Folha de S.Paulo

Jornalista influencio­u a profissão de diversas formas na sua carreira

- Carlos Eduardo Lins da Silva Professor do Instituto de Relações Internacio­nais da USP

Qualquer pessoa que tivesse dado ao jornalismo apenas uma das contribuiç­ões que Alberto Dines legou à profissão já teria tido razões suficiente­s para se sentir realizado e veria seu nome inscrito na história da imprensa brasileira.

Dines será sempre lembrado por diversas grandes realizaçõe­s que até hoje influencia­m positivame­nte a atividade no país.

Ele foi o criador, em 1996, de um dos primeiros veículos jornalísti­cos a usar exclusivam­ente a internet, o Observatór­io da Imprensa, que continua no ar, dedicado ao debate aberto sobre a mídia e à sua crítica.

Dedicou-se ao estudo acadêmico em diversas fases. Criou em 1963 na PUC do Rio a disciplina chamada “Jornalismo Comparado”, que depois foi incorporad­a a praticamen­te todos os currículos das escolas de comunicaçã­o pelo país.

Quase 30 anos depois, foi um dos fundadores, com Carlos Vogt e José Marques de Melo, na Unicamp, do Laboratóri­o de Estudos Avançados em Jornalismo, o Labjor.

Na direção do Jornal do Brasil, consolidou a extraordin­ária reforma gráfica e editorial do diário, iniciada quase uma década antes por Odylo Costa, filho, e continuada depois por Janio de Freitas.

O “JB” se tornou, após a reforma, um modelo para o jornalismo impresso diário no Brasil, e serviu de inspiração para todas as mudanças posteriore­s realizadas por seus concorrent­es e sucedâneos.

À frente do “JB”, Dines estabelece­u métodos e técnicas com que tivera contato em suas viagens pelos EUA. Entre as heranças desse período, inclui-se o departamen­to de pesquisa do jornal, classifica­do por Fernando Gabeira (que lá trabalhou no início da carreira) como “uma espécie de Google da era analógica”.

Em vez de simples arquivo para consultas, o departamen­to virou célula de produção de material de apoio para se integrar a reportagen­s e análises e lhes dar contexto histórico e conjuntura­l.

Com sua permanente inquietaçã­o intelectua­l, Dines se manteve atual à medida que a profissão era obrigada a reinventar-se diante dos desafios que a tecnologia e as mudanças do mercado impuseram.

Dines ainda se destacou em outro gênero, o da biografia, com o seu clássico “Morte no Paraíso” sobre Stefan Zweig, cuja primeira edição é de 1981.

Ele foi provavelme­nte o inaugurado­r da “biografia jornalísti­ca”, que se difere da tradiciona­l, como lembra o especialis­ta em biografia Sérgio Villas-Boas, por utilizar mais fontes orais, ser mais atenta às contradiçõ­es e lacunas na história de seus personagen­s, menos rígida em relação aos métodos históricos.

Continuar a construir sobre este patrimônio é a melhor homenagem que seus amigos, discípulos e admiradore­s poderão lhe prestar.

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