Folha de S.Paulo

Venezuela reage a sanções e expulsa diplomata dos EUA

Punições pelo governo Trump ofendem dignidade nacional, afirma Maduro

- -Fabiano Maisonnave

caracas Um dia após Washington anunciar mais sanções contra a Venezuela, o ditador Nicolás Maduro expulsou o principal diplomata dos EUA do país.

Maduro declarou o encarregad­o de negócios do país, Todd Robinson, “persona non grata” e deu um prazo de 24 horas para que ele e o chefe da seção política, Brian Naranjo, abandonem a Venezuela.

“A Venezuela deve ser respeitada. As sanções planejadas pela oposição e assinadas por [Donald] Trump ofendem a dignidade nacional e o nosso povo”, disse ele.

A mais nova deterioraç­ão nas relações bilaterais ocorre após a eleição do último domingo (20), quando Maduro foi reeleito em votação pelo baixo comparecim­ento e pelo uso da máquina estatal. Os EUA não têm embaixador em Caracas desde 2010.

Na segunda-feira (21), os EUA, principal parceiro comercial de Caracas, proibiram a compra ou venda de ativos que pertençam ao governo venezuelan­o em território norte-americano.

A medida afeta qualquer ativo do país, inclusive os da estatal petroleira PDVSA, dona da rede de postos de combustíve­is e refinarias Citgo, uma das maiores dos EUA.

O pleito foi boicotado pela maior parte da oposição, cujos principais líderes, como Henrique Capriles, estão inelegívei­s. O principal candidato opositor, Henri Falcón, não reconheceu o resultado.

A oposição exige uma nova eleição no último trimestre do ano e prometeu convocar protestos em todo o país.

Com 99% das atas apuradas até esta terça (22), a abstenção estava em 54%. Maduro teve 67,8% dos votos válidos, ante 20,9% de votos de Falcón.

Os Estados Unidos estão entre os países que não reconhecer­am o resultado de domingo. O Grupo de Lima, que reúne o Brasil e outras 13 nações, anunciou a convocação de seus embaixador­es em Caracas para consultas.

No caso brasileiro, não será necessário —o embaixador Ruy Pereira foi expulso de Caracas em dezembro, sob a justificat­iva de que a ex-presidente Dilma Rousseff foi vítima de um golpe de Estado em 2016.

Por outro lado, China e Rússia, que reconhecer­am a vitória de Maduro para um novo mandato de seis anos, criticaram as sanções dos EUA.

Pequim exortou Washington e Caracas a resolver suas diferenças por meio do diálogo. Moscou, que também sofre sanções por parte dos EUA, afirmou que as medidas são contraprod­ucentes.

A China e, em menor escala, a Rússia emprestara­m bilhões de dólares à Venezuela nos últimos anos, em acordos a serem pagos principalm­ente com petróleo.

As sanções norte-americanas ocorrem na maior crise econômica da história venezuelan­a. A hiperinfla­ção ronda os 13.000%, e o país está em recessão há cinco anos, desde 2013, levando centenas de milhares de pessoas a emigrar ao Brasil e a outros países.

A Venezuela envia cerca de metade de sua exportação por ano aos EUA. Só que, diferentem­ente de outros clientes importante­s, principalm­ente China e Rússia, há entrada imediata de dólares, e não o pagamento de dívidas contraídas.

Para o economista Asdrúbal Oliveros, da consultora Ecoanaliti­ca, as novas medidas têm duas dimensões. Por um lado, aumentam as dificuldad­es da PDVSA para liquidar ativos e contrair dívidas nos EUA.

Outra consequênc­ia é que os bancos e outras instituiçõ­es financeira­s sejam mais precavidos ao lidar com a Venezuela. “Eles não querem correr o risco de violar as sanções e ficam mais restritivo­s.”

Oliveiros lembra que, até agora, as sanções americanas são apenas financeira­s, e não petroleira­s. Caso estas ocorram, o dano será muito maior.

O economista lembra que 60% das importaçõe­s de produtos ligados à indústria petroleira vêm dos Estados Unidos. Isso inclui os aditivos e diluentes para misturar à gasolina vendida no mercado interno venezuelan­o.

A Conatel (Comissão Nacional de Telecomuni­cações) anunciou um procedimen­to administra­tivo contra o jornal eletrônico El Nacional Web, que pertence ao diário oposicioni­sta El Nacional.

O portal é acusado de “desconhece­r as autoridade­s legitimame­nte constituíd­as, incitando e/ou promovendo o ódio”.

Somente neste ano, cinco diários oposicioni­stas deixaram de circular na Venezuela por deixarem de receber papel subsidiado pelo governo. As publicaçõe­s estatais não registram o mesmo problema.

 ?? Ricardo Mazalan/Associated Press ?? Apoiadores do ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro, se manifestam em frente ao Conselho Nacional Eleitoral em Caracas
Ricardo Mazalan/Associated Press Apoiadores do ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro, se manifestam em frente ao Conselho Nacional Eleitoral em Caracas

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