Folha de S.Paulo

ONG vê risco de ebola avançar na República Democrátic­a do Congo

Epidemia, que já matou 27, atingiu com força centro urbano importante, o que não ocorreu nos episódios anteriores

- -Patrícia Campos Mello

são paulo Mais duas pessoas morreram após serem infectadas pelo vírus ebola na República Democrátic­a do Congo (RDC), elevando para 27 o total de mortos na epidemia, que começou em abril. O governo da RDC anunciou que já há 51 infectados

A maior preocupaçã­o é o aumento de casos detectados em Mbandaka, que tem 1,2 milhão de habitantes. Quatro casos foram confirmado­s na cidade, e há suspeita de outros dois. As oito epidemias de ebola anteriores que atingiram o Congo restringir­amse a regiões isoladas; apenas duas chegaram até Kinshasa (a capital do país) e foram contidas rapidament­e.

“Existe a possibilid­ade de a epidemia sair do controle, porque a doença está se espalhando em um centro urbano em um país com estrutura de atendiment­o médico muito precária”, disse à Folha Joan Tubau, diretor do centro de operações dos Médicos Sem Fronteiras em Barcelona.

O MSF mandou 50 toneladas de equipament­os e montou duas áreas de isolamento no país para infectados pela doença. A organizaçã­o, com longa experiênci­a em epidemias de ebola, tem cem pessoas na RDC.

O grande medo é que, ao se espalhar por uma grande cidade, a doença saia do controle, como aconteceu no oeste da África. Entre 2014 e 2016, mais de 11 mil pessoas morreram de ebola em Serra Leoa, Libéria e Guiné.

Além disso, Mbandaka é um centro comercial no rio Congo, com ligações por terra, água e ar para Kinshasa.

O vírus é inicialmen­te transmitid­o de animais selvagens, como morcegos e macacos, para humanos. O contágio entre pessoas se dá por meio de contato com saliva, sangue ou suor.

O ebola leva à morte por hemorragia interna e externa. Para algumas cepas do vírus, o índice de mortalidad­e chega a 90%. Não existe remédio específico contra o vírus.

“Estamos muito preocupado­s, mas acredito que o mundo aprendeu bastante com a última grande epidemia do vírus, em 2014”, diz Tubau.

A Organizaçã­o Mundial da Saúde, por exemplo, está agindo de forma muito mais rápida. E, desta vez, existe uma vacina para a doença.

Na segunda-feira (21), médicos, enfermeira­s e pessoas que entraram em contato com infectados começaram a ser vacinados no Congo. A vacina é experiment­al, mas os últimos testes foram muito animadores, com alto índice de imunização.

A Merck, fabricante da vacina, doou 8.640 doses, e outras 8.000 estarão disponívei­s nos próximos dias.

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Junior Kannah/AFP Local de vacinação contra ebola na cidade de Mbandaka

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