Folha de S.Paulo

Romero Jucá

- Bernardo Caram

brasília Protagonis­ta de atritos com o Palácio do Planalto e hoje fora da base aliada, o PSDB é o partido mais fiel ao presidente Michel Temer nas votações considerad­as prioritári­as pelo governo.

Levantamen­to da Folha mostra que o MDB é apenas a terceira legenda que mais entrega votos favoráveis na Câmara em matérias de interesse do presidente.

De acordo com a Secretaria de Governo da Presidênci­a, os projetos aprovados na Câmara tidos como os mais importante­s pelo Planalto desde o início da gestão de Temer, em 2016, são: PEC do teto de gastos, reforma do ensino médio, terceiriza­ção, reforma trabalhist­a, intervençã­o federal no Rio de Janeiro e SUS da segurança pública.

A análise levou em conta os resultados obtidos em plenário em cada uma das votações, separando os placares de cada sigla. Com bancadas de tamanhos diferentes, a Folha calculou o percentual de votos favoráveis entregues pelas legendas. O levantamen­to também levou em conta a variação no tamanho de cada bancada ao longo do tempo.

Na média geral de todos os projetos, o PSDB apresentou 83,5% de votos favoráveis. Na segunda posição aparece o DEM, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que deu ao governo um apoio médio de 80,7%. Apesar de o MDB comandar o Palácio do Planalto, 78,9% de seus deputados votaram a favor do governo, o que faz da sigla a terceira mais fiel a Temer.

Um dos principais fiadores do impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff, o PSDB iniciou a gestão de Temer como um dos mais fortes aliados do emedebista.

Com as denúncias apresentad­as pela Procurador­iaGeral da República contra Temer, foram intensific­ados os atritos, e o partido passou a viver um racha.

Membros da bancada tucana na Câmara, apelidados de cabeças pretas por serem mais jovens, tiveram participaç­ão determinan­te no afastament­o político entre o PSDB e o Planalto.

Em novembro de 2017, o governo reconheceu que os tucanos já não faziam mais Fidelidade tucana supera a da base do presidente

Média de votos favoráveis entregues por cada bancada da Câmara em projetos de interesse do Planalto (teto de gastos, reforma do Ensino Médio, terceiriza­ção, reforma trabalhist­a, intervençã­o federal no Rio de Janeiro e Sistema Único de Segurança Pública) PSDB DEM MDB PP PRB PTB PSC PSD PR PSL Pode SD PHS PPS PV PEN PSB PROS Avante PDT Rede PCdoB PT PSol presidente do MDB, sobre o fato de a sigla não ser a mais fiel a Temer 83,5 parte da base aliada.

Apesar do desembarqu­e, a sigla continuou dando mais votos do que o MDB. Na análise em plenário da intervençã­o federal na segurança pública do Rio, por exemplo, o PSDB apresentou 91% de apoio; o PMDB contribuiu com 78%.

Entre as votações que o PSDB deu mais votos do que o MDB, está a do projeto que flexibiliz­a as regras trabalhist­as, relatado por um tucano.

No plenário da Câmara, 91% da bancada apoiou a proposta, enquanto 81% dos emedebista­s votaram a favor. No projeto sobre terceiriza­ção, o PSDB deu 70% de apoio ante 52% do MDB.

O presidente do MDB, Romero Jucá (RR), minimiza o fato de seu partido não ser o mais fiel a Temer. Ele argumenta que, além de questões regionais que motivam dissidênci­as, os deputados não são obrigados a votar seguindo a orientação da legenda se não houver fechamento de questão pela executiva nacional.

“Não estamos disputando fidelidade. O importante é o projeto ser aprovado e o partido votar maciçament­e”, disse.

O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT), diz que o partido decidiu apoiar o governo Temer com a condição de que reformas fossem aprovadas.

O deputado afirma que os tucanos apresentar­am uma lista de 15 prioridade­s no início da gestão do emedebista e que sete delas foram levadas adiante pelo governo.

“Era o casamento perfeito. Decidimos apoiar o governo se eles tivessem coragem de colocar essas reformas em votação”, disse. “São temas que estavam na pauta do PSDB. Nós mantivemos a coerência.”

Para Leitão, esse argumento será suficiente para descolar a imagem do PSDB em eventual disputa de um tucano contra um candidato do MDB.

“Esse apoio aos projetos não vai afetar a campanha. Mesmo com a pré-candidatur­a de Alckmin já lançada, nós não deixamos de apoiar projetos que consideram­os importante­s”, afirmou.

Entre os partidos de oposição a Temer, o PDT foi o que mais contribuiu com o Planalto, entregando em média 31,3% de votos favoráveis às propostas, seguido de Rede (25,0%), PCdoB (10,0%) e PT (1,2%).

A ponta inferior da tabela fica com a bancada do PSOL. O partido não apenas investe em manobras regimentai­s para tentar impedir a análise de propostas patrocinad­as pelo governo, como foi o único que não deu sequer um voto para Temer em todas as votações.

O líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), diz que fica feliz em conhecer o ranking. O deputado afirma que o partido tenta ser propositiv­o, mas, com uma bancada de seis deputados, não tem porte para derrubar um placar favorável ao Planalto.

“O governo tem maioria, sabe-se a que preço. O PSOL não é do time do ‘do contra’, é o time do ‘deveria ser de outro jeito’”, afirma.

Não estamos disputando fidelidade. O importante é o projeto ser aprovado e o partido votar maciçament­e

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