Folha de S.Paulo

Elsinho Mouco e a vírgula

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Se não parar na cadeia depois (e mesmo assim, em muitos casos, a cana é breve e leve, pois pode ser curtida na própria casa), dar uma de marqueteir­o é das melhores e mais bem pagas profissões que se pode exercer no país da informalid­ade, do emprego intermiten­te e dos milhões de desalentad­os —que é como o IBGE define as pessoas que deixaram de procurar uma vaga de trabalho porque avaliam que não vão conseguir.

Elsinho Mouco não possui cargo formal no governo, mas tem um gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, próximo das salas dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, o núcleo duro do poder sob Temer. A revista Época fez um perfil dele, por Bela Megale, no qual se afirma que Elsinho usa gel nos cabelos, não é um profission­al de primeira linha, não tem grandes campanhas no currículo e nenhum candidato venceu uma eleição graças a sua inventivid­ade.

Antes mesmo do impeachmen­t de Dilma, aproveitou o dístico positivist­a da bandeira nacional, Ordem e Progresso, para ser o mote da mudança. Modesto, espalhou que a sacada tinha sido de Michelzinh­o, o filho do presidente, na época com 7 anos. No auge da crise provocada pela delação do empresário Joesley Batista, soprou ao ouvido de Temer a frase “Não renunciare­i”. Elsinho sugeriu usar o “Tem que manter isso” como bordão publicitár­io das realizaçõe­s reformista­s. Mas — que pena!— não agradou.

O marqueteir­o está por trás da intervençã­o na segurança do Rio de Janeiro, negociada nos bastidores como uma oportunida­de para deslanchar a campanha à reeleição de Temer, um dos presidente­s mais impopulari­dades da história. E do slogan escolhido para exaltar os dois anos do patrão no cargo —“O Brasil voltou, 20 anos em 2”—, o qual, interpreta­do como ato falho, foi cancelado.

Como síntese, é perfeito: resume o período de Temer no governo a uma vírgula. Mal empregada.

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