Folha de S.Paulo

Ala conservado­ra traz arcebispos de Rio e São Paulo, diz Bernardo

-

contra o fundador da CNBB, dom Helder Câmara (19091999), a quem se refere como “o arcebispo vermelho”.

Era um desafeto do regime que se instaurou no mesmo mês em que virou arcebispo de Olinda e Recife, abril de 1964. Ao arcebispo, tido como inimigo pelos militares, se atribuiu a frase “quando dou comida aos pobres, me chamam de santo, quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”.

Em sua videografi­a, Bernardo destrincha indícios do que vê como “esquerdiza­ção” na Igreja Católica brasileira. Tem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, elogiando a CNBB. Outra imagem aponta a presença da Cáritas, braço da Igreja que se diz voltado “aos excluídos e excluídas”, no Fórum Social Mundial deste ano, visto como uma “esquerdolâ­ndia”.

O presidente da Cáritas, dom João Costa, é alvo preferenci­al. Bernardo reproduz uma entrevista em que o hoje arcebispo de Aracaju define sua ida a um comício de Lula em 1989 como “um dos momentos mais belos da minha vida”.O youtuberin­daga:por que não eleger um momento religioso como o mais belo?

Por meio de uma edição engraçadin­ha, as críticas são intercalad­as com cenas como a que Lula fala para a câmera: “Chupa que a cana é doce”.

O paranaense lembra da condenação do pontificad­o de Pio 12 (1939-1958) ao comunismo, num decreto de 1949. “Aqueles que se aliam [ao movimento] são excomungad­os.”

Bernardo se considera, “sem modéstia”, o “maior” dos ativistas cristãos leigos —e destaca que sua ascensão se deu justamente em 2018, que a CNBB instituiu como “o ano do laicato”, que incentiva o papel do católico na vida eclesial.

A “chave do sucesso”, para ele, é “um clichezão”: a linguagem humorístic­a, “porque tem que ter um pouco de mojo”, e sua independên­cia. A despeito do que desafetos falam, diz, ele é independen­te —não tem “mecenas algum” patrocinan­do seu conteúdo.

“O brasileiro tem uma mania O youtuber Bernardo Küster em igreja em Londrina (PR) grande de achar que é impossível alguém agir por simples obrigação moral interior”, afirma por telefone à Folha, de Londrina, onde vive.

O que ele diz ter é o apoio moral “de muitos religiosos, com carmelos inteiros rezando por mim, pelo menos dez grandes bispos me apoiando, mas jamais publicamen­te” — para não criar indisposiç­ão dentro da Igreja, afirma.

Se não diz diretament­e quem o apoia, Bernardo elenca quem são os nomes conservado­res do bispado: os arcebispos Odilo Scherer (São Paulo), Orani Tempesta (Rio) e Fernando Guimarães (do Ordinariad­o Militar do Brasil) e dom Henrique Soares, da Diocese de Palmares (PE).

O youtuber está com o padre Paulo Ricardo numa foto em seu perfil no Facebook. Autor de textos como “o governo Dilma prepara-se para implantar aborto no Brasil”, o clérigo já foi chamado de “Malafaia da Igreja Católica” por blogs de esquerda.

Dom Leonardo Steiner é apontado como o “homem mais poderoso da CNBB”, do qual é secretário-geral. O religioso, segundo Bernardo, traz a esquerda em seu DNA eclesiásti­co. Seu mentor seria dom Pedro Casalgálid­a, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia e um dos maiores expoentes da progressis­ta Teologia da Libertação.

Frei Betto chama dom Pedro de “santo e herói”, e João Pedro Stedile, ideólogo do MST, já o comparou a Che Guevara.

Protagonis­ta de um vídeo produzido pelo leigo católico e visto 117 mil vezes, dom Leonardo sofreu um infarto (do qual se recupera) às vésperas da Assembleia-Geral da CNBB, em abril. “Dizem que é por minha culpa”, afirma Bernardo.

O presidente da CNBB, cardeal Sérgio da Rocha, ocupa um cargo de “honra, como a rainha da Inglaterra”, e é “permissivo” com o esquerdism­o no órgão, segundo o ativista.

Após ampla repercussã­o em outras redes, o próximo desafio ele já decretou: turbinar seu Twitter, seguido por 12 mil.

Por lá escreve que, em vez de duas horas de banho de sol, o detento Lula poderia ter “duas horas de sova”. Achincalha outras causas caras a progressis­tas: “Deus tá vendo você falar que povos indígenas têm direito à terra porque estavam nela primeiro, mas grita que Israel deve abrir mão de seu território, mesmo que os judeus estejam lá milênios antes de seus inimigos”.

Procurada pela Folha ,a CNBB não se manifestou até a conclusão desta reportagem.

 ?? Sergio Ranalli/Folhapress ??
Sergio Ranalli/Folhapress
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil