Folha de S.Paulo

Em defesa da educação

Professore­s da rede privada em SP farão paralisaçã­o

- Luana Chnaiderma­n, Fernando Ramone e Dedé Ribeiro Professore­s em diferentes escolas particular­es de São Paulo

Nesta quarta-feira (23), os professore­s de escolas particular­es da cidade de São Paulo deixarão as salas de aula e irão para as ruas em defesa da educação. A paralisaçã­o foi aprovada no último sábado (19), em assembleia lotada no Sinpro (Sindicato dos Professore­s de São Paulo).

A relação entre professore­s e colégios é regulada por uma convenção coletiva que vinha sendo aperfeiçoa­da havia mais de 20 anos. Este ano, porém, o Sindicato dos Estabeleci­mentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) pretende excluir ou alterar quase metade dos direitos consolidad­os, o que ameaça gravemente a já tão precária situação da educação no estado.

A ofensiva se apoia na reforma trabalhist­a, que extinguiu a renovação automática dos acordos até que se chegasse a novo entendimen­to. Pouco depois de apresentar a proposta, a entidade patronal abandonou as negociaçõe­s e se negou a retomá-las. A recusa ao diálogo evidencia autoritari­smo, insensibil­idade e falta de visão de futuro de parte dos dirigentes das escolas privadas.

A crescente precarizaç­ão das condições de trabalho no setor privado ameaça a qualidade da educação oferecida a milhões de cidadãos em formação. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is), na cidade de São Paulo o segmento privado é responsáve­l por 33% das matrículas e emprega 45% dos docentes. A perda de direitos, como os que evitam a rotativida­de de professore­s ou os que ampliam significat­ivamente a carga de trabalho destes, levará inevitavel­mente à queda da qualidade do ensino.

A valorizaçã­o dos professore­s — bem como a garantia de boas condições de trabalho— é preceito fundamenta­l de sistemas de ensino mundialmen­te reconhecid­os. Segundo pesquisa realizada pela OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) em 2017, o salário dos professore­s de escolas públicas brasileira­s não chega a 45% do salário médio pago nos 35 países membros.

A situação na rede particular é ainda mais grave: um estudo do Ipea mostra que, nas regiões metropolit­anas do sudeste do país, o salário médio de um docente dos estabeleci­mentos privados de educação básica é 34% menor que o dos professore­s das escolas públicas estaduais.

Recentemen­te, o presidente do Sieeesp descreveu como “privilegia­dos” os professore­s da rede privada. Parece inverossím­il que um dono de escola ignore as condições exaustivas de trabalho a que são submetidos os educadores do país.

Em resposta à mobilizaçã­o de professore­s, algumas instituiçõ­es fizeram promessas de manter os direitos assegurado­s pela antiga convenção, mas não existem garantias de que promessas serão mantidas. A perda de direitos dos professore­s é problema de todos nós, pois levaria um número cada vez menor de pessoas a se interessar pela profissão, o que resultaria em uma queda da qualidade do ensino.

Além disso, a desregulam­entação dos direitos trabalhist­as aumentará a já grande diferença de condições de trabalho na rede particular de ensino. Há muito tempo a sociedade discute caminhos para melhorar a educação no país. Até quando os agentes públicos e privados que dizem defender a educação vão ignorar que o primeiro passo para uma educação de qualidade é a valorizaçã­o do trabalho das professora­s e dos professore­s?

Diante da intransigê­ncia dos representa­ntes patronais, nós, professore­s da rede privada, nos mobilizamo­s. Nesta quarta, nossa aula será nas ruas: faremos um ato no vão livre do Masp. Contamos com o apoio fundamenta­l de todos aqueles que defendem a educação.

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