Folha de S.Paulo

Com humor, produção online revive ‘Karatê Kid’ para a geração digital

- -Marco Aurélio Canônico

rio de janeiro Quem assistiu a “Karatê Kid” (1984) —e quem não?— deve se lembrar de um momento da luta final em que o playboy loiro Johnny Lawrence, antagonist­a do bom-moço Daniel LaRusso, mostra um traço de decência que não havia aparecido até então.

É quando seu mestre lhe pede que dê um golpe irregular na já ferida perna de seu adversário; Lawrence entende a deslealdad­e do pedido e titubeia, mas cede à pressão. Acaba perdendo a luta, e termina o filme reconhecen­do o mérito do oponente.

É esse personagem mais complexo, menos unidimensi­onal, que protagoniz­a “Cobra Kai”, série de dez episódios criada pelo YOUTUBE e lançada neste mês —os dois primeiros estão disponívei­s gratuitame­nte, os demais são pagos.

Ela retoma a história da rivalidade entre Lawrence (William Zabka) e LaRusso (Ralph Macchio) 34 anos depois do primeiro filme, usando

Ainda que por vezes soe simplória e previsível, ‘Cobra Kai’ traz em si a receita do sucesso do longa de 1984 (não por acaso, vem repetindo tal sucesso): é divertida, bemintenci­onada e cheia de gente pela qual dá vontade de torcer

os atores originais (também coprodutor­es-executivos) e várias referência­s ao passado.

Após aquela fatídica luta no torneio de caratê juvenil, o loiro marrento e boa-pinta se tornou um fracassado em todos os aspectos.

Vive de bicos, se embebeda, teve um casamento tumultuado do qual resultou um filho abandonado e problemáti­co.

Daniel-san, por outro lado, virou a encarnação do sonho americano: empresário bemsucedid­o, com uma bela casa e uma família feliz. Tudo isso por conservar em si as lições de vida do sr. Miyagi (o já morto Pat Morita, que só aparece em flashbacks).

Após um reencontro fortuito dos dois e um incidente que reencena outro mostrado em “Karatê Kid”, Lawrence decide reabrir a escola de luta em que se criou, a Cobra Kai.

Essa atitude gera reação de LaRusso, que também resgata seu caratê e arranja um novo pupilo. Cada um a seu modo, os dois lutadores tornam-se reflexos dos professore­s que tiveram.

Ao longo dos episódios, pipocam inúmeras referência­s aos filmes originais: desde flashbacks de cenas famosas até a repetição de acontecime­ntos do passado, revividos pelos adolescent­es da trama.

Há também boas sacadas, como quando Johnny reconta, a partir de sua perspectiv­a, os incidentes do primeiro “Karatê Kid” —em sua narrativa, o filme se transforma numa história de amor perdido, na qual Daniel é o vilão.

Por fim, há muito humor —em boa parte vindo do choque de gerações entre os senseis coroas e os adolescent­es com quem se relacionam. E, é claro, um golpe novo da cartilha acrobática e infalível do sr. Miyagi.

Ainda que por vezes soe simplória e previsível, “Cobra Kai” traz em si a receita do sucesso do longa de 1984 (não por acaso, vem repetindo tal sucesso): é divertida, bem-intenciona­da e cheia de gente pela qual dá vontade de torcer. Eu era atriz, era camaleoa, ainda não tinha uma voz muito sólida. Hoje me conheço mais, sei sobre o que quero falar”, contou à Folha.

“Foi um lugar difícil de crescer. Jogavam água em mim, papel molhado. Era uma fraternida­de, os caras queriam que você provasse que tinha coragem e merecia de estar lá. Tinha que ser durona.”

Seu assunto preferido é sexo, mas sem chocar. “Gosto de causar aquele desconfort­o, falo de coisas que todo mundo faz e ninguém admite”, disse.

Ela conta que, em 2017, trabalhou 37 finais de semana abrindo para os comediante­s Bill Burr, Kevin Nealon e Bobby Lee, em diversas cidades dos EUA.

Também gravou dois episódios da quarta temporada de “Life in Pieces”, série para a qual fez testes cinco anos atrás. “É o que dizem: Hollywood é uma maratona, não um sprint [corrida de alta velocidade em curta distância].”

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