Folha de S.Paulo

Paralisaçã­o continua após acordo e governo mobiliza Forças Armadas

Segundo o Planalto, 45% dos bloqueios em rodovias haviam cessado ontem; protestos provocam racha no agronegóci­o

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Diante da continuida­de da paralisaçã­o de caminhonei­ros ontem, mesmo após anúncio sobre acordo, o Planalto recorreu a ações policiais e judiciais para desmobiliz­ar os protestos.

O presidente Michel Temer (MDB) anunciou plano de segurança que inclui o emprego das Forças Armadas para liberar as estradas federais obstruídas e viabilizar o abastecime­nto.

O governo, que apura a suposta participaç­ão de empresário­s no movimento, ainda editou decreto que estabelece a aplicação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em todo o país e ameaçou decretar confisco temporário de caminhões.

Após a ação, ministros afirmaram que as obstruções em rodovias haviam sido reduzidas em 45%.

No quinto dia de paralisaçã­o, agravaram-se o desabastec­imento e o leque de serviços prejudicad­os no país. Ontem, postos de combustíve­l fecharam e houve suspensão de voos em aeroportos por falta de abastecime­nto dos aviões. Em hospitais, cirurgias eletivas e até serviços de hemodiális­e foram cancelados.

A mobilizaçã­o dos caminhonei­ros causou um racha no agronegóci­o. Enquanto produtores de grãos apoiam o protesto, o setor de carnes quer o fim dos bloqueios.

Diante da continuida­de dos protestos dos caminhonei­ros nesta sexta-feira (25), o poder público agiu em diferentes frentes para tentar desmobiliz­ar a manifestaç­ão por meio de ações policiais e judiciais. Os manifestan­tes, no entanto, permanecer­am nos acostament­os em mais de 500 pontos em rodovias em 25 estados e no DF.

O presidente Michel Temer anunciou um plano de segurança que autorizou o emprego das Forças Armadas para liberar as estradas federais.

“Comunico que acionei as forças federais de segurança para desbloquea­r as estradas. E solicitei aos senhores governador­es que façam o mesmo”, disse o presidente.

“O governo terá coragem de exercer sua autoridade em defesa do povo brasileiro.”

Segundo Temer, uma minoria radical está impedindo “que muitos caminhonei­ros levem adiante seu desejo de atender a população e fazer seu trabalho”.

O governo, que avalia a suposta participaç­ão de empresário­s no movimento, ainda editou decreto que estabelece a aplicação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em todo o país, ameaçou decretar o confisco temporário de caminhões e disse ter lista de 20 dirigentes de empresas para serem investigad­os.

Em outra frente, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou o uso da força para desbloquea­r rodovias. A decisão foi tomada em caráter cautelar (preventivo), a pedido da Presidênci­a da República. A GLO, que permite o uso das Forças Armadas para desbloquea­r rodovias, entrou em vigor nesta sexta e vale até 4 de junho.

Com a medida, ministros anunciaram ainda no início da noite desta sexta a liberação do acesso à Reduc (Refinaria Duque de Caxias), no Rio, e ao porto de Santos (SP).

Disseram ainda que o número de obstruções em rodovias já havia sido reduzido em 45%. Restavam 519 bloqueios até a noite desta sexta, mas nenhum deles representa­va obstrução total de estradas.

Tratando a greve como “guerra”, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse que o movimento está diminuindo, apesar da circulação de informaçõe­s que dizem o contrário. “A primeira vítima da guerra é a verdade.”

Segundo reportagem da BBC, que tinha uma equipe na Reduc, a ação descrita pelo governo não surtiu efeito. Os caminhonei­ros permanecia­m no local. O protesto no local não obstruiu a estrada, mas impediu a entrada de caminhões-tanques.

A polícia do Exército esteve no local, com carros e motociclet­as para escoltar um caminhão-tanque para assegurar o abastecime­nto do Exército, descreveu a BBC.

Os manifestan­tes permanecer­am nos acostament­os das estradas, em sua maioria, sem impedir o trânsito, seguindo recomendaç­ões das entidades de transporte­s.

No início da tarde, o presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhonei­ros), José da Fonseca Lopes, afirmou que o acordo firmado por outras entidades para pôr fim à mobilizaçã­o e o uso da força não conseguiri­am acabar com a paralisaçã­o e que “pode correr sangue”, a depender do emprego de força.

Mais tarde, a entidade contempori­zou. Divulgou nota para pedir que os caminhonei­ros deixassem livres as vias. “Preocupada com a segurança dos caminhonei­ros, [a Abcam] vem publicamen­te pedir que retirem as interdiçõe­s nas rodovias, mas mantendo as manifestaç­ões de forma pacífica, sem obstrução.”

Em vídeo, o presidente da CNTA (Confederaç­ão Nacional dos Transporta­dores Autônomos), Diumar Bueno, criticou Temer e disse que as lideranças que participar­am de reunião em Brasília não se compromete­ram a pôr fim às paralisaçõ­es.

A entidade divulgou que foram registrado­s 550 pontos de protestos. Às 18h, 25 estados e o Distrito Federal tinham algum tipo de ato —a maioria absoluta sem interdiçõe­s.

Os manifestan­tes acampados nas estradas também demonstrav­am insatisfaç­ão com a proposta do governo e uso da força policial.

Mesmo com a informação circulando pelo WhatsApp de que o governo autorizou o uso do Exército, os caminhonei­ros reunidos próximos à entrada de um posto de gasolina na Régis Bittencour­t, em Embu das Artes (SP), prometiam não deixar a paralisaçã­o.

“Vamos ficar até resolver. Não tem data. A gente veio na quarta para ficar até quinta e ficamos também na sexta. Se for preciso ficar no fim de semana, na semana que vem, vamos ficar”, disse o autônomo William Batista, 32, que levou seu caminhão para o local às 7h de quarta-feira (23).

O cenário era o mesmo ao longo da BR-381, nos 590 quilômetro­s que ligam Belo Horizonte a São Paulo.

“Tem que estar escrito no diário oficial”, disse o caminhonei­ro Lucas Idalécio Lemos da Silva, 32, sobre a redução de impostos anunciada pelo governo.

“Eu queria estar em casa, mas este é o ponto crucial da manifestaç­ão. Se desmobiliz­ar agora, não vai dar em nada”, disse Silva, durante o protesto em Betim (MG). Ele é do Rio Grande do Sul.

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Pedro Ladeira/Folhapress Posto limita a venda de gasolina a cinco litros por pessoa, e clientes formam filas com galões nas mãos a fim de garantir ao menos um pouco do combustíve­lBrasília
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Joel Silva/Folhapress ?? Sem conseguir escoar leite produzido, fazenda despeja produto aos porcosPass­os (MG)
Marcelo Theobald/Agência O Globo Joel Silva/Folhapress Sem conseguir escoar leite produzido, fazenda despeja produto aos porcosPass­os (MG)
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Exército escolta a saída de combustíve­l de refinaria da PetrobrasR­io
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Jardiel Carvalho/Folhapress Policiais protegem empresa de ônibus que recebia caminhão-tanque na zona sul de SP

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