Folha de S.Paulo

Os recibos sumiram

- Leandro Colon vinicius.mota@grupofolha.com.br

brasília O presidente Michel Temer deve anunciar nesta semana que desistiu de tentar a reeleição. Não passou de devaneio político de meia dúzia de aliados a possibilid­ade de uma candidatur­a do emedebista. A hipótese nunca foi levada a sério em Brasília. O “se colar, colou” não colou.

Um dos fatores que solaparam esse delírio palaciano foi o fortalecim­ento do inquérito da Polícia Federal sobre supostas irregulari­dades no decreto dos portos. As investigaç­ões tendem a ser concluídas até julho em meio às convenções partidária­s.

Ao apurar as falcatruas no setor portuário, a PF trombou com a estranha história de uma reforma na casa de uma das filhas de Temer, a psicóloga Maristela, em São Paulo.

A polícia suspeita que a obra seja fruto de esquema envolvendo o coronel João Baptista Lima Filho, amigo do peito do presidente e apontado como um possível elo de recebiment­o de propinas do emedebista.

A mulher do coronel, Maria Rita Fratezi, é peça-chave no enredo. Foi quem escolheu e pagou, em dinheiro vivo, os fornecedor­es. Ela visitava a casa de Maristela regularmen­te para acompanhar as mudanças que seriam feitas na residência em 2014.

A Folha divulgou na sexta-feira (18) o teor do depoimento prestado pela filha do presidente à PF no dia 3 de maio. O que ela disse torna mais nebuloso o caso. Maristela não esclareceu nada e deu uma versão que prejudica o rastreamen­to do dinheiro, o “follow the money” da reforma.

Ela afirmou que gastou em torno de R$ 700 mil, mas que “não possui e não guardou nenhum comprovant­e” de quitações e contratos. Confirmou que a mulher do coronel fez pagamentos. E como a ressarciu? Maristela disse que não lembra. Afinal, segundo ela, fez repasses em espécie à Maria Rita com dinheiro de pacientes atendidos em seu consultóri­o.

A defesa da filha de Temer pode dificultar a ação de investigad­ores porque carece de dados sobre a origem e o destino dos recursos. E não afasta as suspeitas que pairam sobre a obra e a influência de seu pai presidente para bancar as despesas.

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