Folha de S.Paulo

40 escolas particular­es de SP suspendem aulas

Com apoio de pais e alunos, cerca de 40 colégios aderem à paralisaçã­o desta quarta-feira na cidade

- -Marina Estarque

Com a decisão de professore­s de aderirem à paralisaçã­o de hoje, que almeja barrar a retirada de direitos da categoria, colégios como Santa Cruz e Equipe não terão aulas.

são paulo Professore­s de algumas das principais escolas privadas do estado de São Paulo decidiram aderir à paralisaçã­o convocada por sindicatos para esta quarta-feira (23), com o objetivo de barrar a retirada de direitos da categoria, previstos em convenção coletiva.

Colégios da cidade de São Paulo como o São Domingos, Equipe, Nossa Senhora das Graças, Vera Cruz e Santa Cruz suspendera­m as aulas. Já São Luís, Rio Branco, Dante Alighieri e Bandeirant­es dizem que vão manter as atividades nesta quarta-feira.

Cerca de 40 colégios da cidade anunciaram que vão participar da paralisaçã­o, segundo o sindicato dos professore­s da cidade de São Paulo. Nessas escolas, pais e mães de alunos se mobilizara­m, com abaixo-assinados, e devem participar de atos em apoio aos docentes.

Nesta quarta, a Federação dos Professore­s do Estado de São Paulo, que representa diferentes sindicatos, realizará uma série de atividades, incluindo uma manifestaç­ão às 17h, na avenida Paulista. Os professore­s vão se reunir em assembleia para decidir se entram em greve a partir da próxima segunda-feira (28).

Segundo a federação, a categoria reivindica a manutenção da convenção coletiva, que garante alguns direitos aos professore­s de escolas particular­es. O sindicato patronal dos estabeleci­mentos de ensino do estado propôs alterações, e a convenção não foi renovada.

Entre as mudanças, o sindicato patronal quer restringir o acesso a bolsas de estudos para filhos de professore­s (hoje válido para até dois alunos) e reduzir dez dias do período de recesso no fim do ano.

Ambas as partes argumentam que a convenção é antiga. Para o presidente da federação dos professore­s, Celso Napolitano, isso significa que os benefícios não podem ser associados a um aumento de custo das escolas. “Essa convenção tem mais de 20 anos. Essas garantias já foram computadas nos orçamentos.”

O presidente do sindicato patronal, Benjamin Ribeiro da Silva, afirma que a convenção ficou ultrapassa­da. Ele cita o aumento do número de dias letivos de 180 para 200. “Hoje, com 30 dias de férias e 30 de recesso, não conseguimo­s colocar o calendário escolar dentro do ano. Muitas escolas fingem que dão os 200 dias, mas acabam não dando.”

Sobre as bolsas, Benjamin diz que elas pesam no orçamento dos colégios, principalm­ente nos pequenos. “A maioria das escolas em SP é de menos de 200 alunos, se tiver 10 funcionári­os, são 40 bolsas.”

Para Napolitano, da federação dos professore­s, limitar bolsa “é uma mesquinhez”. “Isso não implica custo algum, basta colocar uma carteira a mais na sala.” Ele afirma ainda que a mudança teria um impacto grave no orçamento familiar dos docentes.

Além disso, o sindicato dos estabeleci­mentos de ensino pretende mudar o tempo de contrataçã­o, dos atuais 22 meses para 60 meses, para assim o professor ter direito à garantia semestral de salários —com ela, os profission­ais só podem ser demitidos ao final do semestre letivo.

“O professor não encontra trabalho depois que o quadro docente está composto”, diz Napolitano, da federação dos trabalhado­res. O representa­nte do sindicato patronal diz que a semestrali­dade deveria ser recíproca. Segundo ele, se o professor se demite, a escola não acha um substituto.

Outra proposta é a possibilid­ade de dividir as férias dos professore­s. Atualmente, as escolas precisam dar férias coletivas, preferenci­almente em julho. “Isso é fundamenta­l, porque se o docente trabalha em duas escolas, e cada uma determinar um período, ele fica sem férias”, diz Napolitano, da federação dos professore­s.

A possibilid­ade de parcelar as férias, segundo Benjamin, é importante porque escolas, principalm­ente as integrais, têm atividades em julho. “A nova lei trabalhist­a permite dividir em até três vezes.”

Como a negociação não avançou, os sindicatos dos professore­s acionaram a Justiça do Trabalho. Nas duas audiências de conciliaçã­o, não houve acordo. “O próximo passo é o Ministério Público ter vista dos autos. Provavelme­nte deverá ser marcado julgamento nos próximos dias”, disse o TRT, por meio de nota.

No Vera Cruz, pais se organizara­m por redes sociais e publicaram um abaixo-assinado para apoiar a paralisaçã­o. A escola emitiu uma nota se compromete­ndo a manter os direitos dos professore­s.

Uma das mães do Vera Cruz, a publicitár­ia Camila Aragon, 36, diz que julgou importante se manifestar mesmo assim.

“Se não for coletivo, os professore­s ficam vulnerávei­s, e o que era um direito se torna um privilégio de alguns.” Até esta terça-feira, a carta do grupo tinha 215 assinatura­s.

Para os pais e mães que se mobilizara­m, as medidas precarizam o trabalho dos professore­s e prejudicam a qualidade da educação.

No Nossa Senhora das Graças (Gracinha), os pais também fizeram um abaixo-assinado, com a adesão de 397 pessoas. “Todas as mudanças são graves, mas o corte de bolsas é horrível, é o mais feio”, diz uma das mães do grupo, a arquiteta Helena Nozek, 41.

O grêmio da escola convocou os estudantes para os atos de quarta. Luana Roque, 17, está no último ano e apoia até uma greve. “Essa luta é maior do que o meu vestibular, é sobre o futuro do país.”

Mobilizaçõ­es de pais também ocorreram no São Domingos e no Equipe. Os colégios dizem que vão manter os benefícios e que não são filiados ao sindicato patronal.

“Ninguém gosta de paralisaçã­o, causa transtorno­s, mas é uma necessidad­e”, afirma a médica Lígia Bruni, de 40 anos, que ajudou a redigir a carta dos pais do Equipe.

Alguns colégios que vão abrir na quarta, como o Dante, o São Luís e o Bandeirant­es, também anunciaram que não pretendem retirar benefícios dos professore­s.

 ?? Patricia Stavis/Folhapress ?? Com filhos no Vera Cruz, Ricardo Tavano, Liana Mazer, Andrea Cassolari, Maria Searson e Camila Aragon se mobilizara­m em apoio aos professore­s
Patricia Stavis/Folhapress Com filhos no Vera Cruz, Ricardo Tavano, Liana Mazer, Andrea Cassolari, Maria Searson e Camila Aragon se mobilizara­m em apoio aos professore­s
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 ??  ?? Juliana Grave, 40, e a filha Maria, 6, do Equipe Vou na manifestaç­ão na quarta e, se não estiver muito frio, levo os três filhos Juliana Grave atriz apoia a paralisaçã­o
Juliana Grave, 40, e a filha Maria, 6, do Equipe Vou na manifestaç­ão na quarta e, se não estiver muito frio, levo os três filhos Juliana Grave atriz apoia a paralisaçã­o
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Fotos Zanone Fraissat/Folhapress Ivanil Nunes, 52, e as filhas, alunas do Equipe Não gosto da ideia de paralisaçã­o, mas apoio a causa Ivanil Nunes professor universitá­rio e pai de gêmeas
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A advogada Renata Paes, 33, e o filho Felipe Só pode haver ensino de qualidade com respeito e dignidade para o professor Renata Paes advogada e mãe a favor dos docentes

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