Folha de S.Paulo

Liverpool e Real Madrid decidem a Liga dos Campeões

- LC

kiev No dia 9 de outubro de 2015, o alemão Jürgen Klopp sentou-se na sala de entrevista­s do Liverpool para falar pela primeira vez como treinador do clube inglês. Parecia estar deslumbrad­o.

Nascido em Stuttgart, o treinador cresceu na minúscula Glatten, cidade do sudoeste da Alemanha que fica na região conhecida como Floresta Negra e que tem pouco mais de 2.000 habitantes.

Disse que sua mãe, de origem humilde, deveria estar assistindo-o naquele momento, “sem entender uma única palavra” (Klopp falava em inglês), mas que mesmo assim estaria orgulhosa.

Um dos jornalista­s então citou o português José Mourinho, que ao chegar à Inglaterra para dirigir o Chelsea, em 2004, julgou-se um treinador especial —tendo ganhado por isso da mídia britânica o rótulo de “O Especial”.

“Eu sou um cara normal. Sou ‘O Normal’”, disse o alemão, que provocou, com seu bom humor e humildade, risos dos jornalista­s.

Klopp pensava em ser campeão, claro. Mas sabia que antes precisava lidar com a falta de confiança dos jogadores.

O alemão valoriza demais as relações humanas, e tem seu lado psicólogo. Adora falar com os atletas, saber como está a vida particular deles. Não tem dúvida de que o rendimento em campo depende do bem-estar pessoal.

Tanto que repreendeu um colega de comissão técnica que desconheci­a que o lateral esquerdo Robertson, um dos reforços do time para a temporada 2017/2018, preparavas­e para ser pai pela primeira vez. “Como você não pode saber disso? É a coisa mais importante na vida dele agora!”

Emotivo, Klopp sofreu na metade de 2017 com o veto do Liverpool à saída de Philippe Coutinho para o Barcelona.

Sabia que o brasileiro estava triste porque o impediam de realizar um sonho. Soube, contudo, administra­r a situação. Reintegrou Coutinho, que estava em litígio com a diretoria, fazendo-o manter o foco em Liverpool.

O brasileiro rendeu e, com cinco gols em cinco jogos, ajudou o time a avançar às oitavas da Liga dos Campeões.

Em janeiro, diante de uma oferta do Barcelona de € 120 milhões (R$ 511 milhões), o Liverpool cedeu e Coutinho foi para a Espanha.

Coube a Klopp, então, três papéis: o de motivador, o de bom investidor no mercado de transferên­cias, e o de estrategis­ta.

Convenceu seus atletas de que a equipe era forte mesmo sem Coutinho. Incorporou o zagueiro holandês Van Dijk por € 85 milhões (R$ 362 milhões) e mudou a forma da equipe jogar, fazendo com que Firmino recuasse mais para participar da construção das jogadas, papel que herdou após Coutinho ir embora.

Sua paixão e seu envolvimen­to são genuínos e intensos. Gestos, gritos, pulos. Vibração contagiant­e. O oposto de Zidane, mais frio.

No Liverpool, seu contrato vai até 2022. A direção do clube acredita que Klopp seja o caminho para a volta dos troféus, que ainda não vieram.

E o que fez até agora é suficiente para superar o Real?

Há essa expectativ­a na Inglaterra. No entanto, mesmo que o título não venha, Klopp deverá manter o seu prestígio e terá uma nova chance de chegar ao topo.

Pois, querendo ou não, em Liverpool ele já é muito mais do que apenas um cara normal. É especial.

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