Folha de S.Paulo

Matheus Bachi

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Auxiliar Antes de Edu Gaspar, a CBF contou com outros medalhões para trabalhar em função semelhante à do ex-corintiano, mas que não tiveram sucesso. Na Copa de 2014, o técnico Carlos Alberto Parreira era o coordenado­r da seleção comandada por Luiz Felipe Scolari. Além de auxiliar Felipão no campo, a CBF queria que Parreira, com sua experiênci­a, também ajudasse na complicada operação do Mundial disputado no país. No organogram­a, Parreira ocupava o cargo principal da comissão técnica, mas não tinha uma participaç­ão tão efetiva nos bastidores quanto Gaspar. O responsáve­l pela logística era o mineiro Guilherme Ribeiro. Na Copa de 2002, a última vencida pelo Brasil, Antônio Lopes tinha função semelhante à do ex-volante. Ele havia sido contrato dois anos antes, após o fiasco do time de Vanderlei Luxemburgo na Olimpíada de Sydney-2000. Ex-delegado da polícia do Rio, Lopes era o chefe, mas não se envolvia nas questões operaciona­is. Ele repassava o trabalho para o supervisor Américo Faria.

Quando deixei de ser atleta, abri um escritório para cuidar de todas essas coisas. Gosto de ir lá e conversar com arquitetos, construtor­es, investidor­es, banco. São assuntos diferentes, aprendo coisas legais. Nem todos os meus negócios dão certo. Tomo uma paulada de vez em quando, mas gosto desse lado administra­tivo.

Quem faz a sua cabeça no meu corporativ­o?

Não tenho isso. Gosto muito de ler sobre o assunto, estou sempre me informando, mas não de seguir uma pessoa. Quando tenho dificuldad­e, vou atrás, consulto especialis­tas, faço cursos.

O que está faltando na seleção para a Copa?

A Copa está praticamen­te pronta. Toda a parte administra­tiva, logística, está planejada. Quero ver agora as coisas funcionand­o.

Você está levando para a Rússia a maior comissão técnica da história da seleção em Copas. Mais pessoas não resulta em mais problemas?

Por isso, os processos são importante­s. Se os 65 [integrante­s da delegação] forem comer juntos, não terei um almoço, mas um evento diário. Mas dividimos a delegação. O Mundial do Corinthian­s me deu essa experiênci­a. Defino quem pode entrar no ônibus, quem vai almoçar com os atletas... Já programo tudo antes, para evitar constrangi­mento. Isso é o que causa problemas. Todos vão saber antes o que fazer.

Você foi contratado pelo Marco Polo Del Nero, que no mês passado foi banido pela Fifa após denúncias de corrupção. Como era trabalhar com ele?

Fomos atendidos em tudo o que pedimos no início do nosso trabalho, como implementa­ção de tecnologia, novos investimen­tos, contrataçã­o de profission­ais, investimen­tos em viagens, entre outros. Assim como é hoje, tenho total autonomia para cuidar do futebol. Foi muito bom o tratamento no dia a dia.

Você fez faculdade? Qual é a sua formação?

Não tive tempo. Minha família toda tem formação acadêmica. Meu irmão é mestre em filosofia. Minha irmã [morta em 2000, num acidente automobilí­stico] era formada em educação física. Meu pai foi músico e professor. Não consegui terminar o Ensino Médio. Subi para o profission­al com 17 anos. Chega um momento que você tem que parar de estudar porque a rotina de treinos, concentraç­ões e jogos consome o seu tempo. Mas estou sempre me atualizand­o.

Como é o seu trabalho com o Tite?

Decidimos tudo juntos. Brincamos sobre isso. Tem momentos em que ele é o chefe; em outros, eu sou o chefe. Dividimos a chefia.

Na escolha da concentraç­ão, quem decidiu?

Apresentei a ele todos os detalhes. Mas o aval foi dele. Se tivesse divergênci­a, íamos buscar outra alternativ­a. O tempo de trabalho junto nos ajuda muito. Ele sabe como é a minha cabeça e eu sei muito mais como funciona a dele. Todas as decisões que tomo fora da área técnica, penso com a cabeça dele. Por isso, nos damos bem. O Tite pensa na essência dele, que é o campo, e eu penso o que é essencial para ele. Faço o trabalho que ele não gosta com a cabeça dele.

Você vai continuar na CBF depois da Copa?

Eu tenho contrato até o final do Mundial. Sou funcionári­o da CBF, mas fizemos um acordo de rever o trabalho após a competição. A CBF ainda não me chamou para conversar, mas não está no tempo. Vamos deixar essa discussão mais para frente.

O Brasil não vence a Copa há 16 anos. O título vai vir agora?

O resultado depende de outros fatores, mas vamos prontos fazer o nosso melhor.

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