Desconfiança de parte a parte é lógica para ambos os líderes
são paulo Donald Trump e Kim Jong-un estão se testando. Diferentemente do que ocorreu em 2017, contudo, o cabo de guerra por ora não envolve explosões nucleares ou exercícios militares, e sim uma mais comedida diplomacia.
No centro de tudo, o fato de que nenhum dos dois lados é exatamente confiável.
Os norte-coreanos utilizam tradicionalmente a ambiguidade em suas negociações. Foi assim que engambelaram os americanos durante metade dos anos 1990 e aceleraram seu programa nuclear.
Já os EUA não têm um histórico melhor. Quando John Bolton, o belicoso assessor de Segurança Nacional de Trump, citou o “caso Líbia” para falar sobre a conversa com a Coreia do Norte, não poderia ter cometido melhor “sincericídio”.
As armas nucleares e os meios de empregá-las são a única garantia que Kim tem de que seu regime aberrante, um misto de stalinismo com absolutismo dinástico, vá sobreviver. O próprio conceito do que é uma península desnuclearizada é dúbio.
O ditador líbio, Muammar Gaddafi, também recebeu as tais fortes garantias citadas por Trump quando topou abandonar seu programa nuclear e fazer negócios com EUA e Europa. Acabou seviciado e morto em uma vala.
Assim, Kim não está desprovido de razão, tendo em vista seus interesses. Suas críticas na semana passada serviram para isolar um pouco Bolton.
Outros elementos estão na mesa. Trump afirmou ter percebido uma “pequena mudança” na disposição pacifista de Kim após seu segundo encontro com o líder chinês, Xi Jinping, no começo deste mês.
O recado foi claro a Pequim, que já havia passado 2017 sob pressão de Washington para tentar dobrar Pyongyang.
A ditadura de Xi não morre de amores pela sua irmã menor no norte da península Coreana, mas estrategicamente quer que ela fique lá separando suas fronteiras de tropas capitalistas do Sul e de 30 mil soldados americanos.
Com a guerra comercial ora debatida entre americanos e chineses, a boa vontade de Xi parece não ser das maiores.