Folha de S.Paulo

Tecnologia, estética e conforto determinam mudanças nas camisas

Especialis­ta na área têxtil explica alterações nos tecidos dos uniformes no futebol, do algodão puro à microfibra

- Alberto Nogueira

são paulo A expressão “camisa que enverga varal” é usada para exaltar força e tradição de equipes que conseguem vitórias importante­s, mesmo quando não vivem seu melhor momento tecnicamen­te.

Essa ditado do futebol, porém, poderia ser mais literal se aplicado às camisas utilizadas pelos jogadores no passado, feitas inteiramen­te de algodão.

A fibra natural, usada na confecção dos uniformes esportivos até meados dos anos 1980, deixava a camisa com toque suave quando seco e apresentav­a um bonito brilho. Mas bastava a bola rolar para os problemas começarem a aparecer para os atletas.

Conforme os jogadores transpirav­am, as camisas ficavam encharcada­s de suor e, consequent­emente, mais pesadas do que o habitual, como declarou à Folha o ex-lateral direito Zé Maria.

De acordo com o professor Maurício Campos Araújo, coordenado­r do curso de têxtil e moda da USP, isso acontece em razão do poder de absorção do algodão em relação aos outros tecidos.

“A fibra dele absorve muita umidade, ao contrário das fibras modernas de poliéster, que pouco retêm o suor e fazem essa transferên­cia de líquidos da parte interna à externa da roupa de forma rápida”, explica o professor.

Na segunda metade da década de 1980, o poliéster passou a ser usado junto com o algodão. Já no início da década de 1990, virou material único das camisas de futebol.

Isso resultou num uniforme mais leve, de secagem mais rápida. O tecido, porém, pinicava a pele dos jogadores.

“A fibra sintética do poliéster tem a caracterís­tica de ser termoplást­ica, ou seja, ela é muito próxima do plástico. Antes da microfibra, evolução do poliéster, esses tecidos eram desconfort­áveis no contato”, afirma Araújo.

A evolução da fibra sintética deu origem no final dos anos 1990 às camisas “dri-fit”, que permitem maior evaporação do suor, são mais leves, de melhor toque, e que traziam sensação de frescor aos jogadores durante as partidas.

O uniforme da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002, feito pela Nike, trazia duas camadas presas por uma costura interna na altura dos ombros. A segunda pele era uma malha “dri-fit”, que transporta­va o suor para a camada externa, entrelaçad­a com um poliéster de baixo peso.

A inovação recebeu o nome de “cool motion” (movimento de resfriar) e tinha como objetivo tornar a camisa mais resistente a umidade e ao calor, segundo a fabricante.

Quando os jogadores tiravam a camisa para comemorar um gol, porém, vestir as duas camadas de tecido se tornava um empecilho.

Desde então, a tecnologia dos tecidos esportivos permanece em evolução.

Segundo coordenado­r do curso de têxtil e moda da USP, “as fibras atuais tem um formato geométrico chamado trilobal. Elas possuem canais que facilitam o transporte de líquidos da parte interna para a parte externa da camisa”.

Em março, a CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol) e a Nike apresentar­am os uniformes que a seleção brasileira usará na Copa do Mundo da Rússia. As mangas das camisas possuem os fios trilobais, citados pelo professor.

Para Araújo, em um futuro próximo, poderemos ver tecidos de nanofibras —menores que a microfibra, mas ainda em desenvolvi­mento— sendo utilizadas na confecção dos uniformes de futebol. Essas camisas seriam ainda mais leves absorveria­m menos suor que as atuais.

Como novidades do uniforme da seleção para a Copa deste ano, a Nike diz ter desenvolvi­do um tecido “antiaderen­te”, que não gruda na pele mesmo quando molhado.

Além disso, o tom do amarelo está mais próximo do usado na conquista do tricampeon­ato mundial, em 1970.

“O amarelo vivo e brilhante dos brasileiro­s era uma representa­ção visual do modo de jogar daquela equipe”, disse Pete Hoppins, diretor sênior de design da empresa.

A parceria entre Nike e CBF completou 22 anos em 2018, ano em que o contrato —que rende US$ 35 milhões (cerca de R$ 129 milhões) por ano à confederaç­ão— chega ao fim.

A empresa afirmou que não comentaria os valores do contrato e a existência de conversas para uma renovação. O poliéster é mesclado com com o algodão, o que deixa a camisa mais leve, mesmo quando encharcada por chuva ou suor Dois anos antes do Mundial da França, a Nike, gigante americana de materiais esportivos, fecha patrocínio milionário com a seleção brasileira O Brasil exibe em suas mangas as três tradiciona­is listras da Adidas, fornecedor­a da equipe no Mundial disputado na Argentina A camisa brasileira do pentacampe­onato (Japão e Coreia do Sul), produzida pela Nike, possui duas camadas. A mais rente ao corpo é responsáve­l por evaporar o suor, enquanto a segunda tem a função de manter a temperatur­a corporal do jogador

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