Folha de S.Paulo

Boleiro raiz, Zé Maria diz que só perna de pau sofre com equipament­os atuais

A convite da Folha, lateral direito das Copas de 1970 e 1974 testa equipament­o que será usado pelos jogadores no Mundial da Rússia

- Alberto Nogueira

são paulo “Parece que estou jogando descalço”. Assim o exjogador Zé Maria, 69, descreve a sensação de experiment­ar a chuteira que Neymar usará na Copa do Mundo da Rússia.

A fala é de quem começou no futebol profission­al em meados dos anos 1960, época em que ainda existiam chuteiras pesadas, com travas de couro presas com pregos, que muitas vezes causavam problemas para os pés dos atletas.

“No meu tempo a chuteira era totalmente diferente. Quem ainda dava um jeito nela e minimizava os problemas era o roupeiro. A trava era pregada. De vez em quando um preguinho pegava na sola e machucava o pé da gente.”

À pedido da Folha, o campeão do mundo em 1970 vestiu o uniforme completo da seleção e foi bater uma bola —a mesma do Mundial— no palco da abertura da Copa-2014: a Arena Corinthian­s.

Não falta propriedad­e ao exlateral direito para falar de seleção brasileira. Além de fazer parte do elenco campeão em 1970, Zé Maria disputou a Copa seguinte, na Alemanha, e esteve perto de jogar em 1978.

“No México eu estive lá, reserva de Carlos Alberto Torres, a quem devo muito. Joguei a de 1974 como titular e só não fui para 1978, na Argentina, por lesão”, conta.

Zé Maria lembra dos tempos de jogador com saudosismo. Bastou pisar no gramado da moderna casa corintiana para que ele respirasse fundo, olhasse para arquibanca­da e uma enxurrada de lembranças viessem à tona.

Vestido como o uniforme atual da seleção brasileira, ele falou de outras diferenças do futebol da sua época, dos campos esburacado­s às chuteiras coloridas de hoje.

“Além de ser mais confortáve­l, mais leve, a chuteira é totalmente diferente. Quem usou botina e agora coloca um negócio desse daqui... Parece de ouro. É impression­ante a evolução”, afirma.

Após dar alguns piques pelo gramado e chutes a gol, com direito a gritos de incentivo de torcedores que faziam um tour pela arena, o ex-lateral direito falou sobre a sensação de ter experiment­ado os novos equipament­os.

“A bola não é muito diferente, ela continua redonda”, brinca Zé Maria, que depois admite: “Na minha época era dura como uma pedra. Quando tomava uma bolada, a marca da costura dos gomos ficava marcada na pele.”

Não foi só maciez da bola da Copa-2018 e a leveza da chuteira de Neymar que chamaram a atenção do ídolo corintiano. O novo uniforme da seleção brasileira rendeu elogios de quem jogou com camisas feitas de algodão.

“Eu transpirei um pouco hoje e nem parece. A camisa está sequinha, como se eu tivesse acabado de colocá-la”, diz.

Enquanto falava com a reportagem, Zé Maria segurava a camisa azul do Brasil usada por ele no 2 a 1 sobre a Argentina na Copa de 1974, quando cruzou para Jairzinho marcar de cabeça o gol da vitória.

Feita toda em algodão pela Athleta —antiga empresa brasileira de vestuário esportivo—, a camisa, apesar de muito bonita, ficava mais pesada que o normal no corpo devido à absorção do suor.

“No intervalo dos jogos a gente sempre trocava a camisa por causa do tanto que ela ficava encharcada de suor, principalm­ente a minha, pois eu corria muito”, lembra.

Na mesma Copa, a de 1974, o uniforme dois fora usado também na derrota por 2 a 0 para a Holanda de Cruyff (1947-2016), em um jogo marcado pela violência. O zagueiro Luís Pereira acabara expulso após entrada em Neeskens.

Sem jogadores como Pelé e Tostão, o Brasil ficou apenas em quarto lugar. Mesmo assim, Zé Maria mostra orgulho em sua trajetória. “É sempre uma honra servir a seleção. Era o auge para qualquer um da minha época”, afirma.

Para o camisa 4 da seleção brasileira no Mundial da Alemanha, o peso do uniforme hoje está “apenas” na tradição da equipe pentacampe­ã do mundo, de tantos craques ao longo de sua história.

Ele cita, porém, que os jogadores atuais não tem desculpas se jogarem mal.

“Quem não consegue atuar num campo como esse, com equipament­os modernos de hoje, não tem condições de jogar bola. Tem que ser chamado de perna de pau”, finaliza.

A chuteira era totalmente diferente. A trava era pregada. De vez em quando um preguinho pegava na sola e machucava o pé

A bola era dura como uma pedra. Quando tomava uma bolada, a marca da costura dos gomos ficava marcada

Eu transpirei um pouco e nem parece. A camisa está sequinha. No intervalo, a gente sempre trocava a camisa. Ficava encharcada de suor

HVEJA VÍDEO DE ZÉ MARIA TESTANDO ITENS folha.com/tv

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Adriano Vizoni/Folhapress Zé Maria testa equipament­o atual da seleção brasileira no Itaquerão

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