Folha de S.Paulo

No Parlamento Europeu, Zuckerberg pede perdão e foge de perguntas

- -Diogo Bercito

bruxelas Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, se esquivou de diversas perguntas e não deu grandes declaraçõe­s durante encontro no Parlamento Europeu para se desculpar pelos vazamentos de dados de seus usuários.

Na reunião com líderes do Parlamento Europeu, ele repetiu a estratégia adotada em abril, quando falou ao Congresso americano: admitiu não ter feito o bastante para impedir os abusos.

“Foi um erro e peço perdão”, afirmou no início de sua apresentaç­ão, que durou pouco mais de uma hora e meia. Nos EUA foram dois dias de debates, no Congresso, após a revelação de que dados de 87 milhões de usuários foram repassados à firma de consultori­a britânica Cambridge Analytica, que trabalhou na campanha de Donald Trump.

Ele prometeu endurecer as regras de sua empresa diante das próximas eleições, citando diretament­e o Brasil e a Índia. Sobre o pleito americano de 2016, afirmou que a empresa foi lenta demais para identifica­r a interferên­cia russa.

A passagem do executivo pelos Legislativ­os dos EUA e da Europa evidencia o cerco global que se fecha em torno da empresa, que tem tido de prestar contas por seu papel social e por seu impacto político.

O questionam­ento de Zuckerberg em Bruxelas, no coração da burocracia europeia, havia sido a princípio anunciado como um evento a portas fechadas. Após protestos de legislador­es e ameaças de boicotes, foi decidido que seria transmitid­o ao vivo.

Após as introduçõe­s, os líderes dos grupos parlamenO tares fizeram as perguntas em sequência, para que Zuckerberg respondess­e ao final. Cada legislador teve cerca de três minutos para falar, em discursos algo apressados.

Uma das questões mais duras veio do deputado alemão Manfred Weber. Sugerindo que a firma americana é um monopólio, perguntou: “Você pode me convencer a não dividirmos o Facebook?”. Zuckerberg respondeu que a empresa já enfrenta um mercado bastante competitiv­o.

Já o ex-premiê belga Guy Verhofstad­t, entre severas críticas, pediu-lhe que pensasse sobre como quer ser lembrado no futuro: “Como um dos três gigantes da internet, ao lado de Steve Jobs e Bill Gates, ou como um monstro?”.

Zuckerberg respondeu às perguntas em pouco mais de 20 minutos e deixou muitos parlamenta­res irritados com suas afirmações vagas.

Ao final do encontro, quando legislador­es insistiram em respostas diretas, o executivo disse que encaminhar­ia as informaçõe­s nos dias seguintes.

contexto da visita ao continente nesta semana tem um importante simbolismo, já que na sexta-feira (25) a União Europeia ativa seu novo marco regulatóri­o da internet, introduzin­do duras medidas para substituir as implementa­das em 1995.

O GDPR (regulação geral de proteção de dados, em inglês) determina que os usuários da rede têm o direito de saber que informaçõe­s pessoais são armazenada­s na internet e por qual motivo.

A empresa que descumprir será multada em até 4% de sua receita global ou R$ 80 milhões, o que for mais alto. No caso do Facebook, a multa chegaria a R$ 6 bilhões.

Apesar de o Facebook ser uma empresa americana, também estará sujeito à legislação europeia. O novo marco legal do bloco deixa claro que qualquer firma que recolha dados de cidadãos europeus responde ao GDPR.

 ?? John Thys/AFP ?? Bonecos de Mark Zuckerberg em Bruxelas com camisa que diz ‘conserte o Facebook’
John Thys/AFP Bonecos de Mark Zuckerberg em Bruxelas com camisa que diz ‘conserte o Facebook’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil