Folha de S.Paulo

Odebrecht corre para fechar acordo com bancos

Itaú e Bradesco devem emprestar R$ 2,6 bilhões; empresa precisa quitar dívida de R$ 500 milhões na sexta-feira (25)

- -Raquel Landim

são paulo Um batalhão de advogados, assessores financeiro­s e representa­ntes dos maiores bancos do país se reuniu na noite desta terça-feira (22) para tentar fechar um novo empréstimo para a Odebrecht. A expectativ­a é que os termos do acordo sejam selados nesta quarta-feira (23).

Se tudo der certo, Itaú e Bradesco vão emprestar mais R$ 2,6 bilhões ao grupo, divididos em duas parcelas —R$ 1,7 bilhão e R$ 900 milhões.

Os recursos são fundamenta­is para evitar que o braço de construção da Odebrecht seja declarado inadimplen­te.

No fim do mês passado, a OEC (Odebrecht Engenharia e Construção) não pagou uma dívida de R$ 500 milhões de seus títulos no exterior e tem prazo até sexta-feira (25) para quitar o débito e evitar o default —o chamado “período de cura”.

O empréstimo, no entanto, é bem superior a esse valor porque o grupo precisa de cerca de R$ 4 bilhões para pagar dívidas de curto prazo.

Parte desse valor virá do novo financiame­nto, e outra parcela, da venda de ativos, como a Supervia, concession­ária de trens no Rio de Janeiro.

A construtor­a necessita também de R$ 500 milhões para outras pendências, enquanto a OTP (área de concessões) precisa de R$ 1,5 bilhão, e obras feitas no Peru, de outros R$ 1,5 bilhão.

A Odebrecht enfrenta uma grave crise desde que a Operação Lava Jato revelou seu esquema de pagamento de propina a políticos. O grupo foi obrigado a renegociar débitos e a desistir de negócios.

Por causa do escândalo, a construtor­a vem tendo dificuldad­es para conseguir novas obras, o que compromete­u o seu fluxo de caixa e dificultou o pagamento de dívidas. A empresa só conseguiu vencer a primeira licitação pós-Lava Jato —a modernizaç­ão de uma usina termelétri­ca de Furnas— em março.

Até a noite desta terça, os advogados corriam contra o tempo para obter os avais e registros necessário­s para liberar as garantias, incluindo da CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s). As garantias são ações da Braskem, uma empresa saudável.

Os termos são complexos porque os papéis da petroquími­ca já haviam sido oferecidos como garantia em um outro empréstimo, de R$ 7 bilhões, feito pelos bancos credores quando a crise bateu às portas do grupo. Só foi possível fazer uma nova operação porque os papéis se valorizara­m expressiva­mente.

Apenas Itaú e Bradesco aceitaram entrar com mais dinheiro novo, mas Banco do Brasil, Caixa, Santander e BNDES também precisavam concordar com os termos.

A negociação emperrou porque o Banco do Brasil resistia a ceder o primeiro lugar da fila, em um eventual default. Segundo uma fonte, os bancos e a empresa finalmente chegaram a uma fórmula que acomodasse todos os interesses.

Os bancos estão empenhados em salvar a Odebrecht por terem muito a perder se o conglomera­do entrar em recuperaçã­o judicial. O grupo deve cerca de R$ 47 bilhões —valor que teria de ser provisiona­do nos balanços dos bancos, reduzindo seu lucro.

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