Folha de S.Paulo

Coisas da bagunça

Greve de caminhonei­ros e seus efeitos são problemas de governo

- Janio de Freitas Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha DSTQQ S | Demétrio Magnoli

Os caminhonei­ros param um país parado. Sua greve atinge o que ainda respira, aos estertores, no dia a dia do país. A lenga-lenga da retomada de cresciment­o, propagada por uma articulaçã­o entre temerosos das eleições e economista­s do bolsão neoliberal, já ruíra sob o jorro dos números mais ou menos reais. Como o do desemprego crescente e o da produção industrial em coma.

Greve de caminhonei­ros e seus efeitos são problemas de

S governo. Este, por sua vez, dotado de todos os meios para encaminhar soluções. Eis o que de fato aconteceu: não o governo, mas os presidente­s da Câmara e do Senado tomaram a iniciativa de pensar em resoluções que, se capazes de dissolver a greve, ambos fariam aprovar nas respectiva­s Casas. Presidênci­a, ministério­s, Petrobras, trocavam mensagens, marcavam reuniões para o dia seguinte, contrapunh­am-se em hipóteses e rejeições.

O governo que não chegou a governar proclamou sua inexistênc­ia. Temer, o perplexo, fez renúncia branca, com a admitida passagem da responsabi­lidade do Executivo para o Legislativ­o. Não foi melhor nem pior para o país, porque, embora melhor que a omissão, foi mais um avanço na bagunça institucio­nal. Como os anteriores, prenúncio de outros.

Mas o passo de Rodrigo Maia e Eunício Oliveira pede cautela na apreciação. Mesmo como resposta devida, e não dada pelo governo, à situação de emergência, é duvidoso que não o inspirasse (também) outra motivação: o proveito eleitoral.

Um, imaginado candidato à Presidênci­a; o outro, já concorrend­o ao governo do Ceará. As TVs deram-lhes o ganho, entre grevistas e em mais partes do eleitorado, por sua atitude. São desnecessá­rias sondagens para saber-se o que Temer recebeu.

Nada muito diferente do que,

Elio Gaspari, Janio de Freitas | Celso Rocha de Barros | Joel Pinheiro da Fonseca | Elio Gaspari | Janio de Freitas |

se lembrado, coube a Henrique Meirelles, agora candidato oficioso do desistente Temer e, até prova contrária, futuro candidato do MDB. O que dá certa força a tal possibilid­ade é a disposição de Meirelles de pagar sua campanha, deixando a parte que a ela caberia, no Fundo Eleitoral e no MDB, aos candidatos em geral do partido. A cenoura pendente diante do burrico. Mas não só.

A doação da dinheirama ameaça Meirelles de ser mais candidato à cristianiz­ação do que à Presidênci­a. Cristianiz­ado, no jargão político, é o candidato que, como Cristiano Machado, se vê sucumbido pela adesão dos correligio­nários, com a bênção do partido, a outro candidato.

No caso original, o apoio eficaz e indeclarad­o foi dos políticos do então PSD, de Cristiano,

Reinaldo Azevedo ao favorito e vencedor Getúlio. Engordar os bolsos da campanha e os próprios com a parte alheia não exige acompanhar o doador para o fundo. E, se ele for bem, é só desarmar a traição e viver o pequeno constrangi­mento de passar por leal.

A autoria

É muito boa a notícia, dada nos “Diálogos Transforma­dores” da Folha, de que cisternas se confirmam como alternativ­a eficiente para 1,2 milhão de famílias atingidas pela seca no Nordeste.

Mas não custa lembrar que se deve à então ministra Tereza Campello —um caso de alta competênci­a no governo Dilma— a distribuiç­ão de cerca de 1 milhão de cisternas. Sem nem sequer um episódio escandalos­o, por mínimo que fosse.

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