curva curta de juros é muito grande.”
No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados subiram pelo segundo dia. Um indicador é o DI, contrato que sinaliza as expectativas de juros. O DI com vencimento em julho de 2018 avançou de 6,407% para 6,422%. O DI para janeiro de 2019 subiu de 6,600% para 6,695%.
Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec-Fipe (Centro de Estudos do Mercado de Capitais), também diz que a comunicação do Banco Central poderia ter sido mais clara. “A comunicação sinalizava que ia continuar baixando os juros. Houve uma frustração de expectativa do mercado”, afirma.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, a velocidade de valorização do dólar em uma semana sinaliza que “tem alguma coisa errada no mercado cambial brasileiro”.
“A reação da moeda brasileira está sendo muito mais forte do que se imaginava.”
Padovani vê espaço ainda para uma valorização de 2% a 3% do dólar no exterior e para uma depreciação maior do real. “Tínhamos um câmbio médio de R$ 3,40 em dezembro, agora aumentamos para R$ 3,50.” Leia mais nas págs. A24 e A25 Carlos Antonio Rocca diretor do Cemec Disparada do dólar é a alta acumulada da moeda americana no ano
é quanto a divisa dos Estados Unidos já ficou mais cara em 2018
A comunicação do Banco Central sinalizava que ia continuar baixando a taxa de juros no país. Houve uma frustração de expectativa do mercado com a manutenção da Selic em 6,5% ao ano